Capítulo 10

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-Alguma vez durante o tempo que esteve aqui, você mexeu no meu guarda-roupa? –Gael perguntou, na tarde do dia seguinte.

Priscilla se ocupava de limpar os móveis da sala. Parou, erguendo o corpo de súbito, como se alguém acabasse anunciando que iria roubá-la.

-Não, claro que não. –Respondeu. –Não tomaria essa liberdade sem saber se posso. Encontrou algo errado?

-Não é isso. Venha comigo, por favor.

Ela o seguiu até o seu quarto. Gael abriu o grande guarda-roupa para que ela o visse. Ela olhou para dentro da peça de mobília sem entender o que acontecia.

-O que acha das minhas roupas? –Ele perguntou.

-São boas, conservadas e parecem novas o suficiente. Algumas fedem a roupa guardada, mas nada que uma boa lavagem não resolva. É isso que deseja que eu faça? Se soubesse antes...

-Não precisa agir como uma empregada a todo tempo. – disse ele.

-Você me contratou para isso.

-Sei disso, mas... –Deixou a frase em aberto. -Quero que me diga se essas roupas seriam roupas que um nobre vestiria.

-São simples, se é o que está me perguntando. Já vi alguns nobres por aí e costumam se vestir com bem mais pompa. Mas estão longe de ser roupas de um camponês ou empregado pobre. O tecido e o corte são superiores, os detalhes e o brasão real dão a ela um ar de importância. Posso perguntar por que o interesse repentino na moda da realeza?

-Não irei à vila dos caçadores trajado como capitão. Seja lá o que esteja acontecendo no lugar, se chegar anunciando minha posição, posso colocar as pessoas em alerta. Preciso chamar pouca atenção pelo menos até saber o que está acontecendo de fato.

-Acho que essas roupas são boas o suficiente para isso. Vai parecer um comerciante com bastante dinheiro. Pode dizer que é um homem do duque Octavio, deve ser convincente.

-Não posso mentir. Não se quiser usar meu verdadeiro título depois.

-Poderia afirmar que estava preocupado com rumores, por isso se disfarçou.

-Seria uma demonstração de desconfiança e fraqueza, no mínimo. –Gael retrucou. –Mas a ideia não é ruim. Posso chegar como se fosse o parente distante de um dos moradores. Não está tão longe da verdade e não infere em título algum.

-Perfeito.

-E o que você acredita que um parente rico e distante daria como presente ao visitar pessoas queridas?

-Em se tratando de pessoas pobres?

-Não exatamente. Mas é um bom ponto de partida.

-Pode dar roupas e comida. É o básico, mas para quem nada tem, o básico consegue ser mais valioso que certos luxos descartáveis.

-Poderia levar alguns dos pães que você faz. Tenho certeza que alegraria uma família inteira.

-Farei mais, então. – disse Priscilla. –Deixarei pronta uma cesta de pães para levar. Mas preciso saber quando partirá. Não temos pão pronto e, apesar de ter uma massa fermentando, acredito que ainda levará algumas horas para terminar.

-Voltarei à casa dos capitães ainda. Pode enviar para lá a cesta assim que estiver pronta. Faça isso até amanhã para que não haja dúvida de que irei receber. Comprarei uns arcos novos, de qualidade, para presenteá-los. Mais algumas roupas novas e teremos um bom presente.

-Um excelente presente.

-Pode comprar as roupas para mim?

-Claro. Ou você poderia doar parte das que tem. Não parece usar muito do que tem aqui, de todo jeito. Basta lavá-las para tirar o cheiro que estarão como novas.

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