A chuva caia mais, e mais forte. Caminho mais rápido que posso, buscando sempre despistar o homem que me perseguia. Na verdade, nem sei dizer se é um homem, mas não importava. O porte deste é ameaçador o suficiente para essa não ser uma questão importante a se refletir.
As ruas de Paris, agora escuras e encharcadas, estavam praticamente vazias. Aperto meus passos até um beco, tal qual ouvi um murmurinho. Melhor estranhos, ou estranhos que estão te perseguindo?
Prefiro a primeira opção. Alcanço o grupo que, ao meu ver, tem a mesma faixa etária que eu. Estranhei, primeiro, os desconfiados olhares para mim, até lembrar-me do meu estado: cabelos e roupas encharcadas, maquiagem borrada, e feição de maluca. Ah sim, e sou uma completa estranha para eles.
— Me desculpe por ter interrompido a confraternização de vocês, e pelo meu estado. Mas acho que estou sendo perseguida, e preciso despistar quem quer que esteja fazendo isso — digo rápido, sem rodeios. Recebo um caloroso nada de resposta. Mas então um dos estranhos pergunta: "Perdão?"
Impaciente, olho para a rua de onde vim. Ao deparar-me com uma sombra se aproximando, meu reflexo é atacar os lábios do rapaz em minha frente. Definitivamente o beijo mais estranho da minha vida.
— Merda. — passo a mão nos lábios e olho de volta para a rua. Não sei quem era, mas já passou. — Desculpa por isso, já vou embora. Pelo menos os filmes não mentiram, beijar um estranho realmente despista alguém. — tento quebrar o gelo. Mas aparentemente quebrei ele, que só me encara em silêncio. — Ok... — me viro e volto para a rua de onde estava.
Ainda andando rápido, vou agora em direção à Place des Vosges. Muito conveniente ir para uma praça, sozinha, de noite e na chuva, não? Pois bem, agora estou de saco cheio.
— Vamos, quem quer que seja! O que você quer? — grito, olhando em volta.
Silêncio.
— Eu estava na minha, até você começar a me seguir. Não faz nem sentido!
Silêncio.
— Muito corajoso, não? Quero ver mostrar as caras agora, babaca!
Ouço um barulho vindo de uma moita. Me viro lentamente. Tremia de frio, das gotas da chuva caindo mais e mais. Tremia de pavor, com a respiração presa.
O barulho aumenta. Dou passos lentos para me afastar, mas meus olhos estão fixos na maldita moita.
Silêncio de novo.
Volto a respirar com um suspiro pesado, agora olhando em volta. O beco de onde vim estava perto, mais iluminado e cheio do que antes pensava. Parecia que três ou quatro pessoas estavam saindo dele, vindo em direção à praça.
O barulho aumenta e aumenta, e a esse ponto apenas me encolho ao lado de um banco, fechando os olhos e apertando-os com as mãos.
Barulho de passos, que logo ficam mais rápidos.
Ouço gritos, mas meu corpo se recusa a abrir os olhos. Após um tempo, a gritaria acaba.
— Oi? — uma voz masculina pergunta. Ainda estou com meus olhos fechados. — Você está bem? Só tem eu e uns amigos aqui, então quem quer que você estivesse gritando, não está mais.
— Eu... que? — abro os olhos devagar, e percebo que é o cara que beijei. Um para ele, zero para minha reputação. — Ah, sim. Obrigada. — me levanto, cruzando os braços numa tentativa falha de me esquentar.
— Que bom. — ele sorri, tentando amenizar o clima. — Precisa de alguma coisa? Estou sendo o amigo que não bebe para levar todos em casa, sabe? — ri, com pouca empolgação. — Então se precisar de algo, só avisar.
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in the rain | mlb
FanfictionTudo começou na chuva. Após uma embaraçosa cena para poder despistar seu perseguidor, Marinette tenta fugir a todo custo. Acontece que a "vítima" dessa cena volta; assim como o maior sequestrador de Paris.