Foi só quando chegou sua vez que Anne percebeu o quanto estava tensa, o pescoço enrijecido e os músculos doloridos devido à força com a qual se agarrava ao volante, a lateral do rosto latejando em um princípio de enxaqueca. Respirou fundo, tentando se acalmar um pouco, mas era difícil com Ricardo ao seu lado lutando contra a própria vontade de abrir a janela do carona e gritar com as pessoas com os policiais e à frente deles na fila. Seu estômago se embrulhava só de pensar no que poderia acontecer se ele fizesse isso. Estar escondida debaixo da caminhonete, obrigada a testemunhar o casal sendo friamente executado de cada um dos seus lados, sem ter para onde olhar, se não para o piso escuro sob seu rosto, ainda era uma memória vívida demais. Ainda mais que, mesmo tendo conseguido desviar os olhos, não havia nada no mundo que poderia tê-la impedido de ouvir os estampidos e os gritos da mulher do sedã. Duvidava que aqueles agentes da lei fossem minimamente melhores do que os militares da noite passada, mas, de qualquer sorte, não seria ela quem arriscaria descobrir a diferença. Percebendo que só a respiração não seria o suficiente, começou um exercício mental para conter a ansiedade e o nervosismo.
A casa de Arthur ficava em uma ladeira relativamente íngreme, e a quadra comprida tinha seus limites marcados por cruzamentos em "T" na base e no topo dela. Já a área da rua onde os policiais haviam montado um perímetro era quase o dobro desse trecho, totalizando três barricadas de veículos: uma no cume do morro e as outras duas nas suas bases. Três pontos para formar entradas e saídas da zona segura, mas Verônica havia achado que era uma boa ideia usar apenas a barreira de cima, de modo que um trajeto que poderia ser feito em dois minutos a pé, levou uma eternidade de carro.
Já quase não tinha mais expectativas de conseguir sair e voltar com Felipe e a família dele. Mesmo assim, ver a barreira de veículos aberta à sua frente a encheu com uma onda de esperança renovada. Porém, cortando um pouco sua empolgação, o policial magro e com um farto bigode, que os havia chamado para a reunião com a deputada mais cedo, esticou uma mão espalmada em sua direção, obrigando-a a parar o Ônix. Anne aguardou uma mulher de cabelo castanho-claros, na mesma farda bege-acinzentada da Brigada Militar, guiar recém-chegados pela barreira de veículos, surpreendendo-se com o quão branca ela era. Impaciente, encheu de ar os pulmões, esperando os dois carros entrarem na rua. Enquanto isso acontecia, o magro fardado andou até sua janela, curvou-se ao lado do vidro, bateu nele com o nó dos dedos e esperou até a estudante o baixar.
— Sinto muito, pessoal, mas fecharemos o portão após os próximos carros saírem. Querem ir ou querem ficar?
Aquilo atiçou um desespero pungente em Anne, destruindo a falsa esperança que mal havia reconquistado.
— V-vocês estão falando sério? A gente tá há quinze minutos na fila, e agora vocês vão fechar tudo? Eu preciso passar num lugar. Fica a cinco minutos de carro daqui! A gente sai e tá de volta antes de vocês conseguirem pôr os veículos no lugar!
Ele deu de ombros.
— Regras da deputada. Nós já estamos fechando. Vocês tinham quinze minutos, e esse tempo se foi. — Ele deu dois tapinhas no teto do Ônix e se endireitou. — Vocês podem ir, mas não entrarão se voltarem. A partir de agora essas barreiras só abrem sob ordens diretas da senhorita Franco.
Antes que Anne pudesse responder, ele já estava indo em direção ao próximo carro, que buzinava como se estivesse em um engarrafamento com o pai infartando no banco do carona.
— Bah! Mas que filho da puta! — praguejou Rick.
— Não dá pra acreditar! — queixou-se a estudante, sem saber ao certo como reagir ou o que fazer. Ricardo fez menção de sair do carro para arrumar uma confusão, mas ela o segurou. — Não vale a pena, Rick. Fê e os outros ainda podem voltar por onde saíram. Podemos nos preparar para ajudar melhor a dona Irene a subir os telhados, mas eu não quero ter problemas com a polícia.
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O Cavalo Pálido na Chuva - Volume 1
Horror⚠Versão Atualizada⚠ Talvez se Anne e seus amigos soubessem o que estava por vir, não teriam escolhido passar suas últimas horas jogando RPG. Agora eles são obrigados a sobreviver à brutalidade nua e crua de uma sociedade em decadência andando a pass...