Alguns dias se passaram e era final de semana de novo, Lan Zhan corrigia alguns trabalhos de seus alunos concentrado no computador a sua frente quando a campainha tocou, verificou em seu celular e não havia nenhuma mensagem de alguém querendo visitá-lo, estranhou, mas como a campainha persistiu, ele foi até a porta.
-Quem é? - perguntou receoso. Detestava receber visitas, ainda mais sem aviso prévio.
-Sou eu. - o tom era brando, mas a voz era de seu tio, ele sentiu um calafrio e precisou respirar fundo antes de finalmente abrir a porta - Pensei que nunca fosse abrir. - disse já entrando sem esperar o convite.
-Aconteceu algo para o senhor vir assim? - perguntou observando o mais velho entrar e sentar-se no sofá.
-O que você e seu irmão estão pensando? - o tom brando sumiu, Lan Zhan teve de respirar fundo mais uma vez, fechou a porta e deslizou até o homem, parando a cadeira de frente para ele - Seu pai morreu semana passada.
-Sim, eu sei.
-E vocês não tiveram nem a decência de comparecer!
-Não fazia sentido irmos até lá.
-Como não?! É sua família!
-Desculpe-me, mas… Família está muito além de laços sanguíneos.
-Você não sabe o que diz.
-Eu sei sim. Sei o que digo e sei como me sinto. O senhor se deu ao trabalho de vir aqui somente para me repreender por isso?
-Não. Vim também avisar que sua mãe estará se mudando para a cidade e você tem um quarto vago. Ela poderia vir morar com você.
-Fora de cogitação. Não quero morar com ela, nunca morei com ela e preciso do meu espaço, sozinho.
-Lan Zhan, você pode permitir que sua mãe cuide de você. Vocês podem recuperar o tempo perdido.
-Eu cuido de mim mesmo. Não quero recuperar tempo nenhum.
-Está sendo teimoso! Ela é sua mãe!
-Não importa o que ela é, tio. Eu gosto de morar sozinho.
-Você fala tanto sobre ficar sozinho, mas e quando você encontrar alguém para casar? Vão passar a vida toda morando em casas separadas? Como irão criar os filhos? Você ainda pode ter filhos, certo?
-São coisas diferentes, o senhor sabe disso. E sim, existem muitas formas de ter filhos hoje em dia.
-Mas você pode ter filhos da forma convencional, não é? - o assunto estava indo de mal a pior.
-Não tio, eu não posso. E nem quero.
-Céus… Você não congelou seu sêmen antes de tudo acontecer?
-Por que o senhor está falando disso? Eu nunca disse que queria engravidar alguém, casar ou morar com a mãe. Pare de falar sobre essas coisas, por favor.
-Não está pensando direito, A-Zhan. - seu tom ficou brando de novo, como se ele quisesse persuadi-lo a qualquer custo - Você precisa deixar que as pessoas te ajudem.
-Eu não preciso de ajuda. Estou bem como estou.
-Sabemos que não é verdade, preocupo-me com você aqui sozinho nesse estado. Acha que não é doloroso para mim, ver um dos garotos que eu criei, que sempre foi ativo e inteligente, confinado a uma cadeira de rodas? Isso é muito triste, eu só quero o melhor para você.
-A cadeira é só uma forma de locomoção, o senhor não precisa achar isso triste. Faço tudo que eu fazia antes. Cozinho, limpo a casa, passo ferro nas minhas roupas, não tem nenhuma atividade que eu deixei de fazer, apenas adaptei a forma de fazer. Gostaria que o senhor parasse de falar coisas assim. Não me sinto confortável.
-Você sempre sendo o gêmeo teimoso. Sabe, você lembra muito a mim mesmo, quando era mais jovem. A-Huan sempre foi mais sociável como seu pai, mas você sempre foi cabeça dura. Eu também era assim.
-Na verdade o senhor ainda é. E é pior do que eu.
-Não, você é muito pior. Não pense que não acho você forte, você realmente sobreviveu a uma coisa terrível, algo que venceu seu pai, mas não você. É bom ver que você está tão conformado, porém não é algo que a gente deseja para um filho.
-Não precisa desejar, as coisas simplesmente acontecem e só precisamos conviver com elas. Eu sabia dos riscos da cirurgia e aceitei, o senhor também foi avisado antes. Se eu estou bem com isso, não tem o porquê o senhor ou qualquer outra pessoa não estar.
-Aceitar ou não, não muda os fatos. Pense com carinho sobre sua mãe vir morar aqui, ok? Aguardo uma resposta, agora preciso ir. - disse levantando-se.
Quando o homem foi embora, Lan Zhan fechou a porta e deu um suspiro aliviado, por que tudo aquilo tão de repente? E que ideia horrível de morar com sua mãe era aquela? Ele não precisava disso, se fosse morar com alguém, esse alguém seria Wei Ying, única e exclusivamente ele.
Naquele momento, ele foi tomado pelo medo de nunca mais poder vê-lo novamente, então pegou o celular e enviou mais uma mensagem, sabia que todas as suas mensagens chegaram ao destinatário, mas o mesmo nunca vizualiva, Lan Zhan tinha esperanças de que um dia o "vizualizado" aparecesse em sua tela.
"Wei Ying, hoje faz 43 dias que não nos vemos, desculpe se parece estranho a contagem, mas sinto sua falta. Sinto falta do seu sorriso, das suas brincadeiras e da forma como só você podia me entender. Sei que não está em um momento bom, mas eu gostaria de poder te ver, nem que fosse somente mais uma vez, queria poder te abraçar de novo e dizer, olhando nos seus olhos, que ainda te amo. Desculpe por ser insistente e ainda te mandar mensagens, mas realmente, sinto muito sua falta. Mesmo que não tenhamos nada novamente, eu desejo que você fique bem logo e possa voltar a sorrir de novo."
Uma lágrima estava prestes a cair assim que ele clicou no botão de enviar e jogou o celular em cima do sofá, irritado com algo que nem mesmo ele sabia o que era. Wei Ying preenchia muito espaço em sua vida e durante aqueles 43 dias ele se sentia vazio, mesmo estando cheio de tarefas diárias e muito trabalho, ele ainda se sentia vazio e sabia que aquilo não iria passar tão cedo.
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Na Mesma Página [concluída]
FanfictionSinopse: Wei Ying e Lan Zhan se conhecem de um jeito pouco convencional e em circunstâncias não muito felizes. Ambos são adultos, com bagagens pesadas para carregar. Um lento relacionamento se desenvolve em meio a várias dificuldades que ambos preci...