ACASO (DEGUSTAÇÃO) - Os Albuquerque's I

Capítulo IX

Thalita Mendonça

O som do despertador preencheu o silêncio do quarto e me fez despertar. Antes de abrir os olhos sabia onde estava, o cheiro dele invadia o meu olfato. Abri os olhos e vi que estava deitada sobre o peito do Fernando, nossas pernas estavam enroscadas e uma de suas mãos descansava nas minhas costas, embaixo da minha camisa. Acho que o aquecedor do nosso quarto não foi suficiente para nos esquentar e buscamos o calor humano, inconscientes. 

            Fernando também despertou e sorriu ao me ver olhando a situação. 

— Bom dia – beijou levemente meus lábios – você costuma acordar de madrugada todos os dias? 

— Eu não sou a dona da empresa, preciso cumprir horário – sorri – e eu costumo correr antes de ir trabalhar, me faz bem, estresso menos e não tenho muito tempo para ir pra academia.

            Ele abriu um sorriso enorme.

— Donos de empresas também têm carga horária – continuávamos na mesma posição, acho que ninguém queria quebrar o momento – vamos nos aprontar e tomar café da manhã? Temos muito chão pela frente – disse por fim. 

            Levantei e fui ligar meu celular, havia mais de 300 mensagens não lidas, duas ligações perdidas, iria olhar tudo com calma no caminho de volta. Peguei minha nécessaire, um conjunto de lingerie e fui tomar banho. Dez minutos depois estava de roupão, em frente ao espelho fazendo uma maquiagem básica.

            Fernando tomou banho enquanto eu terminava de me arrumar, vesti uma calça social preta e uma camisa de botões listrada, preta e branca. Calcei meus saltos pretos e prendi meu cabelo num rabo de cavalo, finalizei o look advogada executiva com meu perfume. 

            Meu chefe vestiu terno azul marinho e calça da mesma cor, camisa branca e não colocou gravata. Descemos para nosso café da manhã, conversamos sobre os planos dele para a presidência da Albuquerque's, afinal ele acabou de assumir e passará um a frente desse império. Cerca de trinta minutos depois fizemos cheque-out e fomos para o carro.

            Já no carro fui olhar o celular que tanto evitei ultimamente, eram inúmeras mensagens da Cátia, algumas do Marcos, e muitas do João Pedro. Fui direto nas do meu noivo. Em resumo ele queria saber se eu havia dormido bem e confirmava que estaria embarcando às 10 horas, passaria antes na empresa para deixar assinados alguns documentos de última hora.

* Bom dia amor! Estou na estrada de volta para o Rio. Tudo ok! Provavelmente ficarei sem sinal. Te vejo em breve. Beijos ;*

* Que ótimo, contando as horas. Te espero no aeroporto. Beijo <3

            Fiquei muito tempo entretida respondendo as mensagens da Cátia. Ela queria saber tudo a respeito do nosso chefinho, se era cheiroso, tinha alguma mania ou se era supersticioso. Ah se ela soubesse... Ela não fazia ideia que eu tinha ido para cama com ele, senão sua curiosidade seria direcionada a outro departamento. 

            O Marcos, por sua vez, continuava me enchendo o saco, queria almoçar comigo, disse que eu devia essa depois de ajudar meu noivinho. Eu cortei logo ele dizendo que o noivinho estava de volta à cidade! 

            Ria sozinha respondendo as mensagens, e sem a mínima intenção acabei ignorando o Fernando. Só percebi isso quando ele coloca um rock metálico num volume quase ensurdecedor. Olhei pra ele e baixei o volume no painel.

— Algum problema? Precisa de um fone de ouvido? – eu sorri.

— Ah, finalmente lembrou que estava aqui. Ninguém te ensinou que é feio dar mais atenção ao celular do que as pessoas que estão ao seu lado? – sua ironia pairava o ar.