Capítulo dois

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Amélia simplesmente enlouqueceu.

Todo santo dia me pergunta sobre o meu vizinho. E são umas perguntas um tanto aleatórias, e que me fazem questionar se ela é fugitiva de algum hospício.

No começo eu pensei que era apenas uma atração física, mas agora percebo que ela está completamente obcecada por Vinnie Hacker.

E pela primeira vez em alguns meses, eu sinto pena dele. Fico imaginando se as garotas realmente querem ter um relacionamento sério com ele ou se apenas querem usar seu corpo. Ele não parece se importar, mas não o conheço. Não sei se em algum momento ele pensa sobre isso. Nem sei se ele quer ter um relacionamento.

Vinnie não parece ser o tipo de homem que namora. Parece ser aquele cara que vai a festas, baladas e bares rústicos quase todas as noites e sempre sai agarrado a uma ou duas mulheres. Ou pode ser mais.

Por falar em festas, hoje é sexta-feira. Isso significa que ele provavelmente vai dar mais uma de suas festinhas. E significa que nem eu e nem os vizinhos vamos conseguir dormir por conta do som alto. Semana passada um dos vizinhos, o senhor Wills, um idoso aposentado, chamou a polícia. E Vinnie teve que acabar com a sua diversão.

Lembro de seu olhar em mim, eu estava na minha varanda, tomando um ar. Acompanhei toda a confusão. Vinnie e seus amigos pareciam irritados. Ouvia alguns resmungos e xingamentos, que apenas cessaram quando um policial ameaçou levar todos para a delegacia.

Eu ri, quase como uma gargalhada. E ele ouviu, porque logo me encarou com o olhar fuzilante.

Ele pensou que foi eu quem o denunciou.

Eu poderia ter feito isso, poderia ter o prazer de acabar com uma de suas festas. Mas o que adiantaria? Seu ódio por mim iria crescer e possivelmente uma guerra iria se iniciar.

E eu deveria ter feito aquilo. Ou ter feito pior. Porque no dia seguinte, Vinnie jogou o lixo da festa por todo o meu gramado. E eu acho que nunca senti tanta raiva nos últimos quatro anos em que estive morando aqui.

Deixei o ocorrido de lado, mas não me esqueci. E ainda vou me vingar.

- Evie! Vem abrir a porta, você não está ouvindo a campainha tocar? - Ela está parada no meio do gramado, com um sorriso largo.

O que diabos Amélia faz na minha casa?

Aposto que não veio por minha causa e sim para poder ter alguma chance de falar com o meu vizinho.

Eu poderia mentir para ela e dizer que ele não está. Mas o seu carro não está na garagem e sim na calçada, isso significa que ele está em casa.

E eu vou ter que aturar Amélia falar sobre ele ou fazer perguntas ridículas.

Por favor, Deus. Eu só quero um pouco de paz em um dia de sexta.

-Já estou indo, Amélia. -Gritei para que ela pudesse me ouvir.

Revirei os meus olhos, espero que ela não tenha visto, e fechei o meu livro, o deixando em minha mesa antes de me levantar e sair do meu quarto.

Demoro uns segundos a mais para descer as escadas e já no andar de baixo, respiro fundo e abro a porta dando de cara com uma menina loira e que ainda mantinha seu sorriso perfeito no rosto.

Ela vem em minha direção e me dá um abraço apertado, que durou apenas alguns segundos.

-Entre, por favor. Acredito que tenha esperado aí fora.

Ela passou por mim, adentrando em minha casa. É a primeira vez que ela entra aqui e seu olhar é curioso, rolando os olhos por cada canto. Sei que ela é bem curiosa. Eu também sou.

O perigo mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora