Capítulo I

949 78 18
                                    


Molhou os lábios com o café frio, provando o gosto amargo que lhe renovava a cada novo dia. Todas as manhãs era a mesma coisa: um copo de Americano, duas fatias de pão na chapa com uma leve camada de manteiga, além das três rosquinhas de açúcar cristalizado.

Era assim que começava o dia, por volta das oito da manhã. Às vezes mais cedo, mas nunca mais tarde. Já deveria estar acostumado, mas quem, em sã consciência, se torna amante da manhã quando se conhece a madrugada?

"Ócios do ofício!", diria sua mãe, naquele sotaque carregado. A escritora adorava se apegar aos ditos populares e usá-los como frases de cabeceira todas as vezes que queria dar uma lição de moral, ou simplesmente ter algo na ponta da língua para dar uma de esperta.

Sentia falta dela. Como não sentir? As rosquinhas que comia não passariam de pedaços de massa enfarinhada e doce perto das hotteok recheadas de açúcar mascavo e nozes trituradas, feitas por ela, quase todas as manhãs de domingo. Era seu "carro-chefe", como ela gostava de lembrar, usando aquelas frases de efeito e termos populares.

- Uma libra por seus pensamentos!

A voz masculina o fez viajar da calorosa Seongbuk-gu para a fria Londres em questão de instantes.

- Estava pensando em como sinto falta das comidas da minha mãe. Em especial, as panquecas coreanas. Eram fantásticas. Sinto falta dela. - comentou, em tom baixo e um tanto mortiço, pertinente à todas as manhãs.

- Você foi recém-admitido para o esquadrão de agentes. Mal se formou no intensivo e já foi recrutado. Deveria se sentir lisonjeado ao invés de ficar resmungando por aí. Eu nunca vi alguém sair do curso e ganhar uma vaga em tão pouco tempo. Você tem quantos anos? Dezoito?

- Vinte anos... - corrigiu, bebendo mais do café.

- Errei por dois, quase lá. Se tirar essa penugem que você chama de barba, volta a ter 18, aposto! Aliás, sinto curiosidade em vê-lo sem essa porção de pelos espalhados por seu rosto. - murmurou, estudando a linha perfeita do maxilar do outro, tal como se fosse um perito em rostos.

- Gosto da barba. - respondeu, levando o último pedaço de pão até a boca, o mastigando despreocupado.

- Que bom. Se não gostasse, eu ia começar a ficar preocupado com você. Te conheço há um ano e não me lembro de tê-lo visto com o rosto liso em nenhuma ocasião. - deu de ombros, aguardando que o garçom trouxesse seu pedido.

- Por que fala tanto pela manhã? Ninguém tem o direito de ser feliz pela manhã - bronqueou, servindo-se de uma rosquinha. Levou o pratinho até ele, numa oferta muda.

- Não, obrigado! Jim está trazendo o meu pedido, olhe lá, passou agora pelo balcão! - dizia animado, apontando para o garçom.

- Bom dia, galera! - Jim cumprimentou a dupla, aparentando estar de boníssimo humor.

- Por que é um bom dia? Tu saiu da cama antes das oito. - ralhou, girando os olhos.

- Yeonjun, se você não fosse tão boa pinta e não garantisse parte do meu lucro matinal, eu te dava um pé no rabo!

- Lucro matinal? - questionou o acompanhante de Yeonjun, rindo.

- Estão vendo esse bando de estudantes que brotaram na padaria no começo do semestre? Estão aqui para ficar apreciando o meu cliente mais bem-apessoado. Só não arriscaram ainda por serem tímidas, mas eu percebo seus olhares e já ouvi comentários. - garantiu Jim, sussurrando para os dois enquanto indicava com o ombro um grupo com meia dúzia de garotas de uniforme.

Missão 1743Onde histórias criam vida. Descubra agora