Madden

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Dias atuais...

— Você precisa se mover mais rápido, se alguém te abraçar por traz você não vai conseguir soltar se for tão lenta.
Meu pai está tentando ensinar a Jett a se proteger, mas realmente isso não é pra ela.
Seu cabelo curto está todo desarrumado, seu top está ensopado e ela mal começou.
Ela é a menina do papai, luta não é algo que ela goste, ela prefere livros e cálculos. Sem dúvidas vai ser uma engenheira brilhante.
Quando mamãe aparece na entrada da sala, Jett desiste.
— Beleza, já chega. Eu não vou lutar com a mamãe.
Meus lábios se curvam um pouco, minha mãe sem dúvidas é uma oponente a altura. Ela é a única que consegue cansar o vovô. E isso é um grande feito.
Minha irmã sai da sala, parecendo que treinou por horas, e meu pai não tem mais o que fazer a não ser levantar os braços frustados.
Olha pra mim e me chama.
— Que tal você e eu Madden? Acho que deve estar fora de forma.
Fico sério, e decido provocar ele também.
— Não quero te machucar.
Meu pai fecha a cara na hora. Ele é tão sério quanto eu as vezes.
— Acho que você não tem com o que se preocupar. Vamos. Agora.

Subo no tatame, tiro meu paletó e com cuidado dobro e coloco no canto ao chão.
Faço uma reverência, e caminho até o centro.
Meu pai fica me esperando parado.
Vai esperar bastante.
— Você não vai iniciar ?
Diz com sarcasmo.
— Iniciar o que? Preciso de um motivo para lutar, ou me defender.
Minha mãe solta uma gargalhada e começa a sair da sala, jogando as palavras em meio as risadas.
— Se vocês se machucarem... bem, não me chamem.
E sai.
Meu pai continua igual a mim, parado, respirando. Olha para ver se minha mãe já saiu. E olha novamente pra mim.
— Você precisa de um motivo ? Então que tal conversamos sobre o namorado novo da Octávia? Damon está louco, diz que pegou eles transando no labirinto que eles tem no jardim..
ele continua falando, detalhes.
Eu sinto meu estômago parar, o que ele está fazendo?
— Ela é maior de idade, acho que Damon vai sobreviver a esse namorado também. Isso não me interessa.
— Ah não? Achei que devia interessar já que não tirou os olhos deles no casamento, ficou esperando eles se afastarem. E quando aconteceu, tirou ela para dançar. Dançar Madden? nunca vi você dançar na vida.
Droga.
Sabia que ele estava me olhando, mas achei que fosse ressentimento por eu nunca vir vê-los.
— Eu me preocupo com ela, sempre me preocupei. Isso não é novidade.
Minha voz sai tranquila, isso não é uma mentira. Em parte.
Meu pai começa a andar ao redor do tatame, passos lentos, me olhando.
— Sabe, quando conheci sua mãe, ela e Damon eram grudados, eu não sabia que eles eram irmãos, eles viviam grudados e ela o protegia. E eu gostei dela, desde que a vi, eu queria proteger ela, e senti um ciúme que nunca tive.
Eu fico em silêncio olhando para frente.
— Eu o odiava por alguns motivos, mas o maior deles era por ciúmes dela. Ela era forte, inteligente, mas... precisava de alguém por ela, e quando a vi. Eu não deixaria mais ninguém fazer esse papel. Eu a quiz, na hora. E isso nunca mudou.
Ele faz uma pausa. Eu sei que ele ama minha mãe, eles são perfeitos juntos.
— Eu via além do cuidado de irmão deles, pois estava cego por ela. Mas agora, vendo tudo de fora, eu vejo muito bem.

Ele está atrás de mim, fecho os olhos e espero.
Ele não pode saber sobre Octávia, nunca ninguém imaginaria isso. Não é?
Andávamos junto desde crianças.
— Isso não vai acontecer com você filho.
Agora as palavras não são tão sarcásticas, estão sérias. Como um aviso.
— Pois ela é realmente o que é. Filha do Damon, meio irmão da sua mãe, isso não está errado nem confuso. Ela está fora de questão.
Isso me deixa puto.
Viro a cabeça de lado e falo com a voz mais calma que consigo manter.
— Isso era para me irritar? Você ja foi melhor pai.
E ele vem, sinto o tatame vibrar e quando tenta me alcançar, eu desvio para o lado esquerdo, e ele continua.
Desvio de seus avanços seguidos, mas ele me encurrala na parte da frente, se abaixa e me dá uma rasteira. Eu vou de costas no chão, e doi. Ele não vai pegar leve. Bom.
Me levanto com um salto. E olho para baixo.
— Bem você amassou minha camisa.
Me jogo na direção dele, dando socos, e chutes, dois passam pelo lado enquanto ele desvia, mas o chute acerta a lateral do seu corpo, eu continuo. Gosto de lutar, me faz esquecer. Esquecer a dor, a pressão na minha cabeça, de não ser o todos esperavam, me faz esquecer.
Meus olhos nublam, e não vejo mais nada, apenas sinto.
Sinto quando meu queixo arde, e sei que ele me acertou. Giro o corpo me inclinando e acerto a lateral do seu corpo, um chute bem nas costelas. Ele geme de dor, e eu giro e acerto o mesmo ponto novamente. Ele vai no chão. E estou em cima dele, acerto um soco, pois sinto a mão esquentar, quando levanto o punho para bater novamente fazendo ele arregalar os olhos.
Minha mãe grita.
—Já chega Madden.
Eu paraliso, tentando ver o que aconteceu. A visao vai ficando clara e quando olho para baixo, vejo sangue.
O que eu fiz?
Meu pai está com um corte em cima da sombrancelha, o sangue está correndo pelo rosto todo, provavelmente vai precisar de pontos. Meu coração afunda.
Minha mãe corre até aonde estamos e eu levanto de cima dele, que está dando um maldito sorriso com os dentes pingando o sangue.
— Sinto muito. Eu não quiz...
Tento achar uma forma de falar, mas estou com gosto ruim na boca, um nó se formou na minha garganta.
— Nunca mais faça isso, não quero desculpas. Isso me faz ter mais orgulho de você. Você aprendeu tudo que lhe mostrei,você seria um cavaleiro incrível.
Fecho a cara.
— Até eu mandar mais alguém para o hospital? Até eu perder a merda da cabeça e não conseguir me controlar? Eu não sou como vocês porra.
Minha voz foi subindo a cada palavra dita, eu tento explicar isso para eles a anos, todos eles.

Damon me deu minha máscara quando eu tinha 13 anos, alguns meses depois do sequestro da Tavi, de ter deixado três corpos para traz para salvá-la.
Ele entrou no meu quarto quando fiz 13 anos, e me deu uma caixa preta grande, tinha me falado que mesmo eu não usando tão cedo, ele queria me dar para eu saber que eu me encaixa ali, que eu sempre teria um lugar que me aceitariam como eu era.
Dentro da caixa tinha uma máscara preta brilhante, a abertura dos olhos eram puxadas, lembrando os meus próprios traços, e mesmo com a proteção para não verem meus olhos, parecia que ela me encarava de volta. Ela era simples,elegante, e discreta , muito diferente da deles.
Lembro que olhei para ele, e fechei a caixa. Coloquei no chão e voltei a rabiscar no meu caderno. Damon soltou uma risada e levantou para sair. Quando estava quase na porta, se virou e me disse.
— Um dia, você vai entender que elas não servem para nos esconder, são para nos libertar.
Mesmo depois de anos, ainda acredito que não me encaixo nela. Um monstro não pode ser solto.

Meu pai ainda me encarava, o sorriso saindo do seu rosto.
— Você não pode se esconder para sempre.
Começo a virar para sair, preciso sair dessa sala, não consigo ver meu pai sangrando e saber que fui eu que fiz essa merda.
— Madden.
Minha mãe me chama com a voz preocupada, eu não paro. Visto meu terno novamente e saio do tatame, nem me dou ao trabalho de fechá-lo, vou precisar de um banho, me sinto sujo. Isso faz minha mão começar a tremer.
Começo a contar na minha cabeça.
— Você precisa tirar isso da cabeça filho. Não pode acontecer.
As palavras do meu pai saem suaves, sei que não estamos mais falando do grupo, ele esta falando de Octávia.
Não posso responder, ele não pode saber de nada sobre isso, é errado e sei que ele não me perdoaria nunca.
—Sinto muito pai.
Saio da sala e vou para meu quarto.
Talvez um mês seja muito tempo para ficar aqui.

A blood sinOnde histórias criam vida. Descubra agora