Capítulo 8: último dia

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Aquele sentimento frágil de felicidade, de esvai com o cair da noite. O frio parecia congelar o quarto, e mesmo que Celine estivesse dormindo, podia sentir o desconforto. Carine não havia retornado naquele dia para vê-la, e a menina pensou que não a veria mais. Porém, quando a enfermeira do turno noturno veio checar se estava tudo bem com ela, a garota acordou.

E com os olhos sonolentos, percebeu que havia mais alguém no quarto. Apesar da escuridão do recinto, ela pode sentir uma presença no canto. Um estranho calafrio percorreu sua espinha ao encontrar dois olhos olhando-a no escuro.

— Celine minha filha, você acordou? — Perguntou a mãe com a voz doce.

A enfermeira se afastou um pouco para dar espaço as duas. Porém, a garota fechou os olhos fingindo dormir.

— Ah, que pena... pensei ter visto ela acordar. — Disse a mulher.

— Isso acontece, às vezes queremos tanto que alguém melhore, que até vemos coisas. — Respondeu a enfermeira fazendo algumas anotações.

O clima tenso entra as duas, era acompanhado pela garota que controlava cautelosamente sua respiração.

— Então, como ela está?

— Está ótima! Quando chegou, o que ela teve foi uma hipotermia, mas agora está tudo certo com ela. Bom, ela tem anemia, e precisa de alguns suplementos, mas depois que se recuperar vai poder sair correndo daqui. — Falou a enfermeira sorrindo.

"Sair correndo? Como assim?"

Houve um momento de silêncio longo e hesitação. O som das máquinas do hospital era tudo que ecoava no quarto. Nem mesmo a velha roncava.

— Senhora, você é a mãe dela? — Disse finalmente a enfermeira.

Sua voz parecia hesitar.

— Sim, porque pergunta? — Carine tinha novamente aquele tom de voz apático e rude que a garota conhecia.

— Porque nos exames dela, bom, parece que ela andou ingerindo algo que fez mal para o estômago dela.

A enfermeira disse aquilo, e logo se arrependeu. Sua respiração tornou-se mais pesada e rápida.

— O que você está insinuando? — Carine falou enquanto segurava com força minha mão, até ela doer.

A mãe estava nervosa, pois apertava a mão da garota parecendo conter-se assim.

— Nada minha senhora, só estou perguntando se você a viu ingerindo algo estranho.

— Claro que não! Está desconfiando da minha posição de mãe?! Eu faço de tudo para essa menina! Ela é sangue do meu sangue, e eu nunca poderia fazer mal a ela! Desde que nasceu é assim fraquinha, e eu, sacrifiquei tudo na minha vida, minha felicidade, tudo por ela! — O tom de voz que tinha começado calmo, agora era quase um grito.

— Sim! Se acalme minha senhora! Foi um engano meu!

E com a comoção a velha da maca ao lado acordou assustada e começou a chamar pelo nome de seu falecido marido, causando mais caos no quarto. A enfermeira decidiu atendê-la antes que a mesma tentasse sair da cama e caísse no chão, e nesse momento, Carine se aproximou.

O calor de sua boca próxima ao ouvido, fez seu coração congelar.

— Vai continuar fingindo que está dormindo?

Celine ficou imóvel ao ouvir aquilo.

E só depois que a mulher se afastou, ela pode voltar a respirar normalmente. Porém, ainda não queria abrir os olhos, e mesmo que não os abrisse, não pode mais dormir. Estava completamente tensa, e pode sentir a noite inteira a presença dela ao seu lado.

Boneca de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora