I'm wilting

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Aviso: diálogos que retratam descrição de depressão. Sinta-se livre para descartar a possibilidade de ler em caso de red flag.

Aquela não foi uma confissão fácil de ser feita, a minha garganta ardia como se de fato tivesse se enrolado em um nó. Quanto ergui meu olhar, talvez minutos mais tarde, mal conseguia enxergar Billie, meus olhos estavam inundados um movimento ocular e todas aquelas lágrimas escapariam livremente, foi isso o que aconteceu.

— Desculpa. — Sussurro antes de baixar meu rosto secando os rastros que se criaram pelas minhas bochechas rapidamente usando às costas dos meus dedos.

— Não se desculpe. — Me repreende sutilmente, sua voz era suave.

Ergo meu rosto a observando por alguns segundos, meus olhos se inundaram outra vez.

— Eu nunca me senti tão sozinha. — Murmuro sentindo um rastro quente ser disposto sobre minha bochecha direita seguida pela esquerda logo em seguida. — Eu... Eu me sinto em um galpão no meio de lugar algum, cheio de flores, de todas às cores e jeitos, mas elas estão morrendo, murchando, secando, às pétalas estão caindo... E... E eu tento aguá-las, colocar mais terra, talvez até trocar de vaso mas elas continuam morrendo. Eu murmuro o tempo todo: "Vai ficar tudo bem.", "Vou consertar, vou conseguir." e nada acontece. — Descrevo devagar, escolhendo às palavras com cuidado. — Minhas mãos estão cheias de terra, tem vasos por toda parte e está tudo tão bagunçado e eu só quero gritar e fazer alguém olhar 'pra mim. Elas estão murchando, por favor, me ajudem a trocar de vaso, me ajudem a colocar mais terra, precisam de água, precisam de sol... Eu preciso.— Abaixo o meu rosto para então  sussurrar a última parte antes de deixar o resto do ar dos meus pulmões sair pelos meus lábios de forma trêmula.

— Estou te ouvindo gritar, estou te olhando. — Billie fala calma, após um tempo, enquanto gentilmente tocava meu queixo erguendo o meu rosto.

Fecho meus olhos diante do seu toque, não estávamos distantes uma da outra, era uma distância amigável. A senti se mover para mais perto, seus dedos continuavam em meu queixo.

— Abre os olhos. — Pede baixo, o faço após alguns segundos. — Eu estou te ouvindo gritar, eu estou te vendo. — Repete devagar, sua respiração se chocava em meu rosto a cada palavra dita.

Novas lágrimas refazem os antigos rastros, entreabro a boca deixando um ofego trêmulo sair.

— Billie... — Sussurro e um soluço fica preso em minha garganta.

— Eu sei. — Ela murmura e puxo o ar diante de suas palavras. — É solitário. — Continua e concordo em um mínimo movimento de cabeça.

— Eu sou tão ruim... Eu... Eu arruino tudo que eu toco... — Sussurro. — Todo mundo vai embora. — Puxo o ar mais uma vez. — Eu não sou boa o suficiente. Eu me sinto abandonada. — Confesso.

Ficamos em silêncio depois disso, nenhuma palavra foi dita. Seus dedos continuaram em meu queixo e seu olhar não deixou o meu rosto em nenhum momento, sua respiração continuava se chocando com o meu rosto e era óbvio que a minha também o fazia no seu.

Depois de longos minutos sua mão lentamente se moveu de onde estava apenas o suficiente para segurar a lateral do meu rosto, seu polegar apagava cada lágrima que escorria, uma após a outra como uma torneira mal fechada, sua testa descansou sobre a minha segundos depois.

— Shhh... — Sussurra calma. — Eu estou com você. — Completa.

Meu lábio inferior começa a tremer sutilmente e imediatamente seu polegar desliza sobre o mesmo, seu olhar se concentra nessa ação enquanto o meu ainda continua em seus olhos.

Um mínimo movimento e meu nariz encostou o dela, senti involuntariamente um dos cantos da minha boca se curvar para cima em um esboço de sorriso e sabia que havia percebido pois seus olhos contavam presos em seu polegar deslizando sobre o local.

O seu dedo se assenta no canto dos meus lábios, entreabro minimamente minha boca antes de sentir a sua minimamente contra a minha, Billie nega com a cabeça sutilmente.

— Tudo bem. — Falo sem nenhum som, meus lábios tocando os dela durante.

Sua boca devidamente encosta na minha, em um selinho suave, o retribuí com um pouco mais de esforço a fazendo entreabrir seus lábios para iniciar um beijo ao qual correpondi, sem língua, era só um beijo calmo.

O toque de seu celular ecoou pela sala de repente, não nos assustou mas o beijo se findou quase que imediatamente, Billie se levantou devagar e buscou pelo aparelho esquecido em uma das poltronas.

— É o Finneas. — Murmura rouca e descarta a ligação antes de devolver o celular para o mesmo lugar.

Ela se vira para minha direção e suspira.

— Eu não devia ter te beijado. — Diz após um tempo em silêncio.

— Não, tudo bem. Eu quis. — Digo imediatamente.

— Às vezes a gente acha que quer que certas coisas aconteçam mas na verdade só estamos vulneráveis demais. E eu... — Fala baixo.

— Eu quis. — A interrompo em uma intonação firme.

A ouço suspirar mais uma vez, Billie some do alcance da minha visão pelo corredor. Encaro a caneca de cerâmica entre meus dedos a dedilhando tentando decidir se essa era a hora que iria embora.

Seus passos quebram minhas suposições, ergo meu olhar a vendo me estender uma caixa de lenços.

— Sua maquiagem. — Sussurra, os cantos dos seus lábios erguidos em um esboço de sorriso.

— Obrigada. — Agradeço deixando a caneca sobre a mesa de centro antes de pegar a caixa quadrada de sua mão.

— Você quer falar sobre isso? — Pergunta se sentando ao meu lado mais uma vez.

— Sobre o quê? — Questiono perdida.

— O beijo. — Explica e me olha.

— Oh... Uh, foi um beijo bom. — Elogio enquanto delicadamente removia o borrado da máscara de cílios logo abaixo dos meus olhos.

Billie sorri sozinha negando com a cabeça.

— Me promete que vai procurar um terapeuta? Você pode conversar comigo  sempre mas talvez eu não saiba o que dizer e com certeza não posso te fazer evoluir nesse quesito. Promete que vai buscar ajuda? Não é saudável, não é aceitável que lide com tudo isso sozinha. — Diz calma.

— Vou. — Aceito.

— De verdade? — Questiona mais uma vez.

— De verdade. — Afirmo.

— Você está com fome? — Pergunta gentilmente tirando o lenço dentre meus dedos, segura meu queixo com sua mão livre e com calma remove a maquiagem borrada ao qual eu não via pela falta de um espelho.

— Um pouco. — Digo à ela, murmurando pela proximidade.

— Ótimo, vou fazer o jantar. — Fala baixo antes de me devolver o lenço.

{...}
Notas da autora:

Hey,
Como estão?

Voltei!

Sem grandes promessas, por agora,  apenas vou tentar atualizar todos os dias (ou quase todos os dias), a história que me sentir inspirada.

É isso! Beijo!

Cuidem-se.


I'm nervous • Billie Eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora