— Romy, tudo bem? — Billie me tira de dentro da minha cabeça.
— A gente pode fazer uma pausa. — Finneas completa afastando seus dedos das teclas do piano.
— Desculpa gente, eu... — Suspiro custosamente. — Eu não quero fazer isso... — Sussurro, extremamente envergonhada, meus olhos se enchem de lágrimas automaticamente. — Não hoje. — Completo ao ver os seus olhares confusos. — Não é justo. — Murmuro fechando meu diário de anotações, onde alguma das minhas músicas estavam compostas.
— A gente não precisa fazer, nem hoje e nem nunca, se você não quiser. — Billie se senta ao meu lado puxando o pequeno caderno das minhas mãos devagar, como se pedisse permissão, a deixo pegá-lo.
— Eu não entendo como eles podem fazer isso, simplesmente assinaram a droga de um contrato a entregaram um caderno idiota e: "Ah escreve aí". Pelo amor de Deus, você devia processá-los. — Finneas levanta começando a andar de um lado para outro em um ritmo de passos contidos.
— Finn... — A garota ao meu lado murmura o repreendendo.
— Não Billie, é sério. Eu te ajudo a produzir e muito do que fizemos foi sozinhos mas ainda assim precisamos de suporte ao longo do tempo. Ela precisa de uma equipe de verdade, precisa de uma sala cheia de instrumentos, precisa cantarolar às próprias músicas, precisa escrevê-las e senti-las. Ela precisa de espaço, de ajuda; de liberdade. — Argumenta gesticulando, os dois ignorando minha existência.
— Outro dia a gente fala disso. — Murmuro baixo os fazendo lembrar de mim.
— É, Finn, outro dia 'tá legal? — Billie pede.
Sinto o olhar de Finneas pesar sobre mim, até tento retribuir mas logo quebro contato encarando minhas mãos vazias. Ouço o mesmo suspirar e dar passos ao sofá do lado oposto pegando seus pertences como celular, chaves e carteira.
— Tenho que encontrar Claudia, a ajudar com algumas coisas. Mando mensagem mais tarde. — O ouço justificar.
Pela visão periférica observo Billie levantar e o abraçar rapidamente em uma despedida, ela o leva até a porta e com a mesma entreaberta e sem conseguir distinguir direito percebo que os mesmos estão discutindo entre sussurros; o que não dura mais de dois minutos até a mesma estar de volta.
O silêncio que nos rodeava era péssimo, me sentia culpada por ter estragado tudo. Sabia que queriam ajudar, sabia tanto que aceitei, era um teste: saber se dávamos certo, se algo bom sairia de nós três. Billie fazia questão que Finneas produzisse algo ou pelo menos tentasse. Tinha estragado tudo.
— Desculpa. — Murmuro muito ocupada brincando com meus anéis, sem coragem de a encarar.
— O que? Não. — Responde imediatamente, ouço seus passos se aproximando. — Romy, eu que peço desculpas! Eu não devia ter me metido nisso, compor e produzir é algo muito particular. Cada um faz funcionar de uma forma diferente. Fui egoísta. — Se coloca de joelhos rente a mim, seus dedos tocam os meus e com cuidado me fazem parar de dedilhar os anéis em tamanha ansiedade.
— Você foi muito legal Billie, de verdade. Você e o Finneas. Sinto muito por desperdiçar o tempo de vocês, agradece e se desculpe com ele por mim. — Peço sincera afastando nossas mãos.
— Você não vai embora agora, né? — Questiona imediatamente ignorando tudo o que disse.
— Bom, acho que já fizemos o que tínhamos 'pra fazer. — Sussurro me levantando devagar mas dando passos apressados aos meus sapatos deixados perto da porta de entrada.
— Não, Romy! Por favor, fica! — A escuto levantar rapidamente me seguindo. — A gente pode ficar em silêncio o tempo inteiro se te fizer sentir melhor mas fica, por favor. — Pede outra vez e paro por alguns instantes.
— Por que? — Pergunto em um sussurro ao deixar meus sapatos de lado e endireitar minha postura, me virando para a encarar.
— Porque não quero que fique sozinha. — Murmura de volta, Billie não estava tão distante, talvez ela cogitou ter que me segurar antes de sair, talvez ela pensou que eu não fosse querer ouvi-la. Até agora não existiu um único momento em que eu não quis ouvi-la. — Você não está sozinha. Eu... Eu não sei o que o Finn falou, na verdade, nem sei se foi algo que ele falou porque desde que você passou pela porta hoje já sabia que tinha alguma coisa errada. Fala comigo, me deixa ajudar. — Seu tom de voz que já não estava muito sobressalente e caiu gradativamente.
— Eu quero ficar em casa 'pra sempre. Eu quero desaparecer. — Sussurro sincera. — Não quero fazer nada, lidar com nada. — Completo.
Encaro Billie me olhar como se eu falasse a coisa mais interessante do universo, que solucionaria problemas e faria uma revolução.
— A gente pode desaparecer aqui, por algumas hora. — Sugere tocando meus ombros.
Foi esta sugestão que nos trouxe para a cama, deitadas desajeitadamente, ouvindo uma das minhas playlists em um volume alto o suficiente para me fazer parar de pensar por um tempo. Exatamente o que precisava.
Meus olhos estavam fechados, dedos entrelaçados sobre minha barriga.
— Posso perguntar uma coisa? — Billie indaga após longos e longos minutos, talvez até já fizesse hora.
— Sim. — Concordo. Imediatamente curiosa para saber sua pergunta.
— Você está confusa? Com sua sexualidade, eu digo. Depois da semana passada. — Questiona.
— Estou. — Assumo baixo, rezando que se perdesse em meio a música.
— Eu também estou. — Responde simplista.
Abro meus olhos virando meu rosto para poder olhar Billie propriamente, a mesma sorri levemente.
— Estou totalmente biruta. — Diz dramaticamente e deixo uma risada escapar pela quebra ávida de expectativas. — Sua risada é linda. — Elogia e sorrio.
Fico a observando por mais um tempo.
— Eu não devia me pôr nessa situação, mas é sempre tão bom e me faz sentir muito melhor. — Sussurro.
— Então você devia se pôr nessa situação. — Billie sorri a retribuo automaticamente, a senti se mexer sobre a cama se aproximando. — Você não deveria fugir de situações que te fazem sentir bem, de situações que te fazem sentir livre, sentir-se você mesma. — Sussurra.
Fecho meus olhos novamente sentindo seu nariz tocar minha bochecha suavemente.
— É isso o que sente? — Murmuro, seus lábios se fechando em um beijo contra meu rosto, Billie concorda.
— Exatamente o que sinto. — Afirma antes de juntar nossas bocas.
Assim que o selar se encerra, ainda de olhos fechados, a sinto deitar sua cabeça logo abaixo do meu queixo.
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I'm nervous • Billie Eilish
FanfictionRomy gravava vídeos para uma plataforma na internet, nela aparecia cantando algumas, poucas, músicas autorais e apesar de ser muito boa compondo seus sentimentos ainda preferia fazer covers, era ali que escapava das lembranças do suicídio da mãe que...