Capítulo 13: amizades

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A curiosidade é uma estranha característica humana. Algo essencial para a sobrevivência, uma vez que permite que tenhamos a audácia de procurar conhecer coisas novas. Mas ao mesmo tempo, pode nos levar a um destino ruim se não for bem dosada. Se não for bem intencionada, ou tratada, a curiosidade pode até vir a matar.

Ela se alimenta dos nossos pensamentos, de nossas hipóteses, dos desejos de saber mais e mais. E igual a como alimentamos um pequeno animal, Celine alimentava todos os dias sua curiosidade, de uma forma, que logo ela a consumiria..

Celine sempre desconfiou que havia algo perto dela que ela não sabia. Algo que não podia ser dito. Mas nunca teve uma atitude forte o suficiente para fazer algo, talvez porque fosse sempre conformada com sua realidade, ou talvez porque não soubesse como mudar. Bom, querendo ou não, tinha se acostumado com sua vida, que mesmo que fosse ruim, era algo que ela conhecia. Não gostava de mudanças, preferia morrer no tédio a sair e descobrir o mundo.

Contudo, algo tinha mudado. Depois que Lucca se foi, ela passou a se questionar mais sobre o que acontecia com seus amigos, pois todos se afastaram dela. E isso a levou a se questionar muitas outras coisas.

Sua cabeça não conseguia mais se conformar com o não saber. Ela sempre teve suas suspeitas e hipóteses, mas agora, com as palavras de Otto e o súbito sumiço de Lucca, as perguntas só aumentaram. Por isso, a menina começou a pensar em um plano, que colocaria em ação quando estivesse sozinha em casa.

"Primeiro eu preciso treinar, preciso conseguir andar um pouco. Acho que se eu parar completamente de tomar os remédios, eu consigo." Pensou anotando em um caderno sob sua escrivaninha. "Depois vou ter que achar a chave do porão... porque eu acho que tem algo escondido lá. Não sei o que pode ser..."

Celine anotou alguns materiais que ela pensou que seriam úteis para ela, e sentiu-se como em um filme de investigação.

Corda

Comida (barrinhas de cereal?)

Lanterna

Água

Anti Histamínico (sem alergias no dia!)

Curativo?

Alicate

A lista parecia um tanto decente, e por fim, percebeu que precisaria pelo menos levar o número de telefone de alguém, para o caso de acabar em uma situação ruim ter com quem contar. Como obra do acaso, ao pensa nisso, o tamagochi vibrou, indicando a hora de alimentar seu bichinho. Ela o fez, e lembrou-se dele. Lembrou que tinha memorizado o número de telefone da casa dele.

"Mas ele não ia atender... ou ia?"

Olhou pela janela do quarto na vã esperança de vê-lo ali, perto de sua cerca com aquele sorriso bobo. Ele sempre conseguia fazê-la rir, mesmo sobre as coisas mais simples, e agora, depois de ter retornado às aulas, não o viu nenhum dia sequer daquela semana. "O que será que minha mãe falou no telefone para a mãe dele?" A dúvida permanecia como mais uma das questões que atiçou sua curiosidade.

Não tinha respostas, só perguntas.

"Bom, não adianta ficar pensando no que aconteceu. Tem o Otto também, pelo menos ele tá lá na sala." "Isso, amanhã eu pego o telefone dele e falo do meu plano. Talvez ele possa até me ajudar."

Celine continuou ali sentada olhando para a lista. Sua expressão se escureceu enquanto ela batia o lápis sob o papel fazendo inúmeros pontinhos resultantes de sua ansiedade.

Boneca de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora