Famílias

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  Os primeiros quatro meses de Lily em um "mundo de pessoas como ela" passaram voando e daqui alguns dias seria hora de ir para casa passar os feriados de Natal e Ano Novo; a maioria dos alunos estavam muito animados para as festas, até mesmo os que ficariam na escola estavam empolgados, mas como nem tudo é um mar de rosas, haviam algumas exceções. Conversando durante o almoço sobre as expectativas para o feriado, Lily viu que nem tudo era como pensamos:

  - Estou muito animado pro Natal! Esse ano minha família vai viajar.- disse Peter

  - Então não vai vir pra ceia esse ano Pete? Isso é realmente uma pena.- James respondeu- Falando nisso, o que fazem nos feriados? Minha família é mista então no Natal fazemos da forma católica e no Ano Novo celebramos da forma hindu! É super incrível; talvez ano que vem eu consiga chamar vocês- o garoto disse sorrindo alegremente

  - Eu passo o Natal na casa da minha mãe, com a minha família trouxa. Eu acho isso super legal, porquê da pra matar a saudade dos meus velhos amigos... E também porquê a casa da Lene fica bem estranha no Natal.- Mary comentou, deixando Marlene indignada- E você Lily?

  - Ah, eu até que gosto do Natal. Mas eu não recebo muitos presentes nem nada do tipo, só vamos para a igreja, rezamos e comemos à meia noite. Às vezes ganho suéteres novos, isso é muito bom.- Lily sorriu se lembrando de quando sua falecida avó tricotava suéteres para ela.- No ano novo eu normalmente não fico acordada, não fazemos uma grande festa e minha família não gosta de bebidas. Mas a sensação de voltar pra casa é reconfortante, eu não vejo a hora de ver minha mãe de novo!

  - Também não recebo presentes- Remus ergueu o copo de suco como um brinde- Somos só eu e minha mãe na verdade. Ela não tem muito tempo, mas sempre da um jeito de sair mais cedo do mercado no fim do ano; também recebemos uma cesta, mas não é nada comparado a uma ceia. Na verdade, acho que nunca tive um Natal como na TV. Quem com certeza deve ter o feriado mais incrível de todos é Sirius!- todos olharam para o garoto; ele estava muito quieto desde seu aniversário em novembro, seus olhos azuis estavam vazios e cinzentos como uma tempestade, ele não parecia muito ansioso por deixar Hogwarts. Muitas vezes, Sirius era encontrado parado encarando a mesa da sonserina enquanto mexia em seus cabelos, agora não tão curtos quanto no início das aulas; o garoto também não havia comido nada nos últimos três dias, pelo menos não junto dos amigos.

  - Sirius?- James cutucou o garoto, que voltou a si.

  - Eu... não gosto de falar sobre isso.

  - Ora Sirius, deixa de ser bobo. Não precisa ter vergonha se sua família não comemora de maneira casual. Eu e meu irmão por exemplo apenas comemos besteira enquanto escutamos o rádio; as vezes os caras do time vão lá em casa e levam uns vasos de planta pro meu irmão, fala sério, ele parece uma velha com tanta planta no quarto dele!- Marlene riu

  - Esse é o problema. Vocês passam um tempo legal juntos. Todos vocês, mesmo com todas as diferenças nas famílias e costumes; eu não. Eu nunca tive um Natal, eu nunca tinha visto uma árvore toda decorada é iluminada até hoje; Hogwarts foi o primeiro lugar em que eu vi uma decoração de Natal. Eu só vou voltar pra casa por conta do Regulus e também porquê se eu me atrasar um minuto para o trem, Bella iria ter um ataque de nervos e Cissa iria me dar um sermão enorme sobre eu ter doze anos e a responsabilidade de seis.

  - Quem é Regulus?- perguntou um James genuinamente curioso

  - Meu irmão mais novo. Ele vai vir pra cá ano que vem e sinceramente eu não vejo a hora. Não suporto a ideia dele sozinho lá em casa com o papai e a mamãe.- Sirius abaixou a cabeça e empurrou seu prato, que estava apenas com a comida afastada.

  Apesar de não serem tão próximos, Lily se sentiu mal por Sirius. Ela sabia que era ruim ter um pai e uma irmã que não te apoiam, mas uma família inteira com certeza era muito pior que isso. Certamente Remus também se sentiu mal por afirmar que o feriado do garoto deveria ser incrível, já que passou o resto do almoço quieto, apenas lançando alguns olhares de canto para Sirius, ou trocando sorrisos e acenos para a mesa da Corvinal.

    ****

  Mais tarde, no quarto, enquanto Marlene tentava fechar seu malão sentando-se em cima do mesmo e Mary e Alice cantavam junto com a vitrola, Lily decidiu que se encontraria com Snape, ja que havia arrumado suas coisas com antecedência. A garota saiu do quarto sem que as amigas nem percebessem e desceu as escadas até o salão, onde se encontrava um Sirius choroso e muito triste, passando as mãos pelos cabelos pretos como carvão; seu rosto estava vermelho e seus olhos fechados, com lágrimas cristalinas escorrendo por suas bochechas; quando a ruiva se aproximou, o garoto limpou o rosto e fungou:

  - Não tem nada acontecendo. Só estou com alergias. Se Mary ou Marlene te mandaram aqui, vá embora.

  - Marlene e Mary não me mandaram a lugar nenhum, Sirius. Eu estava indo falar com Snape.

  - Então vá falar com ele. Aproveite e o mande tomar um banho. Me deixe em paz cenoura.

  - Você é tão grosseiro! Só queria te ajudar.- Lily saiu bufando irritada; mesmo ao sair pela porta do retrato, ela ainda conseguiu escutar os resmungos de Sirius, que provavelmente tinha voltado a chorar.

  Lily estava nas masmorras, encostada na parede de pedra gelada, esperando que seu amigo saísse do salão da Sonserina para que pudessem conversar. Lily esperou por minutos, até mesmo horas, e nada de Snape; ao invés disso, um rosto conhecido por Lily saiu da enorme porta de ferro, era Dorcas Meadowes, uma primeiranista.

  - Olá Evans.- Dorcas passou de cabeça baixa, seu cabelo alisado tampando seu rosto.

  - Meadowes.- Lily cumprimentou- Você sabe se Sev está lá dentro?

  - Severus está lá dentro com Evan e Barty. Acho que ele está mal.

  - Mal?! Como assim Meadowes?

  - Ele estava chorando quando saí. Acho que não quer ver ninguém.- a garota saiu e subiu a escada;

  - Mas eu sou a melhor amiga dele...- Lily falou baixinho, certamente ninguém escutou.

  A menina esperou mais alguns minutos, agora sentada no chão frio, duro e desconfortável; estava quase desistindo e se levantando, quando Snape saiu acompanhado por Crouch e Rosier.

  - Sev!- Lily se levantou num pulo, seus cabelos estavam arrepiados e seus lábios roxos e rachados por conta do frio, suas bochechas mais vermelhas que o habitual.

  - Lily.- o amigo respondeu secamente, seus lábios finos estavam comprimidos em uma linha e ele estava excessivamente pálido. Seus cabelos lisos até o ombro escorriam pelo seu rosto de uma maneira muito feia.

  - Você está bem?- a menina perguntou preocupada, colocando a mão no ombro do amigo

  - Você é cega ou é burra? Não está vendo a cara dele? Parece que está bem?- Respondeu Crouch quase gritando, de modo irritado- Garotas são tão irritantes. Sempre se metendo onde não são chamadas.

  - Eu tenho certeza que Severus estava mal por ter que nos deixar e voltar com essazinha.- provocou Rosier com ar de deboche

  - Isso... Isso é verdade Sev?- a ruiva disse com lágrimas nos olhos. Estava tão frio que a menina sentiu que seus olhos iriam congelar se começasse a chorar então segurou o máximo que pôde.

  - Não, é claro que não. Vocês dois, calem a boca. Na real, eu estava pensando... Estava pensando em passar os feriados aqui. Você sabe; não quero voltar para casa, por conta do meu pai e tudo mais.

  - Ah Sev... Eu sinto muito. Mas você tem que voltar! Por favor! Se não por mim, pela sua mãe!- A menina praticamente implorou

  - Escute sua amiguinha Severus. Só quem passa os feriados aqui são os esquisitos que nem a família os quer, ou então os pobretões, que os pais dão graças de ter um a menos pra sustentar. Quem liga que seu pai é bêbado e sua mãe maluca? Pelo menos eles não são primos.- Certamente Evan Rosier não era o amigo conselheiro. Snape suspirou é fechou os olhos, por fim, olhou para Lily com um olhar triste e ascentiu com a cabeça. Ele voltaria para casa. Os dois amigos se abraçaram e Snape voltou para dentro do salão junto de Evan e Bartolomeu, ele ainda tinha que arrumar suas coisas para a viagem.

Mexeu com uma, mexeu com todas! (Juro solenemente não fazer nada de bom)Onde histórias criam vida. Descubra agora