Capítulo XXI - Mamã, não me sinto muito bem...

474 81 16
                                    

POV Narrador

Frank Sinatra perpetuou para sempre Nova Iorque como a "cidade que nunca dorme" numa das suas mais famosas canções, New York, New York.

Tal é evidente a qualquer um que por ali passe, pois a vida e os afazeres dos nova iorquinos parecem nunca pausar. Nem mesmo quando o resplandecente sol dá vez à encantadora lua. O trânsito parece nunca parar de fluir, as ruas parecem nunca estar desertas, e em todas as ruas e avenidas parece sempre existir uma porta aberta de onde alta música, incessantes conversas e o nauseante aroma de álcool, emanam.

A vida em Nova Iorque é uma constante sem fim, e consequentemente Nova Iorque realmente nunca dorme.

No entanto, aqueles infortunos nova iorquinos que se vêem confrontados com a perspectiva de um novo dia de trabalho ou escola, de bom grado trocam as festas, caminhadas noturnas e animação por uma boa noite de sono.

Centenas de apartamentos são ocupados pelo ensurdecedor som do silêncio, e nos milhares de quartos da cidade, crianças, adolescentes, adultos e idosos deixam-se afundar nesta tranquilidade, completamente perdidos no curioso e misterioso mundo dos sonhos.

E tal não é diferente numa rua qualquer, num prédio qualquer e num apartamento qualquer da cidade, que alberga um doce par de mãe e filha.

Ou assim seria de esperar.

Aconchegada debaixo de um lençol e de uma fina manta, S/N expira profundamente, deixando o seu corpo relaxar por completo contra os macios tecidos. Ontem foi um dia exaustivo na loja, por isso assim que se deitou, o seu maior desejo era poder aproveitar todos os minutinhos para dormir o mais que conseguisse.

- Mamã... - uma voz invulgarmente rouca e incerta contrasta com o silêncio do quarto, fazendo as sobrancelhas da florista inconscientemente se franzirem em desconforto por o seu sono estar a ser perturbado - Mamã... - novamente a voz diz, mas agora com um pouco mais de desespero e urgência

Vendo que não está a ter sucesso em acordar a mais velha, a ruivinha pousa uma mão no seu ombro, abanando-o com todas as forças que consegue reunir. Que não são muitas.

- Mamã, e-eu não me s-sinto muito bem... - gagueja por entre constantes e molhados fungos do nariz

Pestanejando lentamente um par de vezes, S/N acorda num estranho estado de confusão, não percebendo muito bem o que a fez despertar. A primeira coisa que o seu cérebro ainda bêbado de sono consegue processar é a total escuridão que a rodeia, indicando que ainda deve ser uma hora qualquer do início da madrugada.

Contudo, assim que as palavras da pequena chegam aos seus ouvidos, qualquer pinga de sono sume dos seus olhos e todos os nervos do seu corpo entram em alerta, fazendo-a imediatamente levanta-se num disparo.

Pestanejando, mas agora muito mais rapidamente, S/N olha à sua volta apressadamente e com urgência para tentar encontrar a filha, ao mesmo tempo tentando acomodar os olhos à falta de luminosidade.
Finalmente, depois de largos segundos, a mais velha avista o corpo da pequena não muito longe do seu.

Natasha está em pé ao lado da cama, ainda vestida com o pijama amarelo que a mãe se lembra de a ter ajudado vestir antes de ela se deitar, e seus braços estão ocupados pelo seu elefante de pelúcia com que dorme todas as noites.

- Mamã... - Natasha choraminga e deixa o seu corpo cair nos braços abertos da mãe

Com a filha segura nos braços, S/N traz o seu pequeno corpo totalmente para cima do seu, aconchegando bem a cabeça da menor ao seu peito.

- Oh, bebé... - suspira em tristeza e beija a sua cabeça, depois lançando uma mão para a mesinha de cabeceira, cegamente procurando pelo interruptor do candeeiro - Está tudo bem, está tudo bem. A mamã está aqui agora.

Fotografias Onde histórias criam vida. Descubra agora