O vento gelado que vinha do ar condicionado, fazia ela se arrepender por não ter aceitado o cobertor oferecido pela enfermeira. A fina roupa do hospital, era constrangedora, dando a impressão de que estava quase nua.
Sentada na cama, do quarto que dividia com uma velha senhora que havia tido uma crise de diabetes, Celine assistia televisão, sem se importar com o conteúdo que passava, pois apenas pensava que finalmente tinha paz. Mesmo que aquela senhora ao lado estivesse caducando, e a confundisse com sua neta, ela agradecia que sua mãe tinha ido trabalhar.
As únicas coisas que incomodavam eram o frio do ar-condicionado sempre ligado, a fome eterna, causada pela comida do hospital não encher, e o tédio por não ter nada para fazer.
Celine já tinha decorado os nomes das enfermeiras e do médico que cuidavam dela, quais crianças apareciam na vista de sua janela, e começava a decorar quais os carros que sempre estavam no estacionamento. Logo, se mais alguns dias se passassem, ela certamente decoraria também o cardápio da semana, incluindo a sobremesa.
Pelo menos as pessoas ali a tratavam bem e eram atenciosas.
"Pelo menos não estou em casa" pensava ela de vez em quando para se animar.
E nesse ritmo de letargia e monotonia, passou a manhã daquele dia. O almoço veio, como nos outros dias, com pouco sal, o que tornava a refeição difícil de comer. Depois, ela conversaria sobre os mesmos assuntos com a senhora do lado, que logo pegaria no sono, expondo suas incríveis habilidades vocais com seu ronco.
E no fim da tarde, o médico viria ver se estava tudo certo, e lhe diria algo positivo, porém duvidoso sobre seu tratamento. Assim que o médico saísse, uma enfermeira a auxiliaria no banho.
Logo, seria o horário do jantar, e depois iria dormir, e como todos os outros dias, sentiria a enfermeira da noite checando seu cateter, e suas medicações.
"Sim... vai ser mais um dia comum..."
Porém, como obra do destino que quer contrariar nossas expectativas, depois do horário do almoço, uma enfermeira bate na porta do quarto.
"Deve ter vindo acompanhar a senhora ao lado."
No entanto, a moça, que era loira e se chamava Raquel, entrou e foi logo á frente de Celine para lhe dizer algo:
— Celine você tem visita.
— Visita? É minha mãe? — A jovem ficou pálida como papel quando falou aquilo.
— Não, é um amigo seu.
E nisso, a enfermeira fez um sinal para alguém que estava na porta, que prontamente entrou e foi até a cama onde ela estava:
— Oi Celine.
— Oi Lucca. — Respondeu feliz por ver o amigo.
— Certo, então eu já fiz a minha parte, e vou indo. O horário de visitas é até as 17hrs.
— Ok, entendi, eu vou ficar até esse horário então. — Confirmou o rapaz.
Os dois se olharam por alguns momentos, analisando cada pedacinho um do outro, tentando guardá-los na memória para quando não pudesse se ver. Ela sentia um burburinho brotar em seu peito, e seu estômago parecia dar risadas. E Lucca não conseguia para de corar, seu coração parecia correr uma maratona.
Ficar muito tempo sem se ver, fez eles perceberem o quanto queriam se encontrar.
— Vem, senta aqui. — Falou Celine apontando para a cadeira ao lado da maca, onde o acompanhante poderia ficar.
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Boneca de Porcelana
Mystery / ThrillerCelina, como toda garota de 16 anos, quer poder sair, se divertir com os amigos, e quem sabe, ter um relacionamento. Todavia, seu corpo parece não colaborar, pois sempre que começa a fazer vínculos, sua saúde piora, e ela passa a ter que ficar reclu...