Capítulo 11

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Os três Lan e Nie MingJue comiam num silêncio constrangedor até que, surpreendentemente, o mais velho dentre eles resolveu falar:

-Vocês dois vão morar aqui agora? - perguntou referindo-se ao casal.

-Não, só estou passando uns dias aqui até que A-Zhan se adapte à casa nova. - respondeu Lan Huan docemente.

-Você vai deixar seu irmão sozinho aqui? - ele parecia incrédulo.

-Ele sempre morou sozinho. - respondeu como se fosse óbvio, estava confuso sobre o rumo daquela conversa.

-Sim, mas isso foi antes de tudo. Você não pode deixá-lo sozinho nesse estado. Se não quiser morar com ele, a gente contrata alguém.

-Isso não é necessário. - disse Lan Zhan interferindo na conversa, estava ficando incomodado com os dois conversando como se ele não estivesse ali.

-Como não?! Olhe para si mesmo, acha que consegue se virar por conta própria desse jeito?

-Consigo.

-Se você cair no banheiro? Ou se ficar doente? Alguém precisa ficar de olho em você. A-Huan, você disse que iria cuidar disso, se não for, então cuido eu. A-Zhan deveria ir morar comigo.

-Eu não quero morar com o senhor. Nem quero morar com meu irmão. Vocês têm as vidas de vocês e eu tenho a minha. Posso cuidar de mim mesmo.

-Tio, o senhor está sendo capacitista, A-Zhan tem uma casa totalmente funcional para ele e não está mais doente. É muito mais uma questão de costume do que de capacidade de agora em diante. Eu só estou aqui porque ele saiu do hospital ontem e está lidando com uma nova condição de vida, mas em breve vou voltar para casa.

-Ele está confinado a uma cadeira de rodas, Lan Huan! Você não consegue enxergar o quanto isso é terrível? - até MingJue, que evitava falar com o tio do esposo, o encarou descrente naquele momento, assim como os outros dois.

-Eu concordo que é terrível, A-Zhan não merecia ter que passar por isso. Mas já que aconteceu, que tal deixar a experiência menos traumática? Antes da retirada do tumor nós já sabíamos que isso ia acontecer. Por que o senhor está falando essas coisas agora? Deveria estar feliz por seu sobrinho estar vivo.

-Vivo, mas a que custo, não é?

-Preferia que ele tivesse morrido?! - Lan Huan estava perdendo a cabeça.

Naquela altura, ninguém estava mais comendo, o clima era pesado e a comida esfriava nos pratos. Lan Zhan se fartou do assunto, jogou o guardanapo, que estava sobre seu colo, na mesa e deslizou pelo corredor até seu quarto.

-Satisfeito? Seu comentário o fez ficar bravo. - disse o mais velho.

-Ah, meu comentário?!

-Com licença. - o Nie se levantou e saiu da mesa, deixando tio e sobrinho numa discussão acalourada.

Ele não conversava muito com o cunhado, e com certeza não era a pessoa mais indicada para ir consolá-lo naquele momento, mas se ele não fosse, seu marido iria, e a ideia de ficar sozinho à mesa com um Lan QiRen raivoso era muito pior do que a de tentar confortar Lan Zhan.

MingJue deu duas batidas na porta e girou a maçaneta, não estava trancada, então entrou. Seu cunhado estava imóvel olhando pela janela. Agora que estava voltando ao peso normal, Lan Zhan parecia cada vez mais com Lan Huan, mais uma vez. Se ele podia falar qualquer tipo de coisa com seu marido, poderia falar com a cópia dele também, não é?

-Seu tio nunca foi fácil de lidar. - comentou ele sem jeito, fechando a porta atrás de si - Não dá para levá-lo a sério.

-É… - respondeu o Lan sem se virar. Os dois ficaram em silêncio até que mais duas batidas na porta foram ouvidas e logo Huan abriu a abriu, quase se batendo no esposo ao entrar.

-Eu pedi que ele fosse embora. - disse entrando no quarto e indo até o irmão, ele se sentou na cama e girou as rodas da cadeira para que ficassem de frente um para o outro - Não internalize as coisas que ele falou, ok? Ele está preocupado com você e não sabe como demonstrar de uma forma saudável, nós sabemos que você é tão capaz agora quanto era antes. Eu sei, você sabe, A-Jue sabe, todo mundo pode ver isso. O tio também sabe, mas ele tem medo que você possa se machucar ou que algo ruim aconteça novamente e não escolheu as melhores palavras para dizer isso.

-Não precisa dizer nada, eu estou bem.

-A-Zhan, tudo bem não estar bem.

-Ele não foi o primeiro e nem o último a pensar esse tipo de coisa. Eu tenho que me acostumar. - Lan Huan sabia que aquilo não era mentira, de fato, até dentro do hospital ele já havia ouvido pessoas da equipe médica lamentando a nova condição de seu irmão como se ele fosse um leproso na idade média.

Sem ter o que falar a mais, Lan Huan apenas abraçou sua cópia mais nova e acariciou suas costas, como se dissesse que ele estaria ali, para qualquer coisa que o irmão precisasse. O gesto pegou Lan Zhan de surpresa, mas ele abraçou de volta, em agradecimento.

-Que tal se terminarmos de comer em paz agora? - sugeriu Huan.

-Perdi a fome, mas fiquem à vontade. - respondeu o dono da casa. O casal se entreolhou e voltou à cozinha, estava claro que Lan Zhan queria ficar um pouco sozinho, eles iriam respeitar.

O mais novo dos gêmeos pegou o celular e havia várias notificações de mensagem de Wei Ying, ao abrir, foi bombardeado por diversos memes, vídeos engraçados e mensagens do tipo "E aí, como foi com o velho?", "Vim almoçar na casa das sapatonas hoje, a Mian Mian não quis fofocar de você comigo hahaha", "Acredita que o irmão da Qing derrubou o celular na privada enquanto cagava?", apesar do teor das mensagens, que sempre era bobo ou inútil, Lan Zhan gostava de conversar com ele, Wei Ying era divertido, leve, e o entendia bem. Ele não precisava estar o tempo todo mostrando que era invencível perto dele, na maior parte do tempo, ambos até podiam esquecer de suas limitações.

Era em momentos assim que Lan Zhan realmente pensava em tomar coragem e se declarar. O que, de tão ruim, poderia acontecer além de levar um não?


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