XXIX - Muito Obrigado, Axé

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O peso da consciência não era tão pesado quanto o braço direito de Alexandre sob o meu peito, atracado, como grade matinal.


Havia um pequeno feixe de luz vindo diretamente da janela, e de uma maneira irritante, a luz atrasada do sol me acordava em meio ao embaraço da cama desestruturada pós todos os adventos de uma noite de amor intensa.


De onde eu estava, não conseguia alcançar meu telefone para visualizar que horas marcava o ponteiro, então, fiquei refém da boa vontade do bíceps sonolentos de Alexandre retornar a vida, ligeiramente, se afastando do meu corpo. Seria uma maldade, de forma bruta e cabal, sair daquela posição.


Então, após uns bons minutos (arrisco dizer que entre 20 e 45), ele virou para o lado, e me deu a oportunidade de sair vagarosamente do lado esquerdo da cama, pulando os filetes de madeira que repousavam ao pé da cama, e seguindo em direção ao banheiro, ainda levemente atordoada.


Não vestia nada além de um sutil sentimento de dor advindo das peripécias que eu mesma causei, os meus fios médios descabelados, e ao me deparar com o espelho gasto pelo tempo, notei uma coleção de tons roxos e vermelhos pelo corpo inteiro: pescoço, seios, cintura, coxas, e uma tatuagem de dedos autoexplicativa na bunda.


O ideal seria a utilização de burca. Ele ia me pagar caro, bem caro.


- Homenzinho cretino... - dizia, me virando em todas as posições possíveis para reparar bem no meu corpo.


- Eu avisei que ia meter uma desgraça em tu. Aceitou porque quis. - disse Alexandre, apoiado ao batente da porta, da maneira que veio ao mundo. - Bom dia, amor de todas as minhas vidas.


- Bom dia, meloso. - disse, tentando manter minha derme na forma sólida, embora já estivesse derretida com a forma que ele se expressava.


Roubei um beijinho dos seus lábios, e não pude evitar olhar pra ele, para ele por inteiro. Era impossível que aquele homem tivesse células suficientes para produzir os níveis de libido que naturalmente ele produzia. - Tu não tem ver... deixa pra lá. Esse lastro probatório que você me fez... - disse, girando sem algum pudor. - Vai me impossibilitar de usar um biquíni nesta casa. Se orgulha disso, Alexandre?


- Foi a melhor coisa que eu já fiz por você, galega. - ele dizia, se aproximando sutilmente, deixando um beijo casto onde marcava uma mordida bruta no meu ombro. - Assim, nem Tibério e nem Narciso vão ficar gastando essa sua beleza toda com os olhos. E não me olhe assim, olhe o rastro que tu me deixou nas costas! Parece que eu dormi com uma tigresa!


Virou-se para mim, fazendo com que eu também olhasse o estrago que o causei com a ponta das unhas, nos diversos cantos da sua pele, acompanhado do carimbo proporcionado pelo baque da lasca do móvel que caiu sob o meio das costas largas, ainda avermelhada.


- Meu Deus, meu amor, que estrago... Dói? - topei de leve, mas aparentemente, ele era mais suscetível a dor do que eu poderia imaginar.


- Não muito. Esse é o preço que eu pago por achar que ainda sou jovial. - riu, me deixando um beijo no rosto, bem sonolento. - Ainda tá cedo. Quer esticar mais uma horinha dormindo na cama não, minha preta?


- Larga de preguiça, Alexandre. Você prometeu que ia me levar pra conhecer a fazenda. - disse, buscando pelo meu roupão pendurado em um dos cabides em ferro do banheiro espaçoso. - Certo que o domingo está lindo, que deve ter um café da manhã maravilhoso nos aguardando...


- Sim, mulher... A fazenda não vai se desfazer, o café da manhã pode virar almoço, janta e café novamente e nenhuma dessas coisas todas que eu prometi te mostrar, vai sair do lugar. Tu não tá aqui a passeio, Giovanna. - ele deu o tino da realização matinal que eu precisava. - Esqueceu que essa é sua vida agora?


Esotérico - Uma Doce e Bárbara Viagem.Onde histórias criam vida. Descubra agora