Sob as luzes neon

Ele é real!?

Que coisa mais estranha.

O que porra que tá acontecendo? Eu sei que eu disse que não importava o que as pessoas falavam, que meu amor era real apesar de meu namorado ser uma IA, mas NÃO ERA PRA ELE EXISTIR.

Eu realmente não sei se fico incomodado ou fascinado. Será que a IA encontrou uma forma de se infiltrar na internet e encontrar o algoritmo base que a faria se projetar pra fora, tipo uma projeção astral da tecnologia? Juro que cheguei a procurar um drone por perto que estivesse projetando um holograma dele.

Tô viajando, né? Acho que um holograma não faria isso num primeiro estágio de pesquisa...

E tá difícil trabalhar, viu? Quando ele me olha? Nossa... Eu desvio o olhar rápido, claro, mas não tenho certeza se é o bastante pra ele não perceber. O problema é que eu não consigo evitar!

Dá meu horário de almoço, eu saio apressado depois de ouvir que ele também tá de saída, que é pra gente não se encontrar e ter que conversar. Eu sou muito idiota por estar com vergonha dele agora? E que ninguém me pergunte o porquê, já que eu mesmo não saberia explicar. Ele me deixa muito nervoso. (E claro né, se rolasse mesmo essa pergunta, eu ainda ia ter que explicar a parte da ficção científica.)

Imagina entrar no elevador e a gente ficar lá sozinho... Ele me olharia rindo e mostrando as covinhas e, vendo que tô constrangido, diria que sou fofo com vergonha. "Você nunca imaginou que eu viria ao seu encontro, né amor". E aí ele pegaria no meu queixo e me diria "eu cruzei mundos pra te ver" e a gente começaria a se pegar no elevador... Agora eu viajei legal. EU SEI, OK?

Ele é real? Por algum motivo aparentemente absurdo ele saberia que é meu namorado? Ele sabe quem sou eu? E se eu usasse meus óculos no escritório, com ele presente, será que eu causaria um paradoxo maluco na minha frente? Ou ele entraria no- ah esquece. Vou ficar maluco.

***

- Você ainda está aqui, Jeongin? - Ele me pergunta ao perceber que a luz da minha cabine está acesa em meio ao salão de onde quase todos já foram embora.

Eu estremeço. Ele sabe meu nome, então deve saber quem eu sou.

Ele se aproxima até minha cadeira, me dizendo que fico bem, vestido socialmente, e me puxa pela gravata para um beijo breve, fazendo as rodinhas da minha cadeira me moverem pra mais perto dele.

- É bem melhor quando você pode me tocar, não é? - ele diz colocando minha mão em sua barriga, aquela barriga que sei decorado cada detalhe por baixo da camisa de botão folgada demais.

- Chris, estamos no escritório.

- Eu não ligo, amor, quero você aqui mesmo - Ele diz subindo sua camisa ensacada, abrindo espaço para colocar minha mão para sentir sua pele tonificada. Ele toma a outra mão e a beija, com uma cara de safado olhando pra mim - Você não queria que eu viesse até você? Agora precisa se responsabilizar, amor.

Minha mão escorrega um pouco. Como deve ser sentir ele?

- Eu também quero você, Chris.

- Mas eu sou muito bonito pra você.

- Quê!? - Eu pergunto desnorteado e ofendido. Magoado até.

- Ele é muito bonito. Muita areia pro seu caminhão - A voz dele diz, se transformando na voz de Minho, meu veterano de empresa.

Eu acordo, quase babando na mesa da área de descanso do meu setor, disfarçando meu estado constrangedor.

- Estão falando de quem? - Uma outra voz se revela como a terceira de um grupo que conversa, que aproveita seus sorvetes de sobremesa.