3- encontro com um desconhecido

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Acabo de voltar da casa dos meus pais, que, tenho que admitir, nunca é uma experiência empolgante.

Sempre tem um parente distante que aparece só para comentar o quanto cresci, que é um absurdo eu não ter um emprego fixo, ou não ter um namorado com meus plenos vinte e dois anos. Nessas situações, apenas dou um sorriso amarelo e me retiro.

Agora em casa, desgastada, começo a limpar minha cozinha, quando recebo uma mensagem de Adrien. Não sei o que me surpreende mais: a mensagem em si, ou o fato dele ter meu número.

Alya deve ter passado para ele, penso. Isso eu resolveria com ela depois. Abusada!

A: E cá estou eu, lhe convidando para o prometido café. Posso te buscar às cinco?

M: Tem meu número, e agora meu endereço? Vou começar a pensar que você que é meu perseguidor, Agreste.

A: Você sabe muito bem que não é possível. Então, está marcado?

M: Está, Adrien. Não faça eu me arrepender.

A: Não vou.

Claro que planejava estar me arrumando para um "encontro" com um estranho qual beijei por puro desespero. Claro.

Dá cinco horas, e como planejado, ele me manda uma mensagem avisando que chegou.

Saio do prédio e me encontro com ele, que está do lado de fora do carro.

— Para onde vamos? — pergunto, enquanto entramos.

— Quero que conheça um lugar. — é sua resposta, apenas. Ele engata a primeira e o carro começa a andar.

— Só por favor, não me sequestre. Não quero beijar outra pessoa para poder fugir. — brinco.

— Relaxa, Marin. Sabe o lugar que estávamos mais cedo? — acinto. — É um clube, na verdade. Eu e Nino vamos lá desde sempre. Gostaria de ir? Prometo que vai ser legal.

— E tenho opção? — pergunto.

— Claro que tem. — ri. — Mas acho que vai ser bom, sabe? Se distrair dessa parada toda do noticiário, o que aconteceu com você recentemente...

— É, acho que tem razão. Espero não me decepcionar.

Chegando lá, ele estaciona, e saímos do veículo. A fachada do clube é precária, mas quando entramos, é um ambiente completamente diferente.

— Aqui tem uma política de privacidade um tanto... peculiar, diria. Então vou indo na frente. — olho para ele, confusa. — Relaxa, você já vai entender.

Ando até a entrada, enquanto Adrien desaparece.

Acontece que é obrigatório o uso de máscaras e de um codinome. Estranho, muito estranho.

Como a única que tinha lá era uma de joaninha, meu codinome foi Ladybug. Ridículo e infantil, eu sei, mas que escolha eu tinha?

Passo pela catraca e, finalmente entro.

Me deparo com um galpão imenso, com um segundo andar estilo loft. Conforme vou andando, a música e luzes vão aumentando. E, claro: estava completamente lotado.

Era muito a se assimilar. Um minibar no fundo, uma pista de dança no centro, muitos equipamentos de luz e som. A cabine do DJ no segundo andar, toda de vidro. Sofás e poltronas com pessoas esparramadas, gente pulando, dançando, gritando.

Fui até o minibar primeiro. Para tentar amenizar meu arrependimento de ter vindo, peço um gim com energético. Ao menos vou ficar mais solta.

Após o terceiro copo, fui para a pista de dança. As batidas e vibrações da música eram hipnotizantes, dava-se para sentir por todo corpo. Me deixei levar pelo mar de pessoas que dançavam, gritavam, e cantavam.

Olho em volta, tentando achar Adrien. Quando percebo que procurar é inútil, desisto.

Não me lembro a última vez que me diverti tanto. Dançava junto com a música, cantava olhando nos olhos de desconhecidos, pulando e rindo.

Mas música para por um instante, e o foco vai todo para o segundo andar do loft.

— Boa noite! — um rapaz exclama no microfone, recebendo gritos histéricos como resposta. — Quero ver todos dançando, ein! — gritos, e mais gritos. Já estava com dor de cabeça. Para que tanta baderna?

O garoto, todo vestido de preto, desce para a pista. O acolhem quase que imediatamente, e a música retorna. O que está acontecendo?

Vou para o minibar pedir mais uma bebida.

Após o tempo, esse mesmo rapaz vem onde estou, para pedir um drink. Não consigo disfarçar meu olhar de desgosto.

— O de sempre, por favor. — pede ao barman. — Parece que não gostou da minha recepção calorosa. É nova aqui? — comenta. Eu era, surpreendentemente, a única no minibar, além dele.

— O que foi, afetou seu ego? — termino minha bebida e me levanto, planejando já sair dali.

— Uou, espera aí! — ele pega seu copo e levanta também. — Quanto mal humor para uma novata. Posso ao menos saber seu nome? Não vou parar de insistir até saber.

— Ladybug. E espero não te ver até o final da noite. — tento caminhar para a pista novamente, mas ele se coloca em minha frente. Suspiro.

— Aos seus serviços, My Lady... — ele se curva, sorrindo. — Queria lhe desejar "noite", pois só seria boa se você fosse minha.

— Ah, por favor. Pensou nessa sozinho ou precisou de ajuda?

— Me chamo Chat Noir, caso queira saber. — ele tenta beijar minha mão, mas a retiro na hora.

— Pelo que eu saiba, tamanha fama requer ocupação também, não? Com certeza tem outras pessoas para perturbar. — o olho.

— No momento, minha atenção está só em você. E qualquer pessoa aqui imploraria por isso, sabe. — ele se aproxima.

Sei que ele quer provocar. Então farei o mesmo.

— Vai sonhando, gatinho. — falo, em um tom que apenas nós dois podemos ouvir, devida proximidade dos rostos. 

— Vou, com toda certeza. — diz, com um leve sorriso nos lábios.

Eu me viro e finalmente volto para a pista.

A noite havia apenas começado.

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