Estou sentada na varanda. O tempo fechou e está nublado, ameaçando chover.
Minha mãe foi embora depois do almoço. Não tocamos no assunto sobre o ocorrido, imaginei que ela não falaria nada sobre. Mas pelo menos me ajudou com os meus machucados. Antes de ir, ela me disse para eu não ficar preocupada com ela. Que ficará tudo bem. Mas eu sei que não, mesmo assim quero acreditar em suas palavras, e sei que ela também quer acreditar no que sempre me diz.
Tento ajudar ela de todas as formas possíveis. E toda vez que eu toco no assunto "divórcio " ela sempre diz a mesma coisa: Não posso, ainda não. Talvez um dia, quem sabe.
Sinto uma dor imensa ao imaginar o que a minha mãe sofre calada. Sinto ódio por aquele homem que divide o mesmo sangue que o meu. Quero transformá-la em força. Mas como? Talvez o meu pai tenha razão. Talvez eu seja apenas uma garotinha fraca.
-Boa tarde, vizinha. - Vinnie diz. Ele está fechando o porta-malas de seu carro e está com uma sacola em mãos. Quero falar com ele, mas não posso. Não quero que ele veja o hematoma em meu rosto, então eu apenas abaixei a minha cabeça.
A vontade de chorar surge novamente e eu quero ignorar, não posso chorar de novo. Tento pensar em algo bom, algo que me alegre. Então lembro da conversa que eu tive com Vinnie, durante a madrugada. Tento pensar no sorriso dele e até mesmo em suas palhaçadas e implicâncias.
Sinto a presença de alguém ao meu lado, e escuto o rangido da madeira, indicando que ele se sentou ao meu lado.
Por favor, vá embora.
E̶u̶ ̶i̶m̶p̶l̶o̶r̶o̶
Mas ele não vai embora. Ele fica ao meu lado, em silêncio por vários e vários segundos. Eu não sei no que ele está pensando, ou no que ele irá dizer. Mas eu continuo com a cabeça baixa.
-Você está triste? Não parece estar no seu normal. - Ele finalmente diz. Quero tanto olhar para ele e chorar em seus braços. - Tudo bem se você não quiser conversar, ainda mais comigo. Mas a minha avó sempre diz que é bom desabafar em alguns momentos.
Silêncio.
Não estou me mexendo, e suponho que ele tenha percebido isso, pois está tocando em mim, e tentando me fazer levantar a cabeça. Eu me afasto e é aí que ele percebe que realmente há algo de errado comigo.
-Evie, por que você está assim? - Sua voz é baixa, e ele está com a mão em meus fios escuros, fazendo um carinho.
Talvez eu possa confiar nele. Eu preciso ao menos tentar. E se o meu pai voltar? E se tentar me matar? Eu não duvido. Quero pedir ajuda a Vinnie Hacker. S̶o̶c̶o̶r̶r̶o̶
Estou decidida a não me esconder mais e então, eu levanto a minha cabeça para o encarar. Sei que meus olhos estão vermelhos, estou há minutos controlando a vontade de chorar. Estou o encarando atentamente. Seus olhos estão fixos nos meus, sendo específica, no hematoma em meu olho. Posso ver seu maxilar trincar, ao mesmo tempo que ele fecha o punho. Ele está bravo, ouso dizer que está furioso.
-Quem fez isso com você? - Sua voz sai mansa, embora sua aparência mostre o contrário. Ele está de pé, suspirando fundo, se afasta de mim apenas para andar pelo quintal da minha casa. - Por favor, me diga quem fez isso com você. - Ele diz assim que se aproxima, está suplicando.
Eu me levanto e paro na frente dele. Estou segurando sua mão, tentando acalmar ele. Quero o tranquilizar. Não imaginei que fosse ficar assim.
-Por favor, Evie.
-Foi o meu pai que fez isso. - contei.
