Capítulo V - Primeiro passo ?

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POV Narrador

S/N bufa pela quinta ou sexta vez nos últimos vinte minutos, e pousando a caixa de cartão cheia de flores no balcão, tira o fino casaco azul que usa, e pendura-o nas costas de uma cadeira. O clima está cada vez mais quente, e depois de meses seguidos de frio e neve, o seu corpo já não está habituado ao calor do sol. Uma gota de suor escorre a sua sobrancelha, e com a palma da mão, S/N limpa-a.

Hoje a loja está mais tranquila. Amanda não está a trabalhar porque tirou a semana de férias, e S/N não podia estar mais agradecida por até agora o trabalho ter sido leve. Não seria nada interessante ter uma semana atarefada sozinha na loja.

Natasha voltou à escola no início da semana. A ruivinha chorou quando Margot voltou para a Inglaterra, mas a tia prometeu visitá-la em breve. Isso acalmou-a um pouco, mas para Natasha largar a perna da tia e deixá-la adentrar o aeroporto, foi necessário que Margot lhe prometesse que lhe ligaria no mínimo três vezes por semana. Esta cena fez S/N e Ryan gargalhar silenciosamente, pois também Margot parecia bastante relutante em deixar a sobrinha para trás.

Como S/N está sozinha na loja, terá de ficar a trabalhar até mais tarde, e graças a Melanie, não se tem de preocupar acerca de quem irá buscar a pequena à escola, já que a avó graciosamente se ofereceu para o fazer.

Voltando ao trabalho depois da pequena pausa para recuperar o fôlego, S/N dirige-se às traseiras da loja. Lá, pousa a caixa num balcão e senta-se num banco de madeira. Com cuidado, pega numa flor de cada vez e limpa os resquícios de água de cada um dos caules com um pano velho. Ela vai usar estas flores para fazer ramos de flores de venda rápida. Estes ramos, já pré feitos, são normalmente comprados por pessoas que estão com pressa, quer seja para um aniversário que se esqueceram, ou como um pedido de desculpas. São um dos itens que mais vende na loja, mesmo que S/N sinta que sejam de certa forma impessoais, já que não possuem o toque especial da escolha de cada uma das flores com cuidado.

Sentido-se solitária no meio de todo aquele espaço vazio, S/N liga o rádio pousado no fundo da bancada. Uma leve melodia jazz preenche a loja, e com um delicado sorriso, continua a trabalhar. Nestes momentos tranquilos a mente da mulher fica livre de qualquer pensamento. As suas mãos, já estando habituadas àquela familiar dança, constroem os ramos sem muita dificuldade, resultando sempre numa obra de arte colorida e delicada.

De repente, o ambiente pacífico é quebrado pelo tilintar do sino da porta da loja, indicando a entrada de um cliente.

- Só um momento. - diz num alto tom de voz e levanta-se, colocando dentro de uma caixa limpa todos os ramos já finalizados

Bufando, pega na caixa e empurra a porta que dá acesso à loja com as costas, visto que tem as duas mãos ocupadas. Ao virar-se para a frente, não encontra ninguém, franzindo as sobrancelhas em estranheza. S/N jura que ouviu alguém adentar a loja. Ao deixar a caixa em cima do seu balcão, S/N limpa as mãos no avental que tem vestido, e ao ver as manchas castanhas de terra que deixa para trás, constrange internamente, apercebendo-se de que devia ter lavado as mãos.

Um barulho de um vaso a chocar contra outro chama a atenção de S/N, que num disparo levanta a cabeça e olha nessa direção. A única coisa que consegue ver, é uma sombra e parte de uma bolsa preta, já que o resto é escondido pela estante. Percebendo que o cliente está ocupado a olhar para a seleção de vasos, S/N decide organizar os ramos que acabou de fazer. Assim dirige-se para a montra, arranjando com delicadeza cada ramo envolvido por um papel vegetal castanho, fazendo com que a combinação das cores das flores ilumine o espaço.

- Desculpe, será que me poderia ajudar ? - uma voz feminina pergunta, trazendo S/N de volta à realidade

Um sorriso doce e simpático surge nos seus lábios mesmo antes de ela se virar para a dona da voz, e ao ajeitar o seu vestido verde escuro, levanta a cabeça. Uma expressão de surpresa escapa os lábios da mais velha ao ver a loira à sua frente, e parece que a outra reage da mesma forma, pois os seus olhos arregalam e as suas sobrancelhas arqueiam.

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