Renascimento das Sombras

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Enquanto o tumulto preenchia a sala, Annie não conseguia evitar sua busca incessante por uma saída, examinando cada canto em busca de uma possível oportunidade de fuga. Embora as paredes sem janelas parecessem desafiadoras, sua determinação não diminuía. Enquanto a maioria se isolava em seus próprios pensamentos, uma figura jovem se aproximou dela com curiosidade.

"Oi", cumprimentou a menina, ignorando a atitude reservada de Annie enquanto tentava iniciar uma conversa. Sophia, uma criança de dez anos com cabelos negros e olhos castanhos gentis, irradiava uma aura de compaixão e inocência. Seu interesse genuíno pelo bem-estar dos outros transparecia em seu olhar. "Sou Sophia. E você?"

Apesar do convite de Sophia, Annie permanecia em silêncio, seu foco ainda voltado para o chão, como se estivesse mergulhada em seus próprios pensamentos tumultuados.

"Nós precisamos nos ajudar", insistiu Sophia, determinada a quebrar o silêncio que pairava no ar.

Após mais uma tentativa frustrada de interação, Sophia resignou-se, virando-se para partir, sentindo-se desanimada pela falta de resposta. No entanto, uma voz fraca e quase inaudível interrompeu sua retirada.

"Aninha... meu nome é Annie", murmurou Annie, quase como se estivesse falando consigo mesma.

"Oi, Aninha. Vamos ficar bem, ok?" Sophia respondeu, suas palavras carregadas de esperança, apesar da aparente indiferença de Annie.

Enquanto a conversa prosseguia, Annie permanecia em silêncio, seu olhar observador escondendo a tensão interna que a consumia. Secretamente, ela guardava um pedaço de vidro encontrado no chão, preparando-se mentalmente para qualquer eventualidade.

O som repentino da porta se fechando ecoou pela sala, seguido por passos pesados que se aproximavam. Todas as crianças cessaram suas atividades, fixando seus olhares na porta com uma mistura de expectativa e apreensão. O semblante de Annie passou de apreensivo para determinado, refletindo a resiliência que ela cultivará ao longo dos anos.

Doze anos de tormento se passaram desde aquele fatídico momento, marcados por uma existência de escravidão e abusos implacáveis. Annie, agora aos 20 anos, era apenas um vestígio do que um dia for a. Seus cabelos ruivos, outrora vibrantes, agora pendiam pálidos e curtos, enquanto seu corpo exibia as marcas visíveis de cicatrizes e hematomas. Sentada à mesa, ela se vestia meticulosamente, como se cada movimento fosse uma batalha contra o desespero que a consumia.

Uma maçã é atirada aos seus pés por um homem indiferente, cuja voz áspera ordena que ela limpe o corredor e acenda a lareira. Annie devora a fruta com voracidade, alimentando-se da única indulgência que lhe é concedida antes de se dirigir ao corredor. O eco distante de tiros corta o silêncio, incutindo uma tensão palpável no ar.

O que será que estava acontecendo! Ela se perguntava?! Ignorando o medo que a consome, Annie avança em direção à porta, determinada a descobrir o que se passa do lado de fora, mesmo com o coração martelando em seu peito e a mente obscurecida por incertezas, ela observa um homem que lhe mantinha presa vindo em sua direção.

Sem hesitar, Annie lança a vassoura na direção dos pés do homem, fazendo-o cair abruptamente. No entanto, antes que pudesse se reerguer, ele agarra sua perna, derrubando-a novamente com violência. Um tapa cruel desfigura seu rosto, deixando o sabor metálico do sangue em sua boca. Lutando para se libertar, ela se vê subjugada sob o peso esmagador do homem.

Ela cai novamente no chão, o sabor do sangue misturando-se ao desespero que a envolve. Tenta se reerguer, mas é confrontada pela figura do homem sobre ela, suas mãos ávidas apertando seu pescoço com uma ferocidade sufocante. A cada segundo, a consciência escapa dela, suas forças fraquejando enquanto a escuridão a envolve lentamente. Desesperada, ela golpeia desordenadamente, mas é em vão, suas forças desvanecendo, as mãos parando, a consciência desaparecendo, os olhos se cerrando lentamente.

Sobreviventes: Entre As SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora