DOR. O súbito choque que eu senti por todo corpo provendo da minha testa me desorientou, a dor aguda, profunda e penetrante me levou a um limiar insuportável, sentia como se um ferro em brasas estivesse sendo pressionado contra o meu crânio, destroçando-o e cauterizando os nervos e a pele da região. Meu corpo se contorceu em espasmos involuntários por causa da fusão cerebral, eu rugi desejando morrer logo; a tortura de meros segundos parecia se arrastar eternamente, como se cada instante se transformasse em horas intermináveis.
- AAHHHHHHHHHHH.....!!!! - A falta de ar impediu meus gritos, e assim que eu tomei um novo fôlego pude ver uma silhueta lilás em cima de mim. - Eywa? - O nome da divindade foi como uma anestesia para o meu sofrimento.
- Respire devagar. - O tom de voz não me era familiar, todavia, a paz que sua presença estava me proporcionando não me dava motivos para contestá-la.
Conforme minha respiração ia se acalmando, e minha pulsação diminuía, os sentidos começavam a voltar, primeiro a pressão em meu corpo, eu estava deitada em uma superfície regular, havia mãos por todo meu corpo, como se estivessem me contendo, comecei a sentir um gosto amargo na boca, algo metálico com um profundo amargo que me fez lamber os lábios - ato esse que me fez sentir um leve salgado no ar, e o cheiro de maresia invadiu minhas narinas.
- Kiri. - Chamei em uma tentativa de me ancorar na realidade.
- Estou aqui, C12. - Na direção da voz, havia outra silhueta lilás.
Forcei meu corpo para cima, os borrões cinzas ao meu redor se afastaram enquanto eu me sentava.
- Eu não estou conseguindo te ver. - Murmurei, minha voz carregada de pesar.
A figura lilás aproximou-se com cuidado, estendeu a mão e tocou suavemente meu rosto. Esse toque gentil, trouxe uma onda de reconhecimento, a sensação da sua mão em minha pele e seu sublime cheiro fez-me ter certeza de que aquela era realmente a Kiri, a familiaridade desse contato me confortou.
- Se vire para cá. - A voz que eu havia ouvido ao recobrar os sentidos se fez presente novamente. - Feche os olhos.
A sombra lilás ao meu lado pegou meu rosto dentre as mãos e seus polegares pressionaram meus olhos com suavidade, murmúrios que pareciam uma reza invadiram meus ouvidos, eu pude sentir o ar tremular ao meu redor, senti fisgadas em meus olhos antes de me ser permitido abrir os olhos novamente.
Olhos maiores e levemente mais afastados do que o normal, tatuagens enfeitavam sua pele de cor azul turquesa, seus cabelos eram castanhos e não estavam trançados, todavia, estavam ajeitados de uma bonita forma, e no meio de sua testa havia uma concha pendurada - ela, com certeza, não era do Clã Omatikaya.
- Metkayina? - Estreitei os olhos vendo o leve sorriso da maior.
- C12!!!! - Meu nome gritado por uma voz infantil soou preocupado, logo um pequeno corpo se chocou contra o meu.
- Tuk! - Exclamei abraçando a garota, ela me parecia triste, e olhando para os rostos conhecidos ao meu redor, a sensação de que havia algo errado se apossou de mim. - O que aconteceu? - Indaguei tentando encontrar alguma resposta no silencioso olhar que Jake me lançou da abertura da tenda.
- Muito obrigado pela ajuda, Ronal, nós não sabemos como agradecer. - Se esquivou da minha indagação e se referiu a mulher Metkayina ao meu lado.
- Se ela nadar melhor do que vocês, já vai ser um grande agradecimento. - O tom ríspido dela fez minhas orelhas mexerem. - Se cuide... C12, espero que você possa se juntar as atividades amanhã.
- Sim, senhora. - Respondi respeitosamente, pela forma que ela se portava, parecia ser alguém importante, ela pareceu satisfeita com minha resposta, com um breve aceno ela se despediu e saiu da tenda.
Um silêncio pesado e desconfortável preencheu o lugar, eu me vi cercada por rostos familiares que pareciam carregar o peso de algo importante, mas que hesitavam em iniciar a conversa, até que a na'vi mais velha começou a falar.
- Eu tinha lhe contado sobre isso. - Olhou para o seu esposo enquanto se aproximava de mim, suas palavras não me fizeram sentido.
- Uma coisa é ficar sabendo por alguém, outra é ver alguém morrer e reviver... como um molusco fazendo um membro crescer. - O azulado me encarou com um ar quase que incrédulo. - Você é imortal? É isso?
"Imortal", a palavra sempre me pareceu um conceito distante e inatingível; na Terra, o medo da morte sempre me assombrou, a cada fronteira que cruzava, a cada adversário que enfrentava, a sombra da morte pairava sobre mim - ao longo das batalhas, já havia sentido a sua presença - já havia perdido membros do meu corpo, mas, nunca havia deixado de respirar na Terra, mesmo com a morte sendo uma ameaça constante, até eu chegar em Pandora, ela não havia me alcançado... mas e se ela fosse incapaz de me alcançar? E se só agora eu estivesse sabendo sobre isso, pois as pessoas ao meu redor são verdadeiras? E se esse fosse o real resultado que os humanos queriam chegar com a minha existência? Imortal? Incapacitante? Um ser capaz de ser abusado incontáveis vezes por uma instituição, sendo lançada a própria sorte a diversos campos de batalha sem risco de sofrer alguma baixa, mas sentindo dor, agonia e o desespero das situações em que me eram empurradas.
- Nunca me disseram nada sobre isso. - Respondi, deixando que o peso da surpresa e do vazio enchessem minha voz; era uma revelação desconcertante. Será que eu realmente era imortal? E, se isso fosse verdade, exista alguma forma de minha existência chegar ao fim?
Aquelas perguntas começaram a circular em minha mente, um turbilhão de incertezas e questionamentos que eu nunca havia enfrentado antes estavam borbulhando quase sem chances de seres respondidas, e isso era o que mais me preocupava.
- O que eu sou? - A tristeza de um ser que indagava sobre a própria existência se transbordou de meu corpo como lágrimas incontroláveis.
Eu não era na'vi, eu não era humano, e agora, nem mortal eu era.
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Tradução do título: Incapaz de morrer
Desculpa pela demora, mas estamos de volta, MELHORES DO QUE NUNCA, passei de semestre, comecei outro semeste e vamo que vamo.
Espero que tenham gostado!!!!
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Oel ngati kameie
AdventureDe forma escultural seu corpo se posicionava para puxar a corda do arco, pela magreza devido sua natureza e alimentação de baixa caloria era possível ver seus músculos, muito bem desenvolvidos por sinal, me remetia a de um humano, um humano de dois...