Capítulo II

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A cada peça de roupa que colocava dentro da mala, Yeonjun encontrava um novo motivo pra não ter aceitado a missão 1743.

Havia tido uma conversa bastante séria com Taeyang Choi, e o fato de ter apertado a mão dele e dito que podia confiar em si, agora pesava toneladas em seus ombros. Não podia voltar atrás. O que seus chefes diriam de si? E os companheiros de trabalho? Já não bastava ter o nome em rodinhas de conversa só pelo fato de ter descendência coreana? Sabia que eles o olhavam e falavam de si. Sabia que, lá no fundo, ninguém confiava no "comedor de cachorro" do bando. Não era a primeira vez que lidava com xenofobia entre os colegas de trabalho.

- Está na hora de provar o contrário. Não só por mim. - declarou a si mesmo, colocando a última peça de roupa na terceira mala que havia feito.

Esperava não usar nem 10% do que estava levando. Com sorte, o tal hacker seria pego em breve e ele estaria livre daquele garoto imbecil.

E por falar nele, que pessoa mais desagradável era aquele Beomgyu Choi.

Yeonjun pensou que a tarefa seria difícil. Pensou que o garoto seria um tanto chato, mas não imaginou que fosse se deparar com a encarnação de satanás em sua forma mais... exótica.

- É sério, eu vou furar os olhos dele e servir espetados em palitos de dente, na bebida do pai. - dizia Yeonjun, enquanto passava nutella em seu pão. Estava com o celular no viva voz, falando com Soobin.

- Credo Yeonjun! Para de ser tão trágico. Ele só tem 17 e você 20! Para de disputar de igual pra igual com o pirralho. Tenta conhecer o mundo dele e se tornar amigo. Ele precisa pegar confiança em você pra não fugir dos seus cuidados. Você pode se ferrar se isso acontecer! - advertiu, incrédulo com a infantilidade do amigo.

- Diz isso porque não conheceu ele. O garoto me zoou o nome. Ele não me conhecia e mesmo assim foi rude. Eu não tenho culpa se tem um doido querendo matá-lo! - rosnou, girando os olhos.

- Yeonjunie, vai descansar essa cabeça. Se isso te faz sentir melhor, fique sabendo que o Armand mandou depositar cinco mil libras na sua conta, como adiantamento, segundo a secretária dele. - contou, rindo. Não podia ver o rosto de Yeonjun, mas sabia que ele havia arqueado as sobrancelhas.

- Beleza. Vou fazer a barba... depois a gente se fala, tá? - murmurou a contragosto. Amava a barba, mesmo que ela fosse apenas algumas porções de pelos finos espalhados por seu rosto.

- Me manda uma selfie depois. Quero conhecer seu rosto sem pelos! - pediu, ansioso. - Bye, Juniee! Cuide-se, meu amigo! E lembre-se: foco! Lembra também do adiantamento... - riu, desligando em seguida o telefone.

Yeonjun suspirou, indo até o banheiro como um prisioneiro que caminha até a forca.

Pegou o gel de barbear, a gilete afiadíssima, e começou a fazer a barba. Levou cerca de meia hora pra retirar todo e qualquer vestígio dela, ficando com o rosto liso, sem nenhum corte ou pelo perdido. Passou a toalha pelas bochechas e queixo, observando-se. Não havia ficado feio, mas gostava do visual mais maduro. Ao menos, pareceria bem mais novo agora. Podia fingir tranquilamente ter 17 ou 18 anos, o que facilitaria seu ingresso na "turminha" daquele garoto ridículo.

Tirou a selfie que Soobin pediu, enviando a foto pra ele com a seguinte mensagem: "se mostrar pra alguém, eu te mato".

Instantes depois a foto já estava rolando no grupo de amigos que tinham em comum no whatsapp.


-x-


Ficou combinado que ao meio-dia, Bruce, o chofer dos Choi, iria buscar Yeonjun em seu flat. E, exatamente no horário marcado, o homem grisalho estacionou a Range Rover preta em frente à porta do prédio.

Missão 1743Onde histórias criam vida. Descubra agora