Mensagem

Quem vive de passado é museu

Já era do conhecimento dela que o assunto cedo ou tarde viria à tona, mas nem mesmo em seus piores pesadelos, Sakura imaginava que encontraria Sasori, seu ex-chef, cara a cara naquele lugar. E de todas as desgraças que o destino poderia aprontar para ela, aquela parecia ter sido escolhida a dedo. Em situações como essa, ela teria simplesmente passado a mão no telefone, corrido para a primeira cabine do banheiro e chorado as pitangas no ouvido de Ino. No entanto, estavam temporariamente brigadas pela mesma razão.

Um dos motivos das piadas sobre seu relacionamento com Sasuke ou Itachi era justamente porque, graças a Sasori, sua carreira quase desmoronou. E era imperdoável que as amigas não se lembrassem disso nem mesmo num momento de embriaguez. Tudo naquele dia parecia estar culminando para trazer o assunto à tona e, depois de muito tempo, Sakura parecia não saber o que fazer.

Enfrentar todos aqueles homens, mesmo com Sasuke ao seu lado, demandava coragem. E nunca na vida ela se sentira tão sozinha. Era como pisar em uma frágil plataforma de vidro, que ao primeiro passo tinha a chance de se romper e machucá-la, ao cair em um abismo sem rumo.

— Eu sou mesmo uma idiota - murmurou para si mesma, encarando o espelho da pia. — Achei que tinha superado aquele babaca, mas cá estou, escondida no banheiro e tremendo como uma vara de bambu. Sou patética.

A secretária suspirou de frustração e, ao molhar o rosto na pia, logo percebeu que tinha borrado toda a maquiagem, o que exigia que a refizesse.

— Parabéns, Sakura. Você é realmente demais — reconheceu a besteira que tinha acabado de fazer. — Mas pelo menos agora você pode chorar como um bebê.

Ao secar o rosto com o papel toalha de qualidade duvidosa, ela sentiu a textura áspera. Era algo muito simples para um estabelecimento de luxo, mas não podia esperar muito, tendo corrido para o primeiro banheiro privativo daquele andar como um gato fugindo do banho.

Na primeira pausa, não pensou duas vezes antes de desaparecer no corredor e trancar-se no primeiro lugar que encontrou, mesmo que precisasse simular uma dor de barriga sempre que alguma funcionária perguntasse se estava bem.

Nesses momentos, Sakura se sentia bastante idiota, pois quase sempre tentava passar uma imagem de segurança. Lembrava-se até mesmo de quando enfrentou Sasuke, sabendo que estava terrivelmente ferrada, mas aquela situação a fazia lembrar de uma época em que se considerava mais fraca.

[...]

Dois anos antes:

A sala que ela tinha era relativamente grande para alguém que estava começando na equipe de gestão. Sakura girava incontáveis vezes na cadeira do escritório sempre que alguém não estava olhando. O plano estratégico que havia estabelecido estava sendo um sucesso, e seus resultados eram satisfatórios, embora nem todos ali estivessem felizes com isso. Sempre que passava pelos corredores, os olhares de todos, principalmente dos homens, eram de desprezo e inveja. Ela sabia perfeitamente, mas não se importava, contanto que pudesse fazer seu trabalho.

A sala que havia recebido era bastante confortável e tinha uma vista maravilhosa para a cidade, permitindo observar um belo entardecer sempre que o sol se punha.