Capítulo 4: passa tempo

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Durante aquela semana, Celine não compareceu na escola. O clima esfriou cada vez mais, e os flocos de neve já cobriam todas as ruas, fazendo com que as aulas fossem prorrogadas até a melhora das pistas.

O diretor e os professores, se organizaram para mandar as tarefas via correio para os alunos, e avisaram, por telefone, da possível paralisação devido à nevasca que se aproximava. Porém, alguns alunos não responderam às ligações, e deste modo, os professores tiveram que ir até suas casas.

Por isso, o professor Jefferson estava na frente da casa de Celine, parado no pequeno portão de ferro que dividia o terreno da calçada. O envelope com das tarefas em uma mão, parecia hesitar em colocá-lo no correio, olhando constantemente para todas as janelas da casa. Mas não havia uma janela sequer sem cortinas bloqueando a visão do interior.

Decidiu tocar a campainha que ficava no muro, e passados alguns minutos, a mãe da jovem apareceu na porta, usando um grosso roupão cinza e pantufas.

— Ah! Bom dia minha senhora!

— Bom dia. - Respondeu mal humorada.

— Eu vim aqui deixar as atividades escolares de Celine, pois a escola está paralisada por conta da neve.

— Sim, pode deixar aí no correio. - Falou ríspida.

O professor ficou sem ação por um tempo, parado no lugar em que estava. A mulher, com seu cabelo despenteado e olhar vazio, também ficou imóvel na soleira da porta.

— E como está Celine? Ela andou faltando bastante ultimamente.

— Ela não estava bem, por isso não pode ir para a aula.

— Entendo...

A conversa não andava, porém, o professor não saia da frente da casa, o que tornava a situação mais desconfortável a cada minuto que se passava. Ele continuou olhando as janelas, procurando por algo, e se assustou ao ver a cortina se mover de leve em uma delas.

Seu olhar preocupado repousou ali, tentando ver através do tecido que cobria a verdade que era escondida. A mulher, percebendo aquilo, tossiu alto chamando sua atenção para o desconforto que sentia por estar ali pegando frio.

A neve, que até então só se mantinha no chão, começava a cair novamente formando uma linda chuva branca, e aumentando o frio. Nisso, o professor se deu por vencido, colocou o documento no correio, acenou um tchau, e se foi.

Mas de longe, no fim da esquina, ele olhou mais uma vez para a janela procurando aquela jovem. Seu olhar preocupado se desapontou novamente ao encontrar só o tecido verde da cortina.

O frio que fez aquele dia, era sentido em cada parte do corpo, até mesmo por quem estava dentro de casa. A maioria das pessoas ficou em seus lares, próximo à lareira com sua família. Mas naquela residência que o professor acabara de visitar, não havia lareira no segundo andar, e por isso, Celine batia o queixo deitada na cama.

Tinha ouvido que alguém havia passado ali, mas como estava com febre, não conseguiu se levantar, e apenas ficou em silêncio tentando escutar o que era dito. Assim, sabia da existência da tarefa dentro do correio, e queria poder fazê-la para pelo menos esquecer-se do desconforto que sentia.

Porém não ouviu sua mãe vindo até o quarto para trazê-la. Tudo estava silencioso.

As horas passavam se arrastando, e sua mente vagava entre um estado de sonolência e despertar.

Tudo doía, e sentia muito calor.

De repente, começou a ouvir um estranho barulho em sua janela.

TOC, TOC... TOC...

Boneca de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora