A carta

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   Era o terceiro dia de julho, nas férias de verão do ano de 1971, onde todos os garotos e garotas de Cokeworth brincavam alegremente pelas ruas, todos exceto apenas dois:
Severus Snape, um garoto tímido, magricela e narigudo, de cabelos pretos como carvão e uma carranca assustadora; e a menina Lily Evans. Lily, apesar de ainda pequena, era uma garota muito reservada para si, mas ao contrário de Severus, muito simpática, gentil e sorridente. A ruiva levava consigo uma sensação calorosa por onde passava, contagiando a todos com seu bem estar, mesmo sendo uma pessoa relativamente quieta, que geralmente preferia seus livros a interações sociais e esportes; isso era algo que Lily e Severus compartilhavam, ambos eram péssimos em esportes.

   "Tão diferentes, como podem serem tão amigos?!"
  "Vivem grudados, devem ser namorados!"

   Essas e outras frases incômodas faziam parte do cotidiano dos dois amigos, que hoje estavam na praça central da cidade, sentados à sombra de uma árvore em uma partida emocionante e decisiva de xadrez; para Lily, o xadrez era mais emocionante que qualquer esporte.

   - Xeque Mate!- Disse Snape ao capturar a peça branca do rei

   - Como você pode ser tão bom Sev? Treinei durante todo o semestre e ainda não consigo te derrotar.- Lily diz um pouco manhosa

   - Um mágico nunca revela seus truques Lils, nunca!- Exclama Snape antes de uma risada assustadoramente feliz

   Lily gostava de ver o amigo sorrindo, já que estes eram momentos raros levando em consideração seu estado mental e como iam as coisas em sua casa, mas não gostava quando o garoto ria, sua risada provocava calafrios até mesmo em maus agouros. Falando em maus agouros, os pássaros diurnos estavam deixando o cenário aos poucos, sendo substituídos por corvos e corujas. Lily sabia que esse era sinal para voltar para casa, então se despediu do amigo:

   - Adeus Sev, nos vemos amanhã! Diga a sua mãe que mandei abraços!

   A menina voltou para casa. Tudo estava normal e quieto, como todos os outros dias na não-tão-grande cidade de Cokeworth; trocou de roupa, penteou os cabelos, recebeu um insulto de sua irmã mais velha, deitou nos braços de sua mãe, fez a oração de agradecimento pelo dia, jantou e foi se deitar. Tudo ocorreu normalmente, conforme a rotina que a família Evans vivia, mas algo diferente aconteceu, por volta da meia noite:

   Naquela madrugada, Lily desceu as escadas rápidamente, assustada, a garota havia sido acordada por barulhos de coruja na janela. Seguida de seus pais e de sua irmã mais velha, a pequena ruiva arregaçou as mangas do pijama e abriu o vitral da porta, com esperança de espantar a coruja, ao invés disso, por ele saiu uma carta de envelope amarelado e selo vermelho marsala com a letra H estampada com detalhes e floreios.

   - O que é isso mamãe?- Perguntou a garota confusa ao ver que o envelope se dirigia a ela e somente a ela.

   O rosto de sua irmã- Petúnia- se encontrava em chamas, quase tão vermelho quanto os cabelos da mais nova.

   - É uma carta não vê? Acho que seus livrinhos idiotas a deixam mais burra do que o contrário.

   - Petúnia, não fale assim com ela, você já tem quinze anos, deveria dar o exemplo de carinho e afeto para Lily, e não o contrário.- disse Sr. Evans com seu semblante sério e cenho franzido sempre vistos quando se dirigia a primogênita.

   - É uma carta minha querida! Para você! Vamos, vamos, abra, leia o que está escrito!- a Sra. Evans exclamava animada, mais até mesmo do que Lily

   A pequena abriu a carta com todo o cuidado, tentando não rasgar o envelope ou estragar o selo, eles poderiam ser utilizados depois para artesanatos e decorações; ao tirar o papel da carta e passar os olhos rapidamente pelas letras grafadas cuidadosa e caprichosamente no papel, Lily o solta e coloca as mãos na boca surpresa. Ninguém entendeu oque havia acabado de acontecer, nem mesmo a propria menina.

   - Diga querida, oque tem na carta?

   - Meu amor, tire as mãos da boca e nos diga o que aconteceu? É da escola para qual aplicamos sua bolsa?

   Petúnia pega o papel, Lily tenta impedir a irmã já pensando o pior, mas ao invés disso, a mais velha apenas limpa a garganta e começa a ler:

   - Escola de magia e bruxaria de Hogwarts, Diretor Albus Dumbledore, vários méritos estranhos ou algo do tipo; Prezada Lily Evans, temos o prazer de informar que vossa senhoria tem uma vaga na escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista de livros e equipamentos necessários. O ano letivo começa no dia primeiro de setembro, aguardamos sua coruja até dia 31 de julho, no mais tardar. Atenciosamente, Minerva Mcgonagall, diretora substituta.- Após terminar a leitura, Petunia voltou a sua expressão comum de desagrado direcionada a irmã mais nova.

   - Mas não é possível! O que é isto mocinha? Anda praticando atos pagãos nesta casa? Não admitiremos isso aqui, não sendo uma família religiosa, amanhã mesmo a levaremos para o padre e você nunca mais vai sair desta casa a não ser para ir a sua escola, aqui, em Cokeworth!- Agora Sr. Evans aumentou o tom de voz direcionado a menina dos cabelos de fogo, que se encolhia mais e mais a cada palavra do pai.

   - Não é minha culpa papai! Eu juro, eu prometo, eu faço qualquer coisa para provar, eu nem sei oque raios é isto!- Lily implorava desesperada o perdão de seu pai, mesmo sabendo que não havia feito nada de errado, ela era o orgulho da família, não podia colocar tudo a perder por um trote boboca. A garota pega o papel com lágrimas nos olhos, rasga e joga seus pedaços na lareira; lágrimas escorreram por suas bochechas rosadas e sardentas, que agora queimavam como o fogo da lareira; apesar de não saber muito bem do que se tratava, Lily tinha um pressentimento de que era algo bom. Foi quando algo estranho aconteceu, assim que todo o papel tinha se esvaído pelas chamas, a lareira se apagou, e no lugar do fogo, cartas idênticas a anterior começaram a surgir em um passe de mágica.

  - Pare com isso imediatamente Lily!- gritou seu pai

   - Bruxa! Você é uma aberração!- Petúnia se escondeu atrás do sofá e gritava choramingando- De todos no mundo, porque justamente eu tinha que ser sua irmã?

   A única que parecia sã no momento era sua mãe, que apesar do alvoroço ainda acariciava e abraçava Lily. Na verdade, a Sra. Evans achava tudo aquilo muito interessante e intrigante, ao pegar uma das cartas no chão e dar nas mãos da filha, uma coruja apareceu e pousou sobre os cabelos ruivos da menina, que estava aos prantos. Sua mãe então tomou dianteira: pegou um papel, caneta, tomou nota e amarrou no pé da coruja.

   - Vá pequeno animal alado, leve essa mensagem para essa tal escola; Lily Evans, minha filha, tem magia em seu coração!- dizia agora agachada, limpando as lágrimas do rosto da filha- Você é pura minha querida, um verdadeiro lírio em nosso jardim!
Até então, aquela com certeza foi a madrugada mais conturbada dos onze anos de vida de Lily Evans.

***

   Se passaram três dias desde o ocorrido, a menina havia se convencido de que tinha sido apenas um sonho muito estranho e real, a beira do pesadelo. Mas algumas coisas não faziam sentido:

   Seu pai continuava agindo como se tivesse algo a temer quanto a garota, sua mãe pelo contrário, parecia radiante, ao mesmo tempo que curiosa, cada vez que via a filha; já sua irmã Petúnia, no pensar de Lily, era a mais normal de todas, a adolescente, ou "aborrescente" como Snape gostava de chamá-la, continuava se comportando de maneira indiferente quanto a irmã, olhando-a com cara de desdém, como sempre foi.
Porém, para a tristeza de Lily, seu melhor amigo chegou correndo desajeitado em sua garagem, pulando a pequena cerca de madeira pintada de branco, Snape se aproximou dela, colocando a cabeleira negra atrás das orelhas e respirando ofegante. Ele tinha uma novidade incrível:

   - Lils! Você não vai acreditar, é uma loucura!- ele exclamou- Três dias atrás, recebi uma carta estranha, de uma coruja, dizia para retornar e assim eu fiz. Finalmente Lily, finalmente sairei do inferno de Cokeworth e serei alguém de prestígio, estarei entre pessoas iguais a mim, não serei mais taxado de estranho. Eu viverei livre, livre de abusos, livre de gritos, não é perfeito minha querida amiga?- Agora o garoto dava seu sorriso de canto assustador, que fazia Lily se sentir acolhida como se tivesse acabado de tomar um copo de leite quente enquanto ouvia músicas no rádio.

   - Sev... Eu... Eu nem sei oque dizer, parece ótimo- Mais do que nunca, Lily estava confusa, ela ainda estava dormindo, presa em seu sonho estranho? Ou esses dias que se passaram tem sido reais?- Eu também recebi uma carta.- enfim, a ruiva toma coragem de falar a verdade.

Mexeu com uma, mexeu com todas! (Juro solenemente não fazer nada de bom)Onde histórias criam vida. Descubra agora