Capítulo três

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Cindy é uma senhora de 74 anos, uma das moradoras mais antigas desse bairro. Sempre foi muito atenciosa e comunicativa. Sempre a vejo todos os dias de manhã, ela e o seu cachorrinho.

Nunca me fez mal, exceto pelo dia em que ela passou o meu número para o meu querido vizinho.

" Você precisa se socializar, minha querida " Foi o que ela disse. E acrescentou dizendo:

" Tenho certeza de que você e Vinnie vão se dar bem. Ele é um rapaz tão bonito e educado."

Acontece, senhora Cindy, que Vinnie Hacker não é tão educado. Talvez em sua frente, mas na minha não.

Eu pensei que ele nem fosse me mandar mensagens, mas me manda, quase todo dia. E não vou negar que também não o mando. Claro que faço isso. Mas eu mando mensagens sempre para reclamar de suas atitudes. Diferente dele.

Ontem a noite, ele me perguntou sobre Amélia. Provavelmente deve ter visto ela chegando, ou saindo de minha casa.

E ele se interessou por ela. Mas quem não ficaria interessado? Amélia é linda.

Sei que não existe perfeição, mas ela com certeza chega bem perto de ser perfeita.

Q̶u̶e̶r̶i̶a̶ ̶s̶e̶r̶ ̶e̶l̶a̶.

Mas não sou. E acho difícil que alguém um dia irá se interessar por mim.

Às vezes, mas só às vezes, eu gostaria de saber como é receber atenção de alguém. Como é ter alguém atraído por você. Como seria ter alguém implorando por meu número de telefone, porque quer muito ficar comigo.

Igual Vinnie com Amélia. E Amélia com Vinnie.

E neste momento, ele está em minha frente. Me perguntando sobre ela.

-Por que você não quer me passar o número dela?

Tento pensar em algo, porque nem eu tenho uma resposta para essa pergunta.

-Amélia não é qualquer menina. E eu sei que você pode a machucar.

Ele revirou os olhos, entediado com a minha resposta.

-Olha só, Evie. Você não me conhece. Quando eu fico com alguém, eu sempre deixo claro as minhas intenções. E se por um acaso a sua amiguinha se apaixonar, a culpa não será minha.

Ele está a alguns centímetros de mim. Muito perto.

De repente me falta ar, e eu preciso me afastar para poder respirar. Não aguento o peso de seu olhar em mim. Tem algo nele que me faz formigar.

Espero que ele não perceba.

-Não vou passar, se você quiser, que o consiga sozinho.

Ele arqueia uma de suas sobrancelhas, jogando suas mãos para o alto, em sinal de redenção. Posso ver um sorrisinho do canto de seu rosto.

-Tudo bem, Evie. Tudo bem.

Ele se aproximou novamente, ainda sorrindo. Percebeu que eu estava me afastando. Ótimo, ele está se divertindo com isso.

E com um passo, ele está em minha frente novamente. Pegou uma mecha do meu cabelo e o enrolou em seu dedo. Posso sentir sua respiração, é tão rápida quanto a minha. Então, ele solta uma risada gostosa perto de minha orelha e se afasta de mim, seguindo direção a sua casa.

Estou brava. E nem sei porque estou assim.

-Vai se ferrar, Hacker! - eu grito para que ele possa ouvir. Mas ele já está dentro de sua casa.

Suspiro e fecho meus olhos por alguns segundos. Não tenho ciúmes dele, não teria motivos para ter. Eu o odeio, tenho que deixar isso bem claro. Ele é como um rival. Ele me perturba todos os dias. Ele sempre me provoca, e eu detesto pessoas assim. Pessoas como ele.

O perigo mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora