Com uma mão repousada sobre a perna e a outra segurando o guidão da moto pilotei noite a dentro. Não era tão tarde, mas as ruas estavam um tanto vazias nesse horário. Talvez fosse quase meia noite.
O brilho de um farol brilhou o meu retrovisor e olhei atenta e voltei minha atenção para a pista, chegando a moto para mais o canto. O carro acelerou de forma estranha me fazendo conferir de novo e segurei o guidão com as duas mãos. Acelerei mais, mas eles parearam ao meu lado. Olhei afiada de esgueira diminuído a aceleração, e eles também o fizeram. A janela abriu e uma pistola foi apontada para mim.
— Encosta!_ele ordenou e diminui abruptamente a aceleração. Eles frearam com força, e vi a traseira do carro ficar perto de mais, e desviei acelerando mais, cortando o carro. Ajustei-me no banco, apertando mais o acelerador.
Esses babacas não sabiam com quem estavam mexendo.
O retrovisor piscou pela luz das lanternas, o som do carro acelerando de novo me fez dançar na pista cortando um carro pela pista contrária, logo o carro dos assaltantes estava logo atrás de mim novamente. Eles jogaram o carro para a pista contraria e um tiro me fez apertar as sobrancelhas. Pareando o carro mais uma vez, eles jogaram o automóvel abruptamente para cima de mim, me fazendo desequilibrar. A moto derrapou, e o som de sua lataria arranhando no chão doeu meu coração enquanto eu rolava de forma dolorida e seca no asfalto.
Levantei-me em um impulso, correndo pela rua para um beco próximo. A moto eu recuperava depois, mas estava em desvantagem e desarmada. Mas não ia ficar assim! Não mesmo!
Arfei após perceber que não tinha sido seguida. Avaliei meu braço completamente esfolado e sangrando. Minha calça também estragou em alguns cantos e tinha certeza que havia ganhado uma contusão nas costelas. Meu sangue estava fervendo. Aqueles dois filhos de uma puta não sabem o inferno que recairia sobre eles.Hal
Sentado sobre o banco da Cerejinha, nome dado pelo meu pai a Fat Boy, ouvi o portão ranger naquele som irritante e afastei meus fones de ouvido, para ver surgindo em meio à escuridão a figura de Nahí mancando. Suas roupas estavam surradas e sujas, seu braço sangrando com grandes esfolados.
O capuz sobre minha cabeça me manteve minha expressão escurecida nas sombras.
—Quem fez isso com você?_grunhi severo. Nahí sempre foi cuidadosa ao pilotar. Ter caído da moto seria um evento muito raro. Ela parou, apenas me olhando de soslaio. _Cadê a Iron?
Meus olhos caíram em sua figura baixo à cima procurando por outros ferimentos. Que se foda que ela era uma vaca miserável, ela era a filha do Ranks. E se eu não fizesse alguma coisa meu pai me mataria. Nahí abaixou o capacete, seu peito inflou em uma respiração profunda e ela deu um passo adiante para ir para dentro.
Subi sobre minha moto, girando a chave e deixando o som reverberar, quebrando o silêncio absoluto do The Villains.
— Sobe!_ordenei e ela parou me olhando pelos cantos dos olhos quando manobrei, ficando de costas e aguardando o instante que ela subiria _Se você não subir, eu vou pilotar até o presídio e fazer minha primeira vista ao meu pai desde que ele foi preso. E sabe o que eu vou dizer? Alguém machucou a Nahí, roubou a Iron do tio Ranks, mas ela apenas fugiu com o rabo entre as pern...
A moto pesou, e olhei pelo retrovisor o olhar duro de Nahí, acelerei, deixando a roda dianteira bater no portão e o abrir sem me importar de fechá-lo. Acelerei fundo e meu capuz caiu para trás.
Nahí agarrou as laterais de meu moletom, quando acelerei ainda mais, muito alem do permitido.
—Me aponta para onde!_gritei contra o vento, e sua mão suja de sangue apontou para uma parte da cidade que brilhava ao longe graças às luzes dos postes.***
— Fica aqui fora! _ avisei severo descendo da moto e ela me acompanhou com os olhos daquele jeito indecifrável. Nahí estava uma verdadeira bagunça e a encarei dentro dos olhos. Por alguns segundos enquanto caminhava para o cercado.
Eu conhecia bem a cidade, sabia de alguns lugares onde ladrões levavam automóveis roubados para desmanche. Pulei o cercado do galpão, caminhando pelo escuro até os fundos.
Torci a porta com um pé de cabra que sempre carregava preso escondido pelas minhas costas dentro do moletom. A fechadura entortou e a porta rangeu baixo abrindo. Entrei dentro do galpão, olhando para os carros erguidos por elevadores, faltando peças ou apenas a carcaça deles.
— Olha só essa beleza! Essa moto deve valer uma boa grana! _ um dos assaltantes passou a mão pelo tanque avaliando as ranhuras grotescas causadas pela queda.
Arqueio a sobrancelha andando dentro do local de forma silenciosa. O desenho na lateral da caveira, rosas e uma adaga cravada, em tons pretos e dourados brilhosos que, diferenciava da pintura fosca forte da moto os chamaram atenção.
— Onde você já viu esse símbolo?_ um deles colocou a mão no quadril intrigado.
— Eu também tenho essa sensação de familiaridade...
— Com certeza sim!_ disse grave e severo e grupo de quatro homens se virou para me encarar.
Acertei o pé de cabra de ferro pesado, com todas minhas forças na cabeça do primeiro. Balancei novamente a barra acertando o segundo. Chutei a barriga do terceiro o jogando no chão, e o acertei três vezes na cabeça, espirrando sangue em meus coturnos. Parecia brincadeira de tão fácil...
O quarto tentou sacar a pistola, mas o encarei dentro dos olhos cético.
— Talvez por que seja da Irmandade do Pesadelo, não acha?_ A simples menção fez a mão do homem tremer tanto que a arma quase caiu. _ Ou melhor, da filha do líder da irmandade.
O homem quase caiu duro com a informação, olhou para seus três companheiros no chão, sangrando mortos, fazendo poças de sangue pelo chão cimentado liso do galpão de desmanche.
Saquei minha pistola de forma ágil e disparei três vezes consecutivas. O som reverberou pelo galpão, ecoando mais alto do que realmente seria. Mirei abruptamente ao sentir a aproximação de alguém e abaixei a arma devagar ao encarar o rosto sujo e o alto de sua testa machucada com um leve traço de sangue. Nahí parecia pior agora sob a luz do galpão.
Ela apenas foi em direção à moto. Seu olhar se tornou abatido ao ver os estragos na pintura.
Arrastei o pé de cabra no chão, deixando um sonido por todo galpão. Destravei a porta metálica do lugar, e com um único impulso a fiz rolar para cima, liberando a passagem. Olho para Nahí por cima do ombro, empurrando a Iron com esforço para fora sem montar sobre ela.
— Não estragou muito. _ comentei de forma seca quando ela passou por mim._ O guidão entortou um pouco. Vai precisar mandar para o concerto.
Ela não me respondeu, apenas continuou empurrando com esforço, sem se importar se precisava ir ao hospital ver se não tinha machucado algo mais sério. Suspirei pesadamente de um jeito amargo, fechando a porta do galpão e segui em direção a minha moto.
Meu pai não poderia dizer nada. Acelerei a moto, indo embora.Nahí
Meu corpo estava dolorido em cada canto dele. Ofeguei empurrando a moto com dificuldade, e o som da moto de Hal ecoou mais perto até parar ao lado. Ele abaixou o pezinho, resmungou alguma coisa que não entendi. Afastou-me quase me empurrando, e assumiu o meu trabalho de antes.
— Sobe na Cerejinha e vai para o hospital! _ ele ordenou ríspido, sem olhar para trás e olhei para a moto parada, ainda ligada, no meio da rua. _ Vai logo! _ ele grunhiu de forma agressiva, e com apenas um rolar de meus olhos encarei suas costas.
Movi-me, subindo na moto e a acelerei, pareando com Hal que continuava empurrando a Iron. Meu pai nunca deu nome a ela, dizia que Iron era bom bastante.Spencer
Frank colocou a cabeça acima do nível do muro, averiguando de forma silenciosa a área. Praguejei enquanto ele estava sobre meus ombros.
— E então?
— Acho que está limpo! _ ele subiu no muro, me estendendo a mão e me puxou com dificuldade.
Pulamos para dentro do The Villains, e saímos correndo sem pensar duas vezes em direção à entrada. A atenção exigida deixava meus músculos tensos. Corremos direto para o quarto como dois fantasmas, evitando qualquer ruído. Fechei a porta do quarto, e respiramos fundo e soltamos devagar em alívio.
— Vivo..._ Frank sussurrou.
— Vivos!_ concordei ao repetir e me joguei na cama de braços abertos e encarando o teto.
— Informação de mais para um dia só!
— Todo dia é assim?_ perguntei angustiado e Frank me olhou de esgueira.
— Não! Mas com um idiota novo fazendo merda, as coisas ficaram bem mais divertidas. _ ele riu de forma sincera.Hal
Afastei-me da entrada da garagem de um conhecido que ia dar um jeito de arrumar a Iron. Nahí estava escorada na Cerejinha, olhando para o nada quando me aproximei.
— Ele disse que você pode vir buscar daqui três dias.
Ela se afastou e subi na moto a olhando de esgueira. Acenei para a traseira e ela me olhou de soslaio antes de aceitar e subir.***
The Villains School apontou no horizonte, o que mais parecia uma mansão gigantesca decadente escondida no meio do nada em uma estrada deserta.
Já começava a amanhecer. Nahí não teve nada sério, além de alguns esfolados e contusões leves da queda. O médico apenas receitou um analgésico e a dispensou. Como sempre, não trocamos mais do que olhares. Não é como se essa noite tivesse nos feito amigos ou qualquer outra coisa do tipo. Eu sabia que Ranks ficaria furioso ao saber sobre isso. Mas até que situação foi vantajosa para me aproximar.
O portão ainda estava aberto do jeito que deixei. Nahí desceu quando parei e o fechou. Não a esperei, e estaciono a moto, arrancando a chave da ignição e indo em direção ao dormitório. Ela me seguiu rumo ao quarto.Nahí
Hal estava escorado na própria porta do quarto, com os braços cruzados frente ao peitoral coberto pela camiseta preta e o moletom. Seus caíram como duas flechas nos meus, suas sobrancelhas apertadas rigorosamente.
— Não vai me agradecer?
Eu não tinha pedido a ajuda dele! Eu teria resolvido àquilo sozinha se ele não tivesse metido o nome do tio Carl nisso. E se ele contasse para Carl, meu pai ficaria sabendo quase que minutos depois e eu teria a Irmandade do Pesadelo alvoroçada e meu pai nervoso a ponto de piorar as coisas.
Não desviei meus olhos quando abri a porta de meu quarto e entrei ainda mantendo contato visual, e a fechei com o pé em um chute de lado. A mesma tremeu. Eu sabia que devia agradecer, mas hoje não seria o dia. Não mesmo! Não iria inflar o ego já inchado de Hal, e deixar que ele acreditasse que eu realmente precisava de alguma coisa vindo dele para resolver meus próprios problemas. Mesmo que da situação poderia ser extraída alguma vantagem.
A porta do quarto de Hal bateu de forma estrondosa, me fazendo fechar os olhos e respirar fundo. Insuportável...----------------------------------------------------------------------------------------------------
boa leitura!
❤️
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The Villains School
Teen FictionSpencer, um jovem rapaz ansioso para ingressar em uma universidade, acaba por dar ouvidos aos seus pais que inocentemente não sabem para onde realmente mandaram o filho. O rapaz, se encontra em uma delicada situação ao descobrir a verdadeira naturez...