Capítulo 11

0 0 0
                                    


-Precisa de mais alguma coisa, minha condessa? –Perguntou o rapaz que esperava do lado de fora da pequena sala.

-Não, obrigada, já estamos de saída.

-Gostaria que a acompanhasse?

-Não precisa.

Ele fez uma mesura e saiu. A surpresa e até mesmo preocupação no olhar da condessa ao ler a carta foram notórias, mas agora ela já as escondera, pondo de volta seu olhar analítico e imponente enquanto conduzia as duas pelo corredor.

Passaram por várias pessoas no caminho, todas paravam para cumprimentar a condessa e logo depois olhavam para suas acompanhantes, intrigadas. Não era de espantar a surpresa. Eram duas pessoas comuns seguindo a mulher mais poderosa da cidade dentro do palácio. Por mais que a vida em Floris pudesse ser pacata e tranquila, pessoas como ela e sua mãe jamais seriam convidadas para perambular entre as casas nobres sem motivo. Será que percebiam o poder que fluía dentro dela? A demonstração podia ter causado algum rebuliço em seu corpo e agora ficava evidente para olhos que sabiam o que procurar. Ou eles a olhavam daquele jeito por sua roupa estar suja de terra e poeira, seu cabelo desgrenhado, seu rosto inchado de chorar mais cedo. Dentre tantas pessoas impecavelmente maravilhosas, uma criança bagunçada soava como algo bem estranho. Como uma peça no tabuleiro do jogo errado. Independente do motivo, Celina se sentia despida diante de tantos olhares perscrutadores.

Vira e mexe a condessa se dirigia a elas, num tom casual que, se fosse qualquer outra pessoa, Celina a consideraria quase uma amiga de sua mãe. Perguntou sobre a vida delas, a ocupação da mãe, da menina, seus lazeres e desgostos. Chegou até a contar algumas histórias breves sobre ela mesma. Não mencionou a carta nem tratou dos poderes da menina, que também achou melhor não fazer por enquanto. Sua mente fervilhava de perguntas e queria logo chegar para lançar todas sobre a mulher, na esperança principalmente que lhe revelasse algo sobre o paradeiro do seu pai.

Não gostou nem um pouco quando um rapaz alvoroçado parou as três no meio do caminho e pediu para tratar com a condessa a sós. Foi uma conversa de minutos, mas quando a mulher retornou, estava com o semblante mudado, como se contivesse a raiva dentro de si com muito esforço.

-Bom, acabei de ser informada de um assunto que devo dar atenção imediata. Teremos de adiar um pouco nossa conversa. Vou levar as duas até Carlota, uma mulher de minha confiança. Ela vai acompanhar vocês durante o dia em tudo que fizerem fazer. Sintam-se em casa, podem visitar o palácio à vontade, só peço que não perambulem muito por esta parte do prédio para que ninguém se zangue. É uma área mais exclusiva e o pessoal aqui é bem sensível quanto a isso.

A mulher chamada Carlota conversava alegremente com um pequeno grupo quando Althaia chamou. Cumprimentara a condessa como alguém que cumprimenta um primo que voltou de viagem, não como se fala com a maior autoridade presente. Deviam ser muito boas amigas. Carlota, diferente da condessa, era baixinha e de quadris largos. Tinha o cabelo crespo grande e bem-arrumado sobre a cabeça, o rosto redondo com um sorriso largo e olhos escuros e gentis.

-Preciso que fique com nossas visitas durante o dia, surgiu um problema que não posso ignorar. Eu conversarei com elas à noite, então até lá, pode deixa-las livres. Com exceção, é claro...

-Do terceiro bloco, já sei disso, Thai.

-Carlana, por favor.

-Oh, desculpe. Farei como pediu, minha condessa. –Disse, com um gesto exagerado e uma risada.

-Ah, e por favor, prepare uma refeição para elas. E um banho. São visitas, mas ainda estão no palácio e não podem andar nesse estado. –Apesar da seriedade na voz da condessa, Celina não deixou de notar um sorriso de canto. Devia apreciar uma companhia que não carregasse toda a formalidade exigida na nobreza.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 08, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Sombra do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora