45- Resistência

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Natasha POV.

-O que te trouxe aqui?

-Minha namorada me obrigou. - respondi de maneira direta, sem rodeios.

A mulher com traços orientais, que se apresentou como Helen Cho, me analisou por alguns segundos. Fiquei em silêncio, sentada de maneira desleixada no sofá confortável que havia no consultório elegante, completamente inerte sobre o julgamento da mulher a minha frente. Não importava se aquela era a psicóloga mais eficiente de Los Angeles - e era, porque Laura fez questão de garantir isso -, eu simplesmente não conseguia abrir meu coração para uma mulher que eu sequer conhecia.

-Sua namorada te obrigou? - ela questionou após alguns segundos, insistindo se aquele era realmente o motivo. Assenti com a cabeça e respirei fundo. Aquilo seria uma tortura! - E por que ela faria isso?

-Não sei. Talvez acredite que você irá me dar a "ajuda" necessária. - fiz questão de fazer aspas com as mãos na palavra que não se encaixava naquela frase. Eu realmente não precisava da ajuda de uma desconhecida. - Mas eu te garanto que não preciso de ajuda nenhuma. No entanto, para o bem do meu relacionamento, estou aqui.

A mulher assentiu, anotando algo na prancheta que tinha em suas mãos.

Ajeitei a postura, apoiando meu antebraço em minha própria perna, inclinando o corpo para frente numa tentativa de parecer mais intimidadora e direta.

-Vamos fazer da seguinte maneira: eu venho aqui uma vez por semana, você faz o que bem entender nessa uma hora, enquanto eu fico em silêncio.

Dra. Cho suspirou, jogando seu corpo para trás na poltrona em que estava sentada.

-De qualquer forma, quem perde é você. Está pagando pelo meu tempo, pelo meu auxílio, e não quer usufruir disso. - a mulher argumentou, parecendo realmente despreocupada. - Não é muito inteligente da sua parte.

-Eu não preciso do seu auxílio. - me defendi. - Há muitas pessoas nesse mundo em situações muito piores que a minha, na pobreza ou perdidas na escuridão da depressão. Essas pessoas sim precisam de ajuda, de auxílio. Mas adivinha? Nem todas elas conseguem pagar 200 dólares na sua consulta, Doutora.

A mulher não pareceu se abalar com as minhas palavras. Na verdade, nada parecia ser capaz de tirar sua paz. Ela era muito calma, paciente, quase que impassível.

-Natasha, você é artista, não é? - ela questionou, ainda inerte na sua própria calmaria. Assenti com a cabeça, confirmando sua pergunta. Estava curiosa para saber onde ela queria chegar. - Deve ter milhares de fãs espalhadas pelo mundo. Muitas, talvez, não tenham condições de assistir a um show seu. Isso te impede de cantar? De cobrar seu cachê? - fiquei em silêncio, me negando a discutir aquilo. - Foi o que pensei. - a mulher tirou suas próprias conclusões. - E você não está errada, assim como eu não estou em valorizar meu trabalho. Entendo que o mundo não seja justo e isso te frustre, mas eu tenho certeza de que, assim como eu, você ajuda indiretamente ou diretamente quem realmente precisa. - ela continuou a falar pausadamente, como se estivesse ensinando alfabetização para uma criança. - Se formos pensar da sua maneira, não iremos ter uma vida. Então, talvez seja interessante olhar a situação de uma ótica diferente. Aproveite a oportunidade que tem aqui, ajude a si mesma antes de ajudar o próximo.

-Você realmente é psicóloga, hein? - zombei, com um riso debochado que a fez respirar fundo.

-Formada a dez anos. Com milhares de pacientes na ficha, todos eles muito gratos a mim pelo auxílio que forneci quando necessário. - Dra. Cho argumentou, mas havia um sorriso quase que acolhedor quando ela voltou a falar: - Então vamos começar de novo: O que te trouxe aqui?

Best Part - Wantasha Onde histórias criam vida. Descubra agora