Capítulo 6: a porta que vai para baixo

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 Naquele dia eu descobri... naquele dia, Celine descobriu que Lucca era bem diferente do que ela imaginava, em um bom sentido. O mesmo aconteceu com o rapaz, que nem podia imaginar que aquela garota, que parecia que iria se quebrar a qualquer momento, era tão energética e arteira. Se ele fizesse todas as ideias que ela tinha em mente, os dois acabariam, no mínimo, com um braço fora do lugar.

Foi uma tarde que passou rápido, e deu entrada para a fria noite que estava por vir. É estranho, mas parece que quem vive muitos momentos difíceis, fica com um sentimento de desconfiança quando um momento de felicidade e paz acontece. A pessoa fica desconfiada, esperando quando a próxima dificuldade chegará.

Era assim que Celine sentia-se.

Por isso, quando alguém bateu na porta às 19 horas, ela quase deu um pulo de susto no sofá.

— Lucca! Você está em casa?! Eu esqueci a chave hoje de manhã! — Falou alguém do lado de fora.

— Mãe, já vou! — Respondeu ele já indo atender a porta.

A entrada mal tinha sido aberta, quando uma mulher, muito bela e com o mesmo tom de pele de Lucca, entrou. Era loira e carregava várias sacolas de papel na mãos, que acabavam por tapar sua visão. Por conta disso, passou reto para a cozinha sem notar a presença da visita no sofá.

Uma menina de 6 anos a seguia correndo, indo direto para onde a mãe estava.

— E aí, comeu o macarrão que eu deixei no forno? Era só esquentar, então deu tudo certo né?

O rapaz começou a ficar vermelho, e tentou por meio de sinais, fazer com que sua mãe notasse a visita, a garota no sofá. Porém, sua tentativa foi inútil pois a mulher estava ocupada guardando as compras na cozinha. Ela apenas continuou a falar.

— E a escola como foi? Conseguiu falar com aquela menina, a Celine?

— Mãe! — Disse ele em um estranho grito em tom baixo.

Só então a mulher olhou para a sala e me viu. Sua boca moveu-se sem emitir som algum por alguns segundos, antes que um diálogo apropriado surgisse em sua mente. Os olhos dela percorreram o ambiente, notando sem demora a cadeira de rodas. Um silêncio seguiu a situação, gerando um pequeno constrangimento, e ninguém sabia como começar a falar.

Felizmente, a pequena irmã de Lucca, que ainda era pequena demais para perceber essas situações, veio até mim... foi até Celine. A menina era pequena, magra e com grandes olhos castanhos e redondos, que a fazia parecer um hamster.

— Oi, eu sou a Maju, irmã do Lucca. E você, quem é?

— Eu sou Celine, estudo na mesma escola que seu irmão.

— Ah, você que é a Celine! Meu irmão fala muito de você! É amiga dele! — Falou ingenuamente a menina, já se sentando ao meu lado.

Sem saber o que responder, ainda mais por perceber o rapaz mais vermelho que uma pessoa pode ficar, ela apenas acenou com a cabeça sorrindo para a criança.

— Você quer ficar para jantar? — Perguntou a mãe.

— Não, obrigada, eu tenho que avisar minha mãe... na verdade, ela deve estar preocupada já.

— Verdade! Não acredito que nos esquecemos do mais importante! — Exclamou Lucca já indo para o telefone.

— Ah... mas eu quero brincar com ela! — Disse Maju.

— Hoje eu tenho que ir para casa, mas outro dia, quem sabe eu posso vir brincar com você.

— Sério! Ebaaaa! — Falou a criança saindo correndo pela casa.

Boneca de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora