A frustração me corroeu quando Kiri, Tuk e Neytiri me abraçaram – elas estavam preocupadas, mas eu sabia que qualquer hipótese de sentimento que elas tinham, não chegava perto do abismo que me corroía.– Eu já fui humana. – Comentei com um tom sórdido. Mas eu não me lembrava mais da sensação de estar em um corpo humano, de como via e ouvia o mundo.
Tudo o que restava da minha "eu humana" eram fragmentos borrados de experimentos cruéis, que mal faziam sentido em minha mente – inferno, era isso que resumia todas as minhas memórias daquela época.
– Eu não sei quando eu deixei de ser humana. – Discorri, foi quando Jake se aproximou e me balançou de forma bruta pelo braço como se tentasse me acordar.
– Você está com a gente agora, não importa o que você é! Você vai continuar sendo você!
– QUEM SOU EU?! – Berrei me levantando e me afastando deles.
Eu me senti distante daquela família, daquele lugar, como se eu fosse um ser a parte da existência, como se eu não devesse existir.
– C12, por favor... – Nojo, foi isso que eu senti do meu "nome" na voz Kiri, ela me olhou com preocupação.
Aquele foi o estopim, eu não sei como, mas eu consegui sair daquela cabana, e independentemente de ter outro horizonte diante de meus olhos, eu me joguei no mar – que agora estava mais perto do que nunca – e nadei, com toda destreza que tinha, com toda minha energia e fôlego, como se conseguisse colocar todo o caos de minha alma em minhas ações – até que me vi flutuando em meio ao céu, em meio ao mar, em meio ao... roxo...
A presença abstrata pairava ao meu redor como uma gaivota esperando um lugar para pousar – era a primeira vez que aquela entidade me respeitava, que demonstrava que estava ali, que não me obrigaria a aceitá-la, mas se eu quisesse... ela estava ali.
– Eywa, você é uma Deusa? – Indaguei não desviando meu olhar do púrpura das nuvens.
– Às vezes me chamam assim, às vezes me chamam de mãe, às vezes me chamam de conexão. – Sussurrou em meu ouvido como se me contasse um segredo.
– Mas o que você é? – Refiz minha pergunta após assimilar sua resposta.
– Eu sou muitas coisas, mas também posso ser quase nada, C12. – Franzi a testa quando ouvi meu nome, ele estava me incomodando mais do que o normal.
– E isso não te preocupa? Existe alguém igual a você?
– Não, isso não me preocupa, porque eu sou amada e adorada. – O mar se elevou conforme ela terminava a frase, envolvendo-me em um abraço aquoso. – No final, não importa o que eu seja.
De alguma forma, senti pena dela. Mas por que senti pena?
– Você... eu tenho pena de você. – Expressando meu pensamento, me aninhei em seu abraço.
– Por que sentes pena de mim?
– Solidão, você parece estar sozinha.
– Eu não me sinto assim, muito pelo contrário, eu me sinto muito bem acompanhada por cada voz que proclama meu nome, que me fala com o coração, e que procura abrigo em mim.
– Você é sozinha. – Sorri, talvez fosse uma consequência de ser uma "divindade" que ela não compreendesse totalmente o que eu estava dizendo, ou talvez entendesse mais do que eu mesma era capaz de perceber.
– E você, é sozinha? – A minha própria pergunta feita contra mim me fez suspirar.
– Jake me disse que eu estava com eles, a Kiri é uma boa amiga, Neteyam, Lo'ak, Neytiri, Tuk... eu acho que eu não sou mais sozinha, eu só... queria saber o que eu sou, e do que eu sou capaz. – Murmurei, estava me arrependendo de ter saído daquele jeito da tenda, de ter deixado... eles preocupados.
– Então por que tem que ser tão importante o que você é?
Desviei o olhar, aquilo agora estava fazendo sentido para mim.
– Acho melhor eu voltar. – Me mexi me soltando se seu abraço e caindo na água.
– Eu também acho. – Sua pronúncia fez meu corpo pesar, enquanto eu estava apagando, pude ouvir o final de sua despedida. – Até logo....
O céu de Pandora, com suas luas, me saudou com uma beleza incrível. Além da paz que agora reinava em mim, uma palavra vagava solitária, mas com uma grande importância em minha mente – Ayna'te – um nome que eu nunca havia ouvido antes, no entanto, sentia que ele me fora dado. Um sentimento estranho me inundou, uma sensação estranhamente boa.
Comecei a nadar rapidamente pelo mesmo caminho que havia percorrido até aquele lugar. Não havia sinal de terra firme ao meu redor, e eu sabia que o trajeto de volta até o grupo seria longo. Enquanto nadava, torcia para que ninguém tivesse saído atrás de mim, pois seria perigoso demais, eles não tinham o físico necessário para nadar em mar aberto, além de não fazer ideia do que poderia estar espreitando nas águas profundas – algo que eu também desconhecia. Por esse motivo, eu estava nadando rapidamente, mas sem exagerar para não esgotar as minhas forças que já estavam pela metade.
"Eu estou indo para casa" – Esse pensamento ecoou em minha mente enquanto eu nadava, trazendo uma doce felicidade e uma agradável sensação de plenitude. No entanto, fui interrompida quando comecei a ouvir alguém me chamando. Ergui a cabeça para fora da água e vi Neteyam ao longe, gritando meu nome. Ele estava montado em um animal marinho, sua voz carregava desespero misturado com preocupação. Para acalmá-lo, ergui minhas mãos.
– NETEYAAAM! – Gritei seu nome o chamando.
Ele olhou em minha direção, e quando me viu pude sentir sua preocupação se esvair ao longe. Por alguns instantes, relaxei, pensando que a partir daquele momento tudo seria melhor. No entanto, minha tranquilidade foi interrompida quando notei uma sombra abaixo de mim – uma sombra monstruosa que se aproximava rapidamente, com suas mandíbulas abertas.
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Tradução do título: Povo do céu, na'vi, Eywa
Olá, não bateu 1000 palavras, eu sei, mas eu to com sono, quero postar, e amanhã eu tenho faculdade.
Uma boa noite!
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Oel ngati kameie
AdventureDe forma escultural seu corpo se posicionava para puxar a corda do arco, pela magreza devido sua natureza e alimentação de baixa caloria era possível ver seus músculos, muito bem desenvolvidos por sinal, me remetia a de um humano, um humano de dois...