Ambrosius Goldenloin tinha apenas um plano, que envolvia burlar o toque de recolher e uma caneta preta.
Seu corpo sofria de adrenalina e ansiedade pelo que iria prestes a fazer. Nos dormitórios da Academia, um toque de recolher foi feito após uma turma de cadetes - que beiravam aos 18 anos - fazer uma balada envolvendo bebida alcoólica e serem pegos em flagrante. O adolescente de quinze anos tremia na base; ele nunca desobedeceu uma regra da Instituição e ia fazer isso exatamente neste momento, só porque queria ver Ballister Boldheart, seu melhor amigo.
Em relação a Ballister, Ambrosius se sentia estranho. O menino era doce, gentil, passava as respostas das questões de matemática, era habilidoso nos treinos, principalmente no combate corpo a corpo e sentava consigo na hora do lanche. Porém, ele sentia que o cabelo comprido dele dava um aspecto fofo, sua cicatriz no olho direito dava um certo charme, amava seu cheiro e acima de tudo, adorava passar tempo com ele.
- Vamos, Ambrosius! - disse para si mesmo antes de pegar a caneta e enfia-lá no bolso do casaco azul e amarelo.
Ele respira e prende o ar. Era agora ou nunca! Ou ele quebrava pela primeira vez uma regra ou podia ficar no quarto, sem fazer nada, só olhando para o teto...
Não, ficar olhando para o teto até dar sono não era uma opção. Ele tinha que agir.
Segurando o ar, Ambrosius abre uma fresta da porta para conferir se o corredor estava vazio. O loiro viu que era melhor ir logo antes que algum guarda o pegasse. Devagar, ele fecha a porta e vai na ponta dos pés até o quarto de Ballister.
Ao chegar, ele bate fraco, mas ainda é audível no outro lado da porta. Escutou a tranca sendo destrancada e Ballister apareceu, usando uma camisa vermelha e uma calça moletom preta.
- Ambrosius, o que você...
O moreno não teve tempo de falar pois Ambrosius pôs uma mão em sua boca. Ballister entende a mensagem e vai para trás, dando espaço para o loiro entrar. O menino fecha a porta.
- Pelo amor de Gloreth, não fale muito alto - sussurrou Goldenloin.
- Calma Amb - Ballister riu baixo - Não vou falar nada. Mas tenho que te perguntar: o que você tá fazendo aqui?
O descendente de Gloreth engoliu em seco.
- Eu estava entediado - admitiu, tirando os tênis - E estou sem sono. Então resolvi te ver.
- Você quebrou as regras só para me ver? - Boldheart processava a informação. Ambrosius burlou uma regra só para vê-lo, com o risco de ser pego. Seu coração falhou uma batida - Eu gostei.
- Sério? Que bom!
Ver Ambrosius sorrir lhe deixava nervoso e não sabia o por que.
- Bal, eu quero fazer algo com você.
Ambrosius disse ao deixar os sapatos ao lado dos sapatos do dono do quarto.
- Beleza, o que é?
Ambrosius tira a caneta preta do bolso do casaco. Ele olha para o objeto, depois para Ballister e para o chão.
- Bal, eu posso pintar seu rosto?
(...)
Os dois rapazes estavam sentados no chão. Ambrosius havia tirado o casaco e agora só usava seu blusão bege. Segurava o rosto de Ballister e fazia um desenho no lábio superior e no queixo.
- Eu ainda não entendo por que você tá fazendo isso. - murmura o rapaz.
- Porque é legal, Balli - Ambrosius respondeu, passando os dedos na parte interna do queixo do amigo. - E é divertido. O corte de cabelo combinou com você.
- Ah, obrigado! - o moreno sorriu com o elogio.
Ambrosius, não se distraia, ele pensou para si quando sentiu-se nervoso ao ver o amigo sorrir.
Alguns minutos se passam, as estrelas ficavam mais brilhosos e o nervosismo de Boldheart só aumentava.
- Pronto!
O loiro fecha a caneta e mostra o resultado: era um estilo de barba, com um bigode no lábio e um cavanhaque.
- Eu fiquei legal, mas vamos concordar, eu tô com cara de engraçado. Você acha que combinou? - Ballister se auto analisa, inclinado o rosto em alguns ângulos.
- Você fica um pouco engraçado, mas fica bom em você - ele corou, com um sorriso risonho, apoiando a caneta na boca.
Eles riram e as risadas se dissipam igual, lentamente. Ambrosius fica mais nervoso, as palmas da mão suam e sua respiração fica turva.
- Ambrosius, você tá bem?
O menino na sua frente coloca uma mão no ombro do loiro. O rapaz responde que precisa ir embora e brutalmente se levanta, mas com um sorriso no rosto.
Ao abrir a porta para o Goldenloin sair e voltar para seu quarto, ele recebe um abraço como despedida. Retribuiu o abraço, mesmo sem saber o que fazer.
Ballister não tirou os rabiscos do amigo, pois foi naquele momento que percebeu que estava apaixonado por Ambrosius Goldenloin.
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Oh, Ballister
Hayran KurguOnde Ambrosius burla o toque de recolher e vai para o quarto de Ballister com uma ideia que queria fazer faz tempo