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Spencer

Naquela manhã teria minha primeira aula. E enquanto tentava pensar em um jeito de sair daquela situação, tinha que agir normalmente. Afinal, não queria dar brecha para ninguém.
Frank caminhou ao meu lado, ainda me servindo de "guia turístico".
— Você não dormiu nem um pouco, não é? _ ele me olhou de esgueira, reparando nas olheiras profundas em meu rosto, mesmo que não parecesse realmente se simpatizar com meu sofrimento.
— É que esqueci de perguntar se era furto, homicídio ou terrorismo._ brinquei e ele riu levando com leveza.
Apesar de parecer uma locomotiva de trem, soltando fumaça pela boca, e de seu jeito desleixado, Frank não parecia tão ruim. Bom, isso se eu não soubesse onde ele estava. Afinal, ele era um integrante do The Villains School.
— O que vocês aprendem aqui?
Ele arqueou a sobrancelha.
— Eu te disse. Isso aqui é mais um abrigo do que uma universidade. Mas alguns são realmente empenhados então contrataram professores qualificados de cada área. Você vai ter aulas normais como em uma faculdade comum. A diferença é que vai ter que sobreviver ao período do curso. _ ele disse colocando mais um cigarro na boca.
— Você não deveria fumar tanto. São oito da manhã. _ disse baixo e ele abaixou o isqueiro para me olhar.
— Você se preocupa na sua sobrevivência e eu com o meu pulmão, ok?
— E quem vai se preocupar com o meu se você ficar fumando perto de mim de quinze em quinze minutos?
Frank que ia erguendo o isqueiro de novo parou, me olhando de esgueira e praguejou.
— Ora, o médico! Tem sorte de eu ser um bom colega de quarto. Ou agora quem estaria quebrando seus ossos seria eu. _ ele grunhiu entre os dentes e apontou para uma porta aberta. _ Sua sala. Consegue lembrar o caminho de volta?
— Vou fazer uma anotação por via das dúvidas.
Ele acenou dando meia volta e indo embora.
— Terrorismo. _ ele sussurrou e estagnei, sentindo meus ombros ficarem rígidos. E como soubesse de minha angústia, ele riu rouco sem olhar para trás de um jeito malvado.
Afastei os pensamentos e entrei na sala de aula. Era bem iluminada, as janelas eram grandes, as carteiras limpas e impecáveis. Nem parecia que está era uma universidade de marginais. Mas o que mais me intrigou, foi à sala estar relativamente cheia. Talvez tivesse um pouco mais de vinte pessoas em silêncio, me olhando de forma cética.
Apenas entrei, encontrando um lugar vazio, e logo o professor chegou e começou a dar a aula. E enquanto ele explicava tudo, eu estava cada vez mais intrigado com o comportamento dos alunos.
Franklin não mentiu quando disse que aqui eles respeitavam professores. E contrariando minhas expectativas, não havia trombadinhas.

***
— Vocês devem estar cientes que o intercolegial é em breve. Não teremos aulas durante essa semana devido à movimentação. Tomem cuidado! _ o professor disse calmo se escorando na mesa.
— Sim!_ respondemos baixo e olhei para minhas anotações da aula. A aula era tão boa, com tantas informações, que estava mais uma vez impressionado. Apesar de ter ficado perdido.
Levantei a mão, olhando fixamente para o professor.
— Professor, como assim intercolegial?
Todos se viraram para mim como se eu tivesse feito uma pergunta estúpida.
— Seu nome?
— Spencer. _ disse um pouco tímido.
— Por que não veio nada outras aulas Spencer?
— Eu comecei hoje. _ piei e ele estagnou, então riu.
— Um calouro. Eu acho que seu veterano lhe passou um trote Spencer. Essa não é a sua turma._ela apontou com humor para fora.
Enfiei minhas coisas dentro da mochila e sai de cabeça baixa, morrendo de vergonha.
— Eu vou matar aquele cretino! _ grunhi e todos da turma riram.
Sai pela porta da frente, procurando Frank. Se eu ainda não tinha gastado meu réu primário, hoje era o dia de fazê-lo.
Estagnei ao ouvir o som rouco e intenso, e o momento em que cessou com um girar de chave. Nahí abaixou o pezinho da moto e desceu. Alisou os cabelos colocando os fios no lugar. Ela passou por mim, subindo os degraus, mas meus olhos estavam no livro de baixo de seu braço.
— Minha nossa!
Ela parou, se virando devagar e me olhando dentro dos olhos. O aviso de Frank bateu em minha mente como um raio, e mesmo que não estivesse olhando em seus olhos meu interior tremeu como se eu tivesse sido vasculhado. Sem saber como concertar aquele mal entendido abaixei meus olhos e apontei sem graça para o livro.
— Eu li o último e sinceramente fiquei um pouco desapontado com o autor. Já faz mais de dois anos que ele não lança nada, então eu não gostei do final da saga.
Não ousei olhar seu rosto, apenas vi o mover de seus pés, e ela desapareceu. Eu estava ferrado! Não ia conseguir sobreviver uma única semana aqui, imagine até a conclusão do curso.
Corri para o quarto, quase voando sobre as escadarias. Onde Franklin havia se metido?
Respirei fundo, e olhei meu relógio.
— Refeitório!_ corri para lá, deslizando ao me virar com pressa e Franklin também não estava lá.
Abaixei-me abruptamente, com minhas mãos na cabeça começando a entrar em desespero.
Eu ia morrer... Eu já tinha quebrado a merda da segunda regra.
— Burro! Burro! Burro! _ esmurrei minha cabeça.
Levantei-me aturdido, sem saber o que fazer agora que tinha minha morte encomendada.

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