Akuli

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Em um esforço desesperado, me joguei para o lado na esperança de escapar daquela grande boca que se fechava rapidamente em minha direção, no entanto, minha tentativa falhou e logo senti a terrível pressão em minha cauda – o animal a agarrou e me puxou com uma força imensa vários metros para fora da água.

A dor era insuportável, um urro involuntário escapou dos meus lábios enquanto minha cauda era quebrada brutalmente por seus dentes, o som dos ossos quebrando ecoou pelo ar antes de ser abafado pelo estrondo ensurdecedor da criatura colidindo novamente com a água – ela havia despencado em cima de mim, o que havia feito a superfície da água não se diferenciar da superfície de uma pedra.

O animal monstruoso se debateu sem soltar minha cauda, até finalmente conseguir desmembrá-la de meu corpo, a besta então se afastou de mim para girar seu grande corpo e voltar pronta para terminar com o que havia começado – ela havia atacado um dos lugares mais sensíveis do meu corpo, com várias terminações nervosas, o final de minha coluna, a fonte de meu equilíbrio, meu corpo tremia em espasmos enquanto eu afundava no mar que estava tingido de um forte escarlate.

Merda, merda, merda! – A voz de Neteyam invadiu meus ouvidos após uma queda de minha consciência, ele me segurava forte contra seu corpo com um braço e com o outro guiava um animal marinho, logo atrás de nós estava aquele ser colossal, que pela sua velocidade logo nos alcançaria.

Me solta. – Pedi, minha voz trêmula refletia minha falta de força naquele momento. O azulado me olhou com os olhos arregalados não querendo acreditar no que havia escutado.

– A gente vai voltar pra casa, C12. – Afirmou, sua voz firme tentava esconder o rastro de pânico, ele não sabia o que fazer, não havia terra firme por perto, e muito menos havia algo que pudesse nos salvar daquela besta, era só questão de tempo até sermos engolidos.

Ayna'te, esse é o meu nome agora. – Sorri tentando acalmá-lo. Ao contrário dele eu tinha um plano – não um que salvasse nós dois, mas um que teria que dar certo.

Respirei fundo e usei a adrenalina em minhas veias para ganhar força, me estiquei e fiz a conexão com uma das filas do ser que montávamos, desconectei Neteyam que pelo pânico não conseguiu me impedir e o joguei no mar, dei meia volta com o pequeno animal e berrei indo mais fundo no oceano torcendo para que o animal estivesse se guiando pelo rastro de sangue e pelo barulho na água – quando o enorme ser mudou sua rota em minha direção eu não pude conter um sorriso, Neteyam estava salvo.

Ilu, esse era o nome do animal que eu estava montando, ele não era grande, nem muito rápido, mas era esguio, ele tinha a velocidade e o tamanho exatos para realizar manobras evasivas capazes de confundir aquele enorme ser que era atrapalhado pelo seu tamanho – essa besta colossal que nos perseguia era um animal de "bote" – ele pegava a presa desprevenida e a debilitava o suficiente de primeira para ser fácil abocanhá-la mais uma vez, pois ele era péssimo contra animais esquivos.

Todavia a fadiga que sentíamos era o dobro do que afetava aquele ser, em algum momento íamos perder – e eu tinha medo de descobrir o que aconteceria comigo se eu fosse comida se eu não podia morrer – mas antes que isso acontecesse anjos aquáticos apareceram a nossa frente, tulkuns, um enorme grupo de tulkuns.

Havia duas coisas que eu sabia sobre eles, a primeira era que eles eram doceis, nunca haviam atacado nenhum barco humano em toda história, e a segunda era que, apesar de não matarem, eles conseguiam se defender muito bem de predadores que pensavam duas vezes antes de se aproximar de grupos de tulkuns.

Adentrei a manada aquática ouvindo urros grotescos daquele ser que me perseguia, eu me virei e vi o ser se contorcendo e berrando como se me xingasse – eu estava salva, dolorida, exausta, com metade da cauda decepada, todavia estava salva.

– Yee! – Comemorei brevemente, levantando os braços em um gesto de triunfo. O ilu fez alguns barulhos alegres, como se também comemorasse a vitória junto comigo.

No entanto, minha sensação de conquista foi rapidamente ofuscada pela incerteza do momento. Onde estava? Para onde deveria ir? A fraqueza começava a tomar conta, sobrepondo-se à adrenalina, e eu podia sentir o peso da perda de sangue.

Minha atenção foi capturada quando uma das grandes "baleias" se posicionou sob mim e me ergueu com seu corpo para fora da água, o ilu permaneceu no mar, parecia estar recebendo ajuda de um tulkun – logo, todo o grupo começou a se mover, sem ter muita opção eu me deixei levar, ali, pelo menos, eu tinha certeza de que não estaria em perigo.

Depois de um largo repouso, percebi que minha cauda havia parado de sangrar e como mexer ela já não me trazia tanto desconforto tomei a iniciativa de descer do tulkun durante uma das várias paradas que eles fizeram. Aproveitei a presença da pequena fauna que se aglomerava ao redor dos tulkuns em busca de proteção e me alimentei, devorando vários pequenos peixes de aparência e sabor duvidosos que beiravam entre o tragável e o intragável, só me forcei a comê-los pois sabia que precisava de energia.

Assim passou um, dois dias, estava começando a me questionar se um dia voltaria a ver terra firme ou algum membro da família Sully, não sabia quase nadas daqueles animais ao meu redor, suas rotas migratórias, isso se eles migravam, estava à deriva e não tinha coragem de deixar o grupo, ser deixada sozinha em meio ao oceano seria mil vezes pior do que seguir com eles, afinal não havia nada ruim ali, meu corpo era capaz de se adaptar a vida marinha sem problema algum – mas eu queria voltar para casa.

– HAAAAAAA..... – Gritei tentando me desestressar, mas o meu berro foi coberto por um oco som, como um berrante, uma trombeta...

E no horizonte eu pude ver terra firme, alguns seres verdes semelhantes a mulher que havia me tratado no dia que eu fugi da família Sully, mas o meu foco foi para o enorme ser alado que voava pela ilha, aquele era um sinal dos Omatikaya, o povo do mar não tinha domínio sobre os ikrans – os tulkuns estavam me levando de volta para casa.


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Tradução do título: Akuli é o nome do monstro! é o nome da espécie!


Espero que tenham gostadoooo!!!! 

Oel ngati kameieOnde histórias criam vida. Descubra agora