Oel kelkuti tok

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Com o coração na garganta, lancei-me ao mar, a ansiedade transbordante não me fez perceber que por conta da decapitação de minha cauda, o mero impulso que ela dava não me fazia ir mais rápido que os majestosos tulkuns ao meu redor, mas mesmo assim continuei me debatendo impulsionada apenas pela fagulha de esperança que fervilhava em mim, ansiando por finalmente chegar em casa, por finalmente me sentir em casa.

Enquanto lutava para avançar, seres desconhecidos passaram voando sobre mim, seguidos por figuras semelhantes aos Na'vi Omatikaya, cujos gritos ecoaram nos céus – os tulkuns, provocados pela agitação, começaram a nadar de forma desordenada ao meu redor, a diferença imensa de tamanho entre eu e os agitados tulkuns fez o pânico se apoderar de mim – em pouco tempo parecia como se tanto a água quanto o ar pudessem me asfixiar – foi quando um dos tulkuns se ergueu no ar abruptamente e caiu na água próximo a mim, o impacto da sua queda criou uma corrente que me puxou para baixo.

A sensação de ser arrastada pelas águas turbulentas foi avassaladora, eu me debatia, lutava para alcançar alguma salvação que fizesse sentido para mim, todavia a correnteza era implacável, me afastava ainda mais da segurança. A falta de ar começou a pesar sobre mim, o medo se intensificando à medida que eu lutava para manter a cordura era agonizante.

Até que a corrente parou, e mandíbulas se fecharam ao meu redor – eu estava dentro da boca de um tulkun – e apesar de agora ter consciência sobre o meu corpo e de onde eu estava isso não mudava o fato que eu tinha sido comida.

– AHHHHH!!!! – Berrei sentindo a água sair dos meus pulmões enquanto socava a boca do animal por dentro, a pele era macia, mas muito resistente, não duvidava que meus punhos em sua gengiva não passassem de cócegas para a grande baleia. – ME TIRA DAQUI! POR FAVOR! POR FAVOR! POR FAVOR!!! – Chorei me sentindo exausta emocionalmente.

Um resmungo profundo reverberou através do corpo da criatura, fazendo meu próprio corpo tremer devido a potência das ondas sonoras. Então suas mandíbulas se moveram, e a água entrou em sua boca me jogando contra a sua garganta, essa que por pouco eu não desci, mas quando a tormenta passou eu vi, atrás de uma na'vi esverdeada montada em um ilu, um Omatikaya.

– LO'AK! – Gritei nadando para fora da boca do tulkun e me jogando em sua direção.

Quando eu finalmente pude agarrar seu corpo tudo que estava guardado desmoronou, mas eu me senti bem, me senti bem com seu cheiro, com seu toque, com sua presença – mesmo nós não sendo da mesma espécie, eu sentia como se estivesse abraçando um irmão, um familiar, algo tão próximo que chegava a ser reconfortante.

Apenas quando minha cabeça emergiu da água, fui capaz de perceber o mundo ao meu redor. Lo'ak tossiu algumas vezes, esse som fez com que eu me afastasse um pouco para olhá-lo.

Lo'ak? – Perguntei, sentindo minha voz embargada pelo choro.

VoC~E TÁ VIVa! – Ele exclamou, expelindo a água dos pulmões antes de me abraçar com força, como se quisesse assegurar-se de que eu realmente estava ali.

O alívio inundou meu ser, banhando-me com uma sensação de acolhimento e pertencimento, ver a felicidade estampada no rosto de Lo'ak ao me encontrar foi reconfortante e, ao mesmo tempo, uma resposta que eu ansiava, dissipando algumas das dúvidas que ainda persistiam sobre como eles me viam, sobre meu lugar entre eles.

– Bom... – A voz doce, mas desconhecida veio de trás de mim, eu e o azulado nos afastamos para olhar a esverdeada que parecia desconcertada com a situação. – Quem é... você? – Indagou receosa.

Oel ngati kameieOnde histórias criam vida. Descubra agora