À Beira da Escuridão

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O cenário ao redor refletia a tensão que pairava sobre o grupo enquanto eles avançavam pela cidade. O sol, prestes a se pôr, tingia o céu com tons de laranja, enquanto nuvens começavam a ocupar o espaço. A temperatura gradualmente diminuía, e um vento tímido os envolvia.

A ansiedade era palpável entre os membros do grupo, exceto por Dante, cuja concentração era palpável. Ele parecia imerso em seus próprios pensamentos, cada detalhe do ataque meticulosamente planejado em sua mente. Nada parecia abalar sua determinação.

Enquanto Yan se aproximava de Dante, liderando a marcha, uma tempestade de emoções tumultuava sua mente. A preocupação com o paradeiro de Emily e Annie pesava em seu coração, misturada com uma crescente sensação de impotência diante da determinação inflexível de Dante.

Yan hesitou por um momento, questionando-se sobre o que fazer. Ele sabia que confrontar Dante poderia causar tensão no grupo, mas sua preocupação com as duas garotas era avassaladora demais para ser ignorada.

Com um suspiro silencioso, ele decidiu agir, determinado a garantir a segurança de seus amigos, mesmo que isso significasse desafiar o líder do grupo.

Ele acelerou o passo, ultrapassando alguns membros do grupo até alcançar Dante, que liderava a marcha. Colocando a mão sobre o ombro de Dante em busca de sua atenção, Yan falou com urgência.

"Espere um minuto", começou, mas parecia que suas palavras não encontravam eco em Dante. "Já se passou mais de uma hora, e elas ainda não apareceram. Precisamos fazer algo", insistiu, buscando uma resposta do líder, qualquer ação que pudesse ser tomada.

Dante respondeu sem interromper seu ritmo de marcha, sem sequer olhar para Yan, como se nada pudesse fazê-lo parar. "Não, ainda temos menos de uma hora de sol", ele disse, sua voz fria e determinada. "Se elas estão bem, devem ter chegado há cerca de meia hora, considerando os obstáculos. Não há motivo para voltarmos", acrescentou, deixando Yan incomodado com sua resposta imperturbável.

"Mas e se elas estiverem presas e precisarem de ajuda?", insistiu Yan, atravessando o caminho de Dante e colocando a mão em sua frente, forçando-o a parar e fazendo com que todo o grupo também parasse.

"Se estiverem, não temos como saber onde estão", disse Dante, afastando Yan de lado. "Além disso, estamos perto", apontou para frente. Todos olharam na direção indicada e vislumbraram um trecho da ponte. Estavam quase chegando, e o sol estava se pondo rapidamente, mergulhando gradualmente o ambiente na escuridão crescente, o que deixava todos nervosos.

"Está quase escurecendo. Precisamos alcançar o ponto de encontro antes que anoiteça. Ficar na rua a essa hora não é seguro", alertou Dante. Os dois se encararam por alguns segundos, e Yan não gostou do que ouviu. Ele queria agir, mas sabia que persuadir o grupo a seguir suas ideias seria uma tarefa árdua. No final das contas, todos ali seguiriam Dante, independentemente do que Yan pensasse ou desejasse.

Dante se preparava para dizer algo quando um grito ecoou, cortando o ar e fazendo os pássaros voarem em desespero. Todos se viraram na direção do som, seus corações acelerados pela súbita agitação. O que teria acontecido? Yan atravessou o grupo, seu olhar tenso buscando entender a origem do grito. Era uma voz feminina, era de Emily? O que teria acontecido com Emily ou Annie?

Enquanto isso, Annie permanecia no chão do prédio, sentindo-se como se o medo a tivesse enraizado ali. Cada movimento parecia um esforço monumental, como se seu corpo estivesse sendo puxado para baixo pela gravidade. Ela lutava para respirar, como se o ar estivesse escapando de seus pulmões, e engolia o ar desesperadamente, tentando encher seu peito.

Aos poucos, ela tentou se levantar, sentindo o peso do ambiente se dissipar lentamente. Seus joelhos cederam momentaneamente, fazendo ela se ajoelhar , prendendo a respiração por um instante antes de se erguer novamente. Arrastando-se pelos corredores do prédio, ela se forçava a seguir em frente.

Com esforço, ela alcançou sua mochila e tirou uma garrafa de água, tomou-a vorazmente, sentindo a água molhando sua garganta seca. Quando terminou, respirou fundo, limpando os lábios com as costas da mão. Determinada, ela seguiu em frente, desviando das paredes enquanto tentava manter o equilíbrio precário em suas pernas enfraquecidas.

Annie sentia o tempo escurecer rapidamente, uma sensação de urgência a impelia a avançar pelas ruas desertas enquanto o sol se punha no horizonte. Ela sabia que não queria passar a noite sozinha, especialmente sem iluminação. Com a única lanterna nas mãos de Emily, a situação só se tornava mais perigosa.

De repente, um barulho a fez virar-se, e um bando de cães vadios surgiu de um carro abandonado, correndo em sua direção. Sem hesitar, Annie se jogou no chão, sentindo o animal passar zunindo sobre ela. Quando ele se preparou para atacar novamente, ela ergueu o braço instintivamente para proteger o rosto.

Os dentes do cão cravaram-se em sua carne, arrancando um grito de dor de Annie. Com determinação, ela agarrou sua arma com a outra mão e disparou duas vezes contra a cabeça do animal, que caiu morto sobre ela.

Respirando ofegante, Annie empurrou o corpo do cão para o lado e sentou-se no chão, lutando contra a dor que pulsava em seu braço ferido. Ela olhou para o ferimento, vendo o sangue escorrer e manchar sua blusa. Sabia que precisava de tratamento urgente, mas o kit de primeiros socorros estava na mochila de Emily.

Enquanto os lobos continuavam a se aproximar, Annie sentiu a adrenalina correr por suas veias, impulsionando-a para a ação. Com um rápido movimento, ela se levantou e correu em direção ao carro mais próximo.

Annie puxou sua arma instintivamente, mas sua mente se afundou em desespero quando percebeu que estava sem munição. Um frio gelado percorreu sua espinha ao ver os lobos avançando em sua direção, suas presas à mostra, prontos para atacar. Ela não tinha outra opção senão fugir.

Com um movimento rápido, Annie virou-se e correu, impulsionando-se para dentro de um carro próximo e fechando a porta atrás de si. Os lobos cercaram o veículo, lançando-se contra as janelas com fúria, como se buscassem desesperadamente uma entrada para sua presa.

Enquanto os animais continuavam a investida, Annie arrancou um pedaço de sua blusa e improvisou um torniquete para seu braço ferido. A dor latejante misturava-se ao pânico que se apoderava dela.

Os latidos dos lobos não eram apenas assustadores; eles também atraíam a atenção de mortos-vivos, que começavam a se aproximar lentamente pela rua. Annie percebeu que estava ficando sem opções. Não podia fugir mais rápido do que os lobos, e as janelas do carro não resistiriam por muito mais tempo.

Deitada no banco traseiro do veículo, Annie sentiu uma sensação de resignação se apossar dela. Os vidros começaram a rachar sob a força dos lobos, que não mostravam sinais de desistência. O destino parecia iminente, e ela estava preparada para enfrentá-lo.

Os tiros rasgaram o ar, ecoando pela área, seguidos pelos gemidos agonizantes dos lobos. Annie foi trazida de volta à realidade abruptamente, seus olhos se abrindo em espanto diante do barulho repentino. Ela se ergueu rapidamente, sua mente ainda turva pela confusão.

Uma figura se aproximou do carro, vinda pela rua, e Annie observou, atônita, enquanto Yan abria a porta.

"Vamos logo, precisamos sair daqui", disse ele, sua voz carregada de urgência e alívio por tê-la encontrado. Era evidente que ele viera sozinho em busca delas, guiado pelos sons dos tiros e dos rosnados.

Annie saiu do carro, e Yan imediatamente notou o curativo em seu braço, manchado de sangue. Ele ficou alarmado. "O que aconteceu? Onde está Emily?" ele disparou uma série de perguntas, preocupação estampada em seu rosto. Mas Annie apenas olhou para ele, sem encontrar palavras para responder.

"Foram os lobos, aconteceu... rápido demais", ela finalmente respondeu, seu tom de voz fraco, mas com um aceno de cabeça para tranquilizá-lo, indicando que ela estava relativamente bem. Pelo menos, ela não parecia ser uma das mortas-vivas.

Entretanto, a fraqueza a dominava, seus olhos começavam a piscar, lutando para se manterem abertos. Ela tentou resistir ao sono que a envolvia, mas sua consciência estava escorregando para longe. Em um último esforço, ela se apoiou em Yan, mas acabou desabando em seus braços, completamente desacordada.

"Acorda, por favor, acorda", Yan murmurava desesperadamente, sacudindo-a suavemente enquanto zumbis se aproximavam. Com Annie nos braços, ele se afastou rapidamente dali, determinado a levá-la para um lugar seguro.

Sobreviventes: Entre As SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora