Octávia

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A 5 anos...

A sirene indicando o final da aula,faz com que todos levantem correndo de suas mesas. Hoje tem jogo de basquete, vão todos se reunirem em uma festa descendo a colina após o jogo, mas eu.. contínuo pensando no que aconteceu ontem.
Foi a primeira vez que Madden realmente mostrou que sente desejo por mim, talvez desejo seja uma palavra muito forte, que ele sentiu algo depois que me mostrou como beijar, talvez seja mais correto.
Pode ser que ele só se tornou mais possessivo com o passar dos anos, ele sempre foi protetor, mas quando me beijou a uns meses atrás, tudo ficou diferente para mim, não gostava de ver ele com ninguém, ele agia como se fosse meu irmão mais velho agora, e nem Ivarsen meu irmão mais velho me tratava de forma tão protetora igual ao Madden. Mas ontem, a proximidade, o beijo no pescoço, ele se afastando como se eu fosse fogo, e ele estivesse banhado de álcool. Isso foi algo.
E eu sinto algo, quando fecho os olhos a noite, quando estou dançando e minha mente vai para outra realidade, quando ele me toca, ou vejo algum desenho dele... ele está lá, no fundo da minha mente.
Claro e instigante.
Pego meu notebook jogando dentro da mochila preta surrada, já puxando meu fone de ouvido, quando pego meu celular e me levanto, uma sombra se forma na minha frente, levanto os olhos e vejo um rosto bem conhecido por aqui.
Tyler.
— achei melhor entrar e conferir se você não fugiu antes de eu conseguir falar com você...
Ele diz com um leve sorriso no rosto, definindo ainda mais o maxilar forte, os dentes brancos de um playboy metido , refletindo a pele bronzeada que tem.
Tyler Hernandez, é o capitão do time de basquete, alto, popular... as bobinhas de torcida pareciam adorar que ele sequer jogasse um olhar para elas, e ele sabia que tinha poder de menino latino, com belo sorriso e jeito descolado. Um cretino total.
— Sério? Então quase escapei por pouco.
Falo deixando evidente o tom sarcástico na voz.
Termino de colocar o fone e sigo a passagem por ele, que dá um passo na minha direção, impedindo minha passagem.
— Vem pro jogo comigo?
Bufo uma risada. E continuo andando. Esbarrando no peito dele, ele é mais alto do que pensei.
Ele se vira e vem acelerando o passo na minha direção, viro no corredor e vou em direção a saída, eu não vou em merda de jogo nenhum, mais que porra!
Não tenho nenhum interesse em alguém dessa escola, nunca aconteceu, e por mais que converse com alguns, meu interesse nunca foi esse. Eu tenho que me encontrar, achar um futuro para mim nessa cidade, quero que meus pais se orgulhem de mim, já sou diferente o bastante, não quero ser diferente deles.
Tyler está atrás de mim, chego no estacionamento, está vazio, talvez eu tenha demorado mais do que eu pensei na sala.
Pego minhas chaves no bolso, e subo na minha moto uma Ducati Diavel s preta fosca que meu pai e eu usamos, minha mãe quase matou ele quando me entregou. Mas a sensação é muito boa.
Subo na minha moto, e Tyler me segura com leveza pelo braço. Levanto o olhar e encontro seus olhos, fixos nos meus, talvez até um pouco aflito.
Mais que porra.
— Venha comigo para festa, apareça, tome algo comigo, só.. me dê essa noite.
Ele falou como se fosse algo que sempre fez, Tyler não tem fama de ser um babaca, mas sei que não se mistura com ninguém, essa é a vez mais longa que falou comigo, e tenho certeza que só não estou na lista negra, por causa da minha família, jett é a descolada, estudiosa, eu sou... sei lá,a rebelde? Não me sinto assim, talvez ainda estou tentando descobrir.
Olho bem fixo nos olhos de Tyler, pego meu capacete, colocando e deixando meus cabelos soltos pelo ombro, ligo a moto, e antes de sair, jogo alto suficiente para que ele entenda.
— Eu não sou do tipo de garota que atende pedidos Tyler. Eu que faço as exigências.

Dou partida na moto, deixando ele parado no estacionamento, olho pelo retrovisor e vejo seu sorriso se abrir ainda mais. Como se ele soubesse de algo a mais.
Deixo minha moto no fim da rua da catedral, entro pela porta que fica aberta, e subo até a sala secreta que descobrimos a tantos anos atrás.
Madden a achou, e me trouxe assim que tinha idade para guardar segredos, tínhamos vários, lugares aonde íamos, esconderijos aonde ele podia ficar sozinho, e fugir dos eventos.
Pego a porta em baixo do taco de madeira no chão, e destranco a porta, me deparando com um caos eminente.
Que merda ouve aqui?
Fico em choque por uns segundos até avistar desenhos nas folhas espalhadas no chão, a uma tela com um corte fundo, deixando o desenho do que quer que fosse irreconhecível.
Pego meu celular quase como se estivesse em uma maratona, respiração pesando, a preocupação tomando conta do meu coração, Madden tinha alguns episódios de surtos, ele simplesmente explodia, era como se um vulcão a anos inerte e pacífico, em segundos acordasse e destruísse uma cidade inteira em segundos.
Ele era o próprio caos.
Ligo duas vezes sem nenhum retorno.
ATENDE ESSE CELULAR PORRA.
Ninguém presenciou essas cenas, ele sempre se afasta de todos antes, se isola, e como isso é algo comum dele, ninguém nunca notou. A não ser eu, a única pessoa que ele permitia se aproximar.
Ele não fica violento, nem tenta me machucar, ele só... sofre. Ele sofre tudo aquilo que não consegue dizer e expressar.
Desisto da ligação, e entro de vez no quarto procurando algo que ele possa ter deixado, não tem nada, ele deve ter ido para casa..
Paro próximo a cama e vejo um desenho de uma espada, a lâmina reflete algo sútil, os desenhos feitos só a lápis estão borrados e não terminado, mas dá para ver claramente uma cruz, ela é mal feita, como se fosse forjada, de aço, talvez prata. Torta o suficiente para parecer ao contrário, e me lembra o colar que meu pai tem no pescoço.
Pego a folha a dobrando e colocando dentro da minha bolsa, esse desenho vai comigo, me lembra algo. E talvez um dia eu o use.

Saindo da igreja vou de moto até a casa dos mori, comprimento Lev que está comendo algo sentado na varanda da casa, ele abre o portão e eu entro, parando próximo a porta.
Corro pela entrada principal da casa mais organizado que já vi, parece que tudo está em ordem, móveis, quadros.. uma realidade diferente da que eu cresci. Não que minha casa fosse feia, ou mal cuidada, mas as empregadas nunca acabavam de organizar a folia que eu e meus irmãos fazíamos.
Subo as escadas correndo, sabendo que deixei um pouco de lama no começo da escada, vou até o quarto do Madden no fim do corretor, torcendo para que Kai não esteja por aqui.
Assim que me aproximo da porta meu coração se aperta.
A porta está aberta, acho que ele não vai estar.
Entro e escuto o chuveiro ligado. Ando até o final do corredor, e vejo a fumaça do banho quente saindo, prendo a respiração assim que escuto um gemido baixo.
Paraliso no lugar, ele não está sozinho?
O gemido se repete, dou mais um passo lento, para ninguém me ouvir, olho pelo espelho e tenho uma visão clara do corpo dele no box do banheiro, com as pernas da garota ao redor da cintura, as unhas cravadas nas suas costas, não consigo ver seu rosto, porque está enfiado no pescoço dela. Ele não emite nenhum som. Mas ela compensa bem.
— Deus, isso Madden.
Ela geme com os olhos fechados e queixo erguido, e meu coração se quebra.
Ele aumenta o ritmo, se perdendo no momento.
Sinto algo molhado no meu rosto, dou a volta e saio dali, secando as lágrimas que não param de correr pelo meu rosto agora.
Eu me preocupei atoa.
Ele está mais do que bem.
Aquele beijo não mudou nada para ele, ele só estava fazendo exatamente o prometeu. Me preparando para outro.

você me ensinou bem primo.

Desço as escadas correndo, não me importando se vão me escutar ou não, eles estão bem ocupados.
Subo na minha moto, e sai acelerando, passando por um Lev com um sorriso sacana no rosto. Ele devia saber.
Cretino
Acelero mais ainda, e sinto o vento bater no meu peito, aliviando a pressão que tinha se instalado ali.
Pego a estrada a caminho da escola, mas precisamente do ginásio. Talvez eu veja um jogo de basquete hoje.
Esta vendo Madden? Eu aprendi muito bem.

A blood sinOnde histórias criam vida. Descubra agora