O tempo se arrastou até o meio dia do dia seguinte. Lan Zhan estava tão nervoso que chegou cedo demais, aquele momento seria um fim definitivo ou um recomeço? Enquanto sua mente não parava de pensar em mil cenários, um homem veio andando manco e lentamente em sua direção, ele usava um conjunto de moletom e o cabelo agora na altura dos ombros, estava preso em um meio rabo com a franja longa e desgrenhada.
-Você chegou cedo. - comentou sentando-se de frente para o outro.
-Desculpe, me perdi um pouco no horário.
-Não precisa se desculpar. - veio uma garçonete perguntar o que eles queriam e ambos pediram macarrão.
-Wei Ying… Como você está? - perguntou apreensivo após o outro ficar em silêncio por tempo demais quando a garçonete saiu.
-Eu não sei, Lan Zhan. Realmente não sei.
-Por que me chamou? Minhas mensagens irritaram você?
-Não, muito pelo contrário. Suas mensagens foram ótimas, eu só te chamei porque devo explicações.
-Não, você não deve nada.
-Claro que devo. - ele estava tão calmo e isso era tão incomum para ele que Lan Zhan estava ficando preocupado - Eu tentei me matar, não consegui e simplesmente me afastei de todos. - o coração alheio estava apertado com aquela conversa - Quero que saiba que você não tem culpa de nada, nem fez nada errado, você sempre foi incrível e sempre me tratou muito bem, com carinho e dedicação. Não teve um só dia em que eu não pensei em você também. Mas não queria te machucar com a minha dor.
-Wei Ying…
-Espera, deixa eu terminar. - o olhar de Lan Zhan suplicava a ele para que não se afastasse novamente - Você é alguém que eu gosto muito, Lan Zhan. Peço desculpas por ter falhado com você por tanto tempo.
-Você não falhou, fez o que seu coração mandou, eu não te culpo de nada.
-Você é uma pessoa muito boa e muito paciente também. Você enxerga o mundo de uma forma muito mais positiva que eu e isso é bom, você é bom.
-Você também é, Wei Ying. - ele pegou uma das mãos alheias entre as suas sobre a mesa.
-Lan Zhan, por que você insiste tanto em mim? Você não consegue ver que só vai se frustrar?
-Eu insisto porque você vale a pena, Wei Ying. Eu quero estar com você para dividir alegrias e fardos, quero cuidar de você e me deixar ser cuidado por você quando for preciso. Eu quero fazer parte da sua família e quero que faça parte da minha.
-Seu tio iria te matar se te ouvisse falando isso.
-O que meu tio pensa, não é problema meu. Deixe-me fazer parte da sua vida, Wei Ying. Esse tempo que fiquei sem você parecia que nada no mundo tinha cor, sabor ou cheiro, tudo perdeu a graça sem você.
-Não pode estar falando sério… Lan Zhan, Lan Zhan… Olhe o problema que você está arrumando para si.
-Já disse que você não é um problema, nem nada que você faça.
Wei Ying não sabia mais o que dizer, Lan Zhan estava ciente de tudo e mesmo assim queria continuar, não havia mais nada a se fazer. Sendo assim, ele apenas aceitou. Iriam reatar aos poucos, por isso ele liberou as visitas do Lan também.
Agora ele almoçava todos os dias com Lan Zhan e passava os finais de tarde com Yuan, fora as visitas corriqueiras dos outros três. Isso, somado ao tratamento, o ajudou a se recuperar mais rápido e depois de três meses internado na ala psiquiátrica, Wei Ying finalmente recebeu alta.
Wen Qing não queria que ele voltasse para casa ainda, desse modo, ele acabou indo para a casa dela, e dividindo quarto com o filho, como a cama de Yuan era uma bicama, o garoto dormia no colchão debaixo e o pai no de cima, os outros adultos da casa mexeram em seus horários de forma que em nenhum momento Wei Ying ficasse sozinho em casa, queriam estar por perto caso outra crise aparecesse.
-Cheguei! - anunciou o garoto entrando em casa, Wei Ying assistia TV no sofá da sala enquanto Wen Ning procurava algo em seu próprio quarto.
-Olá, A-Yuan! Como foi na escola hoje? - perguntou pausando o filme, à medida que o garoto se aproximava, o homem pôde ver um hematoma em sua bochecha - O que foi isso?!
-Ah, eu briguei com um garoto de outra turma.
-E posso saber o motivo?
-Porque ele é idiota! Eu já estava de saco cheio dele. Sempre me infernizando e falando besteira. Aí eu dei uma lição nele!
-Sua mãe vai te matar. - ele levantou do sofá e caminhou até a cozinha, onde preparou uma bolsa de gelo e voltou para a sala - Vem, deita aqui. - ele se sentou e colocou uma almofada no colo, o garoto pôs a cabeça sobre a almofada e o homem colocou a bolsa térmica no hematoma - Me conte mais dessa briga. Quem venceu?
-Eu venci! - os olhos do Wei brilharam de orgulho.
-Esse é meu garoto! - o menino sorriu convencido - Mas por que não me contou que estavam te aporrinhando na escola?
-Ah, você já tem seus próprios problemas, então achei que eu deveria resolver os meus sozinho.
-Você não tá errado em resolver seus problemas, mas sou seu pai e gostaria de saber quando alguém está tratando você mal. Faz muito tempo que ele faz isso?
-Ele entrou na escola no início desse semestre, sempre foi metido a engraçadinho e tira onda de todo mundo para fazer piadas de mau gosto, alguém contou a ele sobre nossa família fora do comum e ele achou que iria me intimidar com isso, mas eu só fiquei com mais raiva!
-O que ele falava sobre nossa família?
-Várias besteiras, não faço questão de lembrar. Eu já resolvi! - ele jamais contaria ao pai tudo que aquele adolescente idiota havia dito.
-Tenho orgulho de você. Mas se acontecer de novo, pode conversar comigo sobre isso, ok? - disse com um singelo sorriso.
-Tá bem.
-Teve mais algum ponto alto no seu dia?
-Esse foi o ápice! - ele riu - O restante foi normal, tive três aulas de matemática seguidas, parecia que não ia acabar nunca.
-Três? Por quê?
-Um dos professores faltou, aí a professora de matemática tinha um horário vago e preencheu o dele. Ela passou vários deveres para casa também.
-Céus… Por que não toma um banho e come antes de fazermos os deveres? Seu tio fez uma sopa que está muito boa.
-Vou tomar banho então! Já volto.
O garoto adentrou o apartamento, o Wei o ouviu falando com o tio e depois fechando a porta que deveria ser a do banheiro. Estar "em casa" era uma sensação diferente, ainda estava tomando os medicamentos e não sabia quando seria liberado para voltar a trabalhar, nem todos os dias eram bons, quando ele sentia que a crise ia aparecer, tomava logo seu SOS e ligava para o psicólogo, ele estava realmente se esforçando para ficar bem, não somente por si próprio, mas principalmente por seu filho, namorado e amigos, as pessoas que mais se importavam com ele.
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Na Mesma Página [concluída]
FanfictionSinopse: Wei Ying e Lan Zhan se conhecem de um jeito pouco convencional e em circunstâncias não muito felizes. Ambos são adultos, com bagagens pesadas para carregar. Um lento relacionamento se desenvolve em meio a várias dificuldades que ambos preci...