Vinnie está me encarando de uma forma profunda, e posso estar louca, mas seu olhar é doce e eu não quero que ele sinta pena de mim. Não quero me sentir pior do que já me sinto. Sinto-me como se eu precisasse ser defendida por alguém, como se eu fosse inútil.
-Por que ele fez isso? - quer saber.
-Porque… - Minha voz falha e tenho que fechar os olhos, pois não posso o encarar. - Eu não sei exatamente. Ele chegou aqui em casa alcoolizado, ele havia batido em minha mãe. E eu perguntei o motivo de ele ter feito isso. - Sinto as lágrimas queimar em minha pele- Ele me jogou contra a parede, me bateu e me deu um chute. Não é a primeira vez, Vinnie. E eu me sinto fraca por nunca conseguir me defender.
Meus ombros estão chacoalhando, lágrimas saem com liberdade e meu vizinho está me abraçando. Era tudo o que eu queria, tudo o que eu mais precisava no momento. Um abraço sincero. Ele está sussurrando palavras doces e gentis, dizendo que tudo ficará bem. Quero tanto acreditar, mas já não tenho esperanças.
-O seu pai está em casa? - Ele perguntou, e eu nego com a cabeça diversas vezes.
-Não, não. Ele já foi embora.
Ouço seu suspiro e o vejo se afastar de mim, apenas para me olhar. Sei o que este olhar significa. Sei que está me perguntando silenciosamente se estou bem.
-Eu estou bem, Vinnie. Eu já estou acostumada com isso. Por favor, não se preocupe comigo.
-Mas eu me preocupo com você.
Quero acreditar que sim.
-Você está com pena de mim, é diferente.
-Isso não é verdade. - Não estou encarando ele, meu olhar está fixo no imenso céu cinza, mas ainda estou o escutando. - Me dói pensar que você passa por isso. E eu quero te ajudar, Evie.
Rio.
-Como você pode me ajudar? Não há nada o que fazer. Eu posso o denunciar para a polícia, mas é a minha palavra contra a de um advogado. Então, quem você acha que ganhará? Eu ou ele?
Vinnie está em silêncio, sem saber o que me dizer. A resposta é óbvia, ninguém acreditaria em mim ou em minha mãe. Talvez ela negaria e eu estaria sozinha.
-Há tantas coisas que eu preciso te dizer. - Ele diz e posso ver o nervosismo lhe consumir. O que ele tem a me dizer?
-Do que você está falando?- Eu me afasto, indo me sentar no degrau de madeira. Estou o olhando, esperando a sua resposta. Ele parece estar receoso, sem saber como começar.
-Tem algumas coisas que você precisa saber. E eu ia dizer, mas eu não encontrava o momento certo. - Ele diz. - Evie, eu preciso da sua ajuda.
Minha mente borbulha, não estou conseguindo raciocinar corretamente. Por que ele precisa da minha ajuda? E por que precisava de um momento certo? Tenho medo do que posso descobrir. Vinnie sempre me pareceu misterioso, mas quais segredos ele guarda?
-Não estou entendendo, Vinnie… O que você está querendo me dizer?
-Eu vou te contar. - Ele olha para os dois lados- Mas você precisa vir comigo.
Não, não, não, não, não.
Não estou gostando do rumo que esta conversa está seguindo. E pela primeira vez estou com medo do meu vizinho. Minha mente está gritando, as paranoias me alertando.
-Não vou te machucar, se é isso o que está pensando. - Ele parece ter lido meus pensamentos.
-Por que você não pode me dizer aqui?
-Porque eu preciso te mostrar. Você não confia em mim?
Eu não confio nem em mim mesma, se quer saber.
Mas eu confio em você, Vinnie Hacker. E estou disposta a ver o que você tem a me mostrar, e ouvir o que tem a me dizer.
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O perigo mora ao lado
FanficEvie Hansley é uma jovem estudante de psicologia, que foi morar em Seattle em busca de paz, e de fugir de seu passado aterrorizante. Os quatro primeiros anos foram maravilhosos, mas ela já não pode dizer que tem a mesma paz de alguns anos atrás. Iss...