Capítulo 35 ~ Chamgseob

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"Ela é a minha esposa!"

- Como assim, morrer? - questionei ao Mestre Lee que estava a minha frente.
O corpo da Alkmene não estava mais lá, os pais dela estavam parados olhando para a entrada esperando todos voltarem.
- Se quiser salvá-la, terá que retornar. - a gêmea mais velha das minhas irmãs falou.
Olhei para ela.
- Não posso deixá-la. - falei.
Minha segunda irmã surgiu ao seu lado.
- Se quer que ela viva... - ela fez uma pausa.
- Terá que retornar. - minha irmã mais nova veio logo depois.
As três me olhando com lágrimas nos olhos, me aproximei dela, ficando na altura delas, sorri para elas, secando as lágrimas da mais nova, que agora estava no meio das duas mais velhas.
- Porque não leva ela com você? - questionou ela.
Olhei sobre o ombro, com os amigos da Alkmene entrando na assembleia, o corpo da Alkmene nos braços do Sung Hoo, voltei a olhar para a minha irmã.
- Porque ela tem uma família aqui. - expliquei.
- Nós cuidaremos dela. - a mais velha das gêmeas falou colocando a mão no ombro da mais nova.
Min-ha me abraçou com força.
- Volta para nós em segurança. - pediu perto do meu ouvido.
- Eu prometo. - respondi.
Sorri para elas saindo do abraço, elas sumiram logo depois, me levantei e acompanhei o Mestre Lee, parei de frente para Sung Hoo com Alkmene nos braços, olhei para ele e logo depois para ela, com seus olhos fechados, o cabelo longo e branco caídos para trás, sua respiração fraca, o corpo quente, beijei sua testa, sentido sua pele quente contra meus lábios.
- Nos veremos novamente. - falei em seu ouvido.
Passei por eles, com Jin Sohn me chamando, não virei para ela, apenas continuei seguindo o Mestre Lee que me levou para uma casa fora da cidade, a mesma casa onde Alkmene ficou presa, por fingimento.
Entramos e fomos para um quarto dos fundos, entrei e fechamos a porta, Mestre Lee estava parado atrás de um caixão de madeira, ele abriu e meu corpo estava lá dentro, me aproximei olhando para mim mesmo.
- É difícil manter seu corpo escondido quando se é um ceifador. - Mestre Lee falou. - Porém, eu dei o meu jeito.
Olhei para ele.
- Obrigado! - agradeci.
Olhei para o meu corpo que estava mais branco que neve, ele colocou sua bengala de lado, dentei no chão, ele ficou sobre a minha cabeça, me olhando de cima.
- Quando fizer o que tem que fazer, tem que ir embora, sem contato com ela ou com qualquer um do grupo. - Mestre Lee explicou.
Meu coração se apertou no peito, fechei os olhos e concordei com a cabeça.
Uma sensação estranha estava no meu corpo, quando abri os olhos, estava flutuando, com o meu corpo na minha frente, olhei para cima, voltei a olhar, agora estava olhando para Sung Jin que estava me olhando.
Fechei os olhos, os abri logo em seguida, estava olhando para o teto, sai daquele caixão pulando para fora, olhei para o Mestre Lee que ajudava Sung Jin a se levantar, passei pelo caixão o ajudando também, ele olhava para um ponto fixo.
- Obrigado por ter deixado usar o seu corpo. - agradeci olhando para ele.
Ele era só um pouco mais baixo que eu, porém, não precisava baixar muito a cabeça, ele confirmou com a cabeça, ainda olhando para o lado, peguei um pano e coloquei sobre seus olhos, ele arrumou o cabelo e logo em seguida arranjamos uma bengala para ele.
Virei para o Mestre Lee, coloquei minha mão sobre seu ombro.
- Leve ele para o irmão e fique com eles até a Alkmene voltar, se isso não acontecer eu saberei. - disse.
Ele confirmou com a cabeça.
Ele saiu, senti o vento vindo de trás, me virei, o vento bagunçando o meu cabelo, uma enorme porta que dava para a profundeza mais terrível dos mortos, entrei, água estava nos meus pés e a escuridão a minha volta.
Alkmene estava deitada, se contorcendo no chão, aquilo me deixou apavorado, corri na sua direção me ajoelhando, ela estava com os olhos fechados, os cabelos estavam brancos quebrando o preto a nossa volta.
A puxei pelos braços, ela abriu os olhos e me olhou.
- Chamgseob? - me chamou como se tivesse sonhando, ela colocou as mãos no meu rosto, soltou o ar.
- Sou eu! - respondi.
Lágrimas encheram seus olhos, uma escorreu por sua bochecha, passei o polegar por sua bochecha secando a lágrima, ela me abraçou, a puxei para mais perto, mais lágrimas escorreram dos seus olhos, ela chorava soltando tudo o que já tinha acontecido com ela, cada dor, cada medo, cada tristeza.
- Está doendo! - ela falou. - Eu não quero mais sentir essa dor. - ela implorava para mim.
A abracei, coloquei minha mão atrás da sua cabeça, puxando ela mais forte, meu peito doeu vendo ela daquele jeito, eu podia fazer alguma coisa e iria.
- Vai passar. - falei sentindo a dor no meu peito. - Eu prometo!
A tirei do abraço, segurando seu pescoço delicadamente.
- Isso, que você está sentindo, é a morte de todos que você matou, isso vai passar, quando você passar para mim. - ela me olhou negando.
- Eu consigo suportar. - ela falou. - Eu sou forte.
Lágrimas encheram os meus olhos.
- Eu sei! - molhei meu lábios segurando as lágrimas. - Você é a mulher mais forte que eu conheço, mais... - fiz uma pausa. - Mais se você não em enviar a sua dor você vai morrer e eu não vou poder te salvar. - expliquei.
Seus lábios ficaram entre abertos, nos levantamos, ela olhou nos meus olhos, ela negou. Suas sobrancelhas arquearam, ela olhou para trás, sobre o ombro, acompanhei o seu olhar, vi minhas irmãs, elas mexiam a boca, mais eu não ouvia nada, Alkmene baixou um pouco a cabeça, voltou a me encara com os olhos brilhando e lágrimas escorrendo.
- Salanghaeyo! - ela falou beijando meus lábios.
Retribui sentindo a dor dela vindo para mim, a paixão, o desejo. Sai do beijo abrindo os olhos, ela continuou com os olhos fechados, beijei sua testa e fechei os olhos.
- Salanghaeyo! - repeti. - A gente vai se encontrar! - sorri. - Nessa vida, ou numa próxima. Minha alma sempre vai pertencer a você, não importa em qual corpo eu esteja.
Ela não entendeu, seu semblante mudou para tristeza. Comecei a dar passos para trás, soltando sua mão logo depois, ela tentou vir na minha direção, porém, sumiu como um fantasma.
Cai de joelhos, com as lágrimas escorrendo dos meus olhos, com ele pingando na água escura. Quanto mais pensava nela, mais lágrimas escorriam dos meus olhos, soltei um grito que ecoou por toda a Morte.
Som de passos me fez erguer a cabeça, eu sabia quem era, raiva se instalou em mim.
- Eu falei para você nunca se apaixonar. - a voz ecoou pelo lugar. - Ainda mais por uma mulher como ela.
- Ela é a minha esposa. - me levantei. - Olha como fala dela. - virei para a pessoa.
Com um hanbok azul e cabelo escuro como a noite.
- Espero que tenha se despedido, como não pode chegar mais perto dela, não vai poder protegê-la. - ele falou.
Meu peito doeu, a espada da Alkmene apareceu na minha mão, ele sorriu como se já tivesse ganhado.
- Se encostar nela, eu lhe mato. - falei.
Ele sorriu dando risada.
- Tenta a sorte! - me desafiou.
Ele sumiu. Meu coração bateu forte no peito.

Alquimia das Almas: Amor e Lado NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora