De volta a Cokeworth

10 2 0
                                    

  - Seria melhor se você não tivesse voltado.- foi a primeira coisa que Petúnia disse quando Lily colocou os pés em casa, seguido de uma brincadeirinha idiota dando um empurrão de leve no nariz da mais nova. Lily odiava quando a diziam "tem algo sujo aqui"; ela sempre olhava para baixo, e sempre se lembrava de Petúnia segundos depois.

  - Também estava com saudades Petals.- Lily ergueu o rosto e olhou nos olhos castanho-esverdeados da irmã enquanto estendia a mão para um cumprimento; as duas não se abraçavam realmente desde o aniversário de nove anos de Lily, quando sua avó faleceu.

  - Não me chame de Petals. Onde estão mamãe e papai? Por acaso você os transformou em corujas?

  - Ainda não aprendi a fazer isso.- Lily respondeu com um sorriso de canto; ela certamente odiava quando os garotos a respondiam de maneira atravessada, e percebeu que isso irritaria muito mais sua irmã mais velha do que uma pequena Lily indefesa e sem respostas.

  - Menina insolente! Me respeite, eu sou quatro anos mais velha que você! Enquanto estava naquela escolinha ridícula e inútil eu estava aqui ralando pra caramba no ensino médio!- disse Petúnia olhando para as próprias unhas pintadas de rosa choque e meio borradas na mão direita.- Responda direito, onde estão mamãe e papai?

  - Eles foram visitar a Sra. Ellen e ajudá-la com as coisas da casa. Mamãe disse que é para você me ajudar com o malão.- ela disse de maneira mais sutil dessa vez, quase como uma fada.

  - Uhm. Você mesma pode colocar no quartinho da escada, não acha?- Petúnia olhou as coisas de Lily com cara de pouco caso.

  - Não cabem dois malões no quartinho da escada, já tem muita coisa lá dentro e eu tenho deveres de casa.

  - Dois malões? Eu só vejo um. Quatro meses fora da escola e já desaprendeu a contar?! Achei que era um gênio.

  - Sev vai passar o feriado conosco, no quarto de hóspedes, ele não quer ver o pai dele, sabe como é. As coisas dele vão ficar no quartinho da escada e as minhas vão ficar no meu quarto, só preciso que me ajude a subir por favor.- a menina pediu com gentileza

  - Era só o que me faltava! Como se não bastasse você, ainda vai trazer aquele seu amiguinho estranho e imundo pra dentro de casa! Da minha casa!- Petúnia subiu as escadas bufando, reclamando e fechou a porta de seu quarto com tanta força que todo o andar de baixo se estremeceu. Ela não ajudou Lily com seu malão; a pequena garota teve de subir a escada sozinha, com muita dificuldade, levando a bagagem que tinha praticamente sua altura. Quando a ruiva finalmente chegou em seu quarto, ela trancou a porta devagarinho e se ajoelhou no tapete diante de sua cama, fechou os olhos e pediu fielmente para Deus que sua irmã fosse boa com ela por pelo menos um Natal e nada mais.

    ****

  - Já vai! Já vai! Já estou indo! Devem ser as crianças do coral da igreja! Uma pena que vocês dois não puderam fazer parte este ano.- Lamentou a Sra. Evans enquanto ia apressada atender a porta, ela não podia deixar pobres crianças esperando. Assim que a porta se abriu, as crianças começaram a cantar em coro, muito mais bonito e organizado que no ano anterior, oque fez Lily pensar que até mesmo sua cidade estava melhor sem ela; a música desse ano era Jingle Bell Rock.

    ****

  A igreja estava cheia; os sinos tocando e os bocejos de Severus,  as reclamações de Petúnia e as palavras sem sentido da Sra. Ellen em sua cadeira de rodas ao lado do banco eram como um coro no ouvido de Lily; muitos olhavam estranho, cochichando, algumas crianças apontavam assustadas para a mãe de Snape, a pequena ruiva sabia que isso nunca incomodaria a mulher, já que ela mal compreendia oque falavam ao seu lado, quem dirá à bancos de distância; a coitada estava cada dia pior, fadada ao sofrimento.

  O vento gelado entrava pelos vitrais coloridos, aquela era sem dúvidas a noite de Natal mais fria que Lily já havia presenciado em toda sua vida. Ela usava o velho vestido de linho verde escuro que um dia fora de sua irmã mais velha, aquele era seu vestido mais chique, seu vestido de ir para as missas especiais; uma meia calça muito grossa, deveria ser fio 40, para aguentar o frio e, nos pés, a delicadeza acabava, com botas marrom de cano curto muito desgastadas; nevava muito la fora e Lily se recusou a usar suas sandalhas da escola, afinal, elas eram da escola e Deus não iria gostar de vê-la com sapatos vindos de um lugar de bruxarias. Todos os pensamentos ruins da menina se desviaram quando se levantou, sua atenção agora estava voltada para a procissão de entrada, que estava em frente a grande porta de madeira da igreja. Primeiro vinham os ministros, aqueles que entregam a hóstia, cuja Lily não poderia receber por não ter concluído seu último ano de catequese; depois, vinham os Diáconos, aqueles que estão estudando para serem padres um dia; seguidos deles, vinham os coroinhas, em missas normais são apenas dois, mas nas missas de Natal são sempre quatro, três pequenos, representando os três reis magos, levando ao altar ouro, incenso e mirra e um coroinha mais velho, que toma conta dos pequenos. Por último, vinha o padre, aquele que representava e passava as palavras de Jesus para o povo. Naquela noite, quem celebrou a missa foi Johnny, um rapaz jovem, o padre ordenado mais novo que Lily ja viu, sendo apenas 5 anos mais velho que Petúnia, ele tinha 20 anos. Todas as moças se lamentavam por ele ter escolhido a castidade, menos a irmã de Lily, ela gostava do primo de Johnny, Walter Dursley. A ruiva a achava muito estranha por isso, até mesmo ela, de onze anos, achava o padre Johnny um rapaz muito charmoso, mas é claro que não ficava triste por sua escolha, pelo contrário, ela adorava suas missas, ele tinha jeito com crianças e sabia compartilhar a Palavra de modo que não entediasse ninguém.

  Era manhã do dia 26 de dezembro, Lily e Snape desceram a escada e se colocaram diante da pequena árvore de Natal, para abrir os poucos presentes. Neste ano, eles estavam em uma quantidade um pouco maior, mas muitos deles eram das amigas de Petúnia. Lily havia ganhado um conjunto de roupas de frio de sua mãe, tênis novos de seu pai, prendedores de cabelo de Petúnia- certamente a coisa mais barata que encontrou- e alguns livros muito velhos do dono da pequena livraria local, ele sempre mandava-a os produtos que sobravam no estoque. Já Severus recebera bem menos presentes, sendo eles apenas uma calça jeans Levis, presente dos pais de Lily, um par de meias, presente de seu pai e um pacote de papel pardo, escrito:

  "De: Ellen Prince Snape
Para: Severus Snape
Finalmente pude te entregar isso meu filho, a espera acabou" em uma etiqueta já amarelada, que provavelmente havia sido escrita a tempos atrás, quando a Sra. Ellen ainda tinha os movimentos das mãos. O menino pegou o pequeno pacote e olhou para a amiga com os olhos chorosos; desde que receberam a carta, ele vinha apresentando teorias de que sua mãe seria como eles.

  - Sev, se quiser, podemos abrir juntos.- Lily o tranquilizou, colocando a pequena mão no ombro pontudo e magro do garoto.

   - Tá tudo bem. Não sou um fracote Lils.- ele disse fungando enquanto rasgava o papel pardo. Não tinha nada demais no embrulho, apenas um livro surrado de poções avançadas e algumas fotos antigas de quadribol, mas foram o bastante para fazer o garoto chorar. Lily o abraçou e fez carinho em seu cabelo por alguns minutos, até que ele parasse e ficasse mais calmo. Snape não era um nascido-trouxa, ele era mestiço, assim como Mary. Ellen Prince Snape, sua mãe, era uma bruxa.


 

Mexeu com uma, mexeu com todas! (Juro solenemente não fazer nada de bom)Onde histórias criam vida. Descubra agora