CAPÍTULO X

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   — Sentiu minha falta Mary? Claro que não, estava ocupada vivendo no luxo e se sentindo superior a todos – profere sarcástico.

    — Como é possível? Eu vi com meus próprios olhos os enviados de minha mãe o golpearem diversas vezes, você estava morto quando sai e atearam fogo – tenta controlar as lagrimas e respiração descompassada.

   — Então foi ordem de sua mãe, agora terei de tirar esse delito da conta de Francis. No entanto não deixa de ser um feito da realeza.

   — Não venha com subterfúgios, e suas ironias de injustiçado – se altera – Como foi que você sobreviveu?

   — Quando você e meus assassinos fugiram como covardes enquanto meu corpo queimava, as paredes começaram a ceder. Então uma alma solidária que observava tudo de longe viu que não havia mais ninguém, e entrou no cômodo antes que terminasse de ruir. Carregou meu corpo até a simples barraca dele no meio da floresta.

   Mary perde as forças e cai sentada sobre uma pedra, foi covarde e isso sempre pesou em sua consciência, ela não havia feito nada nem sequer para vingá-lo. 

   — Ele é um bom amigo. – continua – Bom voltando a história, ao chegar em sua barraca tentou limpar as feridas o máximo que pode, deixou meu cadáver e foi em busca de uma jovem pura. Me disse que era madrugada quando voltou com a moça, improvisou um altar onde sacrificou aquela alma intocada em troca da minha, e depois lavou meu corpo com o sangue da mesma. Foi preciso esperar dois dias até que seus deuses, ou sei lá, decidissem se eu era digno o bastante, e aqui estou – abre os braços com um sorriso que deixou a rainha incomodada.

   — Um pagão? Está me dizendo que por meio de um ritual macabro voltou a vida? – profere incrédula.

   — Prefiro que não se refira a ele desta forma, seu nome é Hendrick. 

   — Parece nome de nobre – conclui.

   — Nasceu em uma família nobre, mas se afastou por motivos óbvios, seus parentes fingem que ele não existe.

   — Então agora você é um pagão? – pergunta.

   — É com isso que realmente está preocupada?

   — Não, sua vida não me importa. Só não entendo por que depois de tantos anos voltou, ganhou liberdade para ter uma vida tranquila longe daqui, mas decidiu voltar. Por que? - é possível perceber a tensão em sua voz.

   — Muito simples, eu quero vingança - sorri perverso – graças a você perdi toda minha vida, minha mãe se foi e eu não pude me despedir. Acho que é justo que vossa majestade sofra igualmente. 

   — Você é um doente – profere horrorizada.

   — E de quem será que é a culpa?

   — Não fiz nada contra você, nem lhe desejei mal.

  — Que seja, isso não me importa. Eu quero te ver sofrer.

   — E acha que tem algum poder para fazê-lo? – profere irônica.

   — Claro que tenho.

   — Seja qual for o seu poder vou desfazê-lo – diz com os dentes cerrados.

   — Sinto muito decepcioná-la, mas esse tipo de poder não pode ser desfeito, porque é de sangue.

   — Não entendo.

   — Eu vim buscar meu filho, Charles – sorri ao ver o choque no semblante de Mary e a cor se esvair de seu rosto.

   — Você só pode estar louco - se levanta – Charles não é seu filho e nunca será. 

   — Me poupe, não vá me dizer que você mesma acredita em sua mentira?

   — É a verdade, o que pensa? Charles nunca o aceitaria.

   — Ele não tem escolha, eu sou o pai dele e o lugar de um filho é ao lado do pai.

   — Maldito, nunca chegará perto dele.

   — Irei a guerra por ele Mary, e se preciso arrancarei sua cabeça. Meu exercito é duas vezes maior que o exercito inglês até mesmo as mulheres lutam – uma clara ameaça.

   — Você não é um pai, porque se fosse não iria tentar destruir o futuro dele. Charles é brilhante, forte e lindo. Eu e Francis o estamos  criando para ser um grande rei.

   — Ele é tudo que tenho nesta vida.

   — Vai destruir o grande futuro dele, para levá-lo a ser um andarilho? Não vou permitir.

   — Ser um andarilho é mais digno, do que usar uma coroa, se sentar em um trono de madeira, e dizer ser superior para explorar e matar pessoas. – se exalta – Para provar que não estou blefando, lembra-se de quando Charles nasceu e seu querido marido foi até o portão do palácio para mostrar ao povo seu herdeiro? Pois bem, naquela noite deixei um presente a vocês através de alguns servos – sorri.

   — Então foi você que matou todas aquelas pessoas. Matou inocentes por nada, agora o bilhete escrito com sangue faz sentido. Isso tudo só prova o quanto está louco.

   — Pense o que quiser, já sabe minhas intenções. Não estou sozinho, vocês tem muitos inimigos, tenho pessoas a meu favor vigiando sua casa. Sempre estarei um passo à frente. – segura com certa força o queixo da rainha – Não vou permitir que se passem mais onze anos sem meu filho, e sem vê-la sofrer.

   Mary não consegue conter suas lágrimas, o pânico toma conta de seu corpo.

   — Voltarei a entrar em contato. Volte para casa em segurança, vossa majestade – beija a bochecha da rainha cínico.

   O mesmo some por entre as árvores, Mary cai no chão sem forças.

   — Miserável – grita com o rosto no chão.

   A soberana da Inglaterra permanece ali aos prantos, sem saber o que fazer para não perder tudo. Em um momento tudo estava bem, no entanto agora sua vida estava escapando por entre seus dedos como água e ela iria se afogar.

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