46- Eu Reconheceria Esses Olhos Verdes

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Wanda POV.

-É frustrante pra mim ter que obriga-la a fazer algo por si mesma. - desabafei aquela verdade para a mulher sentada a minha frente.

Janet era a minha psicóloga, que vinha me acompanhado desde o início do meu tratamento, há anos atrás. Havia me afastado da terapia a algum tempo, quando tudo se estabilizou e eu não via mais necessidade de estar ali, assim como a própria mulher me deu o aval para encerrar o tratamento. No entanto, ultimamente eu vinha me sentido frustrada, e resolvi fazer algumas visitas.

-Mas ela tem ido as consultas? - a mulher questionou.

-Na última semana, sim. Mas ela ainda parece resistente a ideia de se tratar.

-Por tudo que você me contou sobre a sua namorada, ela me parece alguém muito auto-suficiente, né? - concordei, porque aquilo era verdade. Se tinha algo que Natasha tinha de sobra, independência se encaixava bem. - Então, deve ser bastante difícil para ela assumir que precisa de ajuda.

-Sim... - suspirei, por mais que soubesse daquilo, não deixava de ser frustrante. - É difícil, eu entendo. Mas queria que ela entendesse também, sabe?

-Eu entendo que seja frustante, Wanda, mas cada pessoa tem o seu tempo. - aquela era uma verdade que precisava ser dita. - Estamos falando aqui de traumas que causaram danos inimagináveis nela. Falar sobre a machuca. O processo será difícil e doloroso, e ela pensará em interromper o tratamento por muitas outras vezes. A decisão é sua de insistir ou não.

-Eu vou insistir, eu preciso disso. Preciso dela curada. - admiti aquilo mais pra mim mesma do que para a própria doutora. - Filho é uma decisão importante. Quero que ela tome essa decisão consciente, e não afetada pelo trauma que passou.

-Está mesmo disposta a abrir mão do sonho da maternidade por ela? - a mulher questionou e eu assenti com a cabeça. Ela anotou algo na prancheta e voltou a me encarar. - É um baita esforço.

-É. Mas não faz sentido viver isso com outra pessoa, entende? Ou sem ela ao meu lado. Se precisasse abrir mão de algo, não seria do que eu tenho hoje.

Ela anotou mais uma vez.

-Então, está na hora de começar a impor limites. - Janete argumentou. - Fale a ela como você se sente frustrada ao vê-la tão desinteressada.

-Eu cortei o sexo. - aquilo saiu tão de repente e repentino que mal pude conter. Quando percebi, já havia dito e minha psicóloga me encarava numa evidente confusão. Fiquei vermelha e me arrependi no segundo seguinte, mas eu já havia dito e não podia mais fazer nada sobre aquilo. - Eu... estou de greve. O sexo é muito importante numa relação. Mas, mais importante ainda, é a parceria mútua. Se ela não me escuta, não irei escuta-la quando precisa de mim no sentido de sexo. Foi uma decisão meio radical, mas acho que está funcionando, tanto que a fez ir até a terapia essa semana.

A mulher soltou um riso baixo e voltou a anotar. Quando me encarou outra vez, ajeitou o óculos de grau no rosto.

-Na verdade, acho que isso é um castigo não só para ela. - ela disse num tom divertido. - Bom... em relação a sua vida sexual, você age da maneira que achar melhor. Mas ainda quero que ela saiba como você se sente frustrada emocionalmente.

(...)

Naquele fim de semana, Natasha participaria de um festival após quase dois meses longe dos palcos. Era até engraçado comparar a nossa rotina no início do nosso relacionamento, onde baseava-se em Natasha distante de mim praticamente da quinta até segunda-feira, por conta da quantidade de shows que fazia em um fim de semana. Agora as coisas estavam mais tranquilas. Mesmo que se dedicando bastante aos seus negócios, só o fato de ela estar por perto já facilitava bastante a nossa rotina como um casal.

Best Part - Wantasha Onde histórias criam vida. Descubra agora