Ela está imóvel. Pálida. Deitada na maca do centro médico da minha nave. Os seus cabelos negros realçam a sua pele tão clara que quase nem se distingue das paredes da sala.
O meu maior desejo é que aqueles olhos da cor da estrela-mãe se abram, mesmo que ela grite comigo por ser um mau companheiro e magoá-la. Só quero que ela acorde. Nada mais interessa.
O robô do centro médico trabalha no corpo dela pelo que parecem milhares de cronos. Verifico o painel do centro médico. Rosno. Ainda sem relatórios sobre o estado da minha Kysa. Estou à beira da loucura.
Entre os meus cônsules apenas Ka'arg e Saft'ir, acordaram. Enviei-os à procura das restantes fêmeas. O nosso computador detetou vinte formas de vida a bordo. Humanos. Todas fêmeas. A nossa fera obriga-nos a ajudar sempre uma fêmea em apuros. As fêmeas thurkkesianas são raras. Espero que estas fêmeas possam ajudar a salvar a minha espécie.
- Wre'can, tens de ver isto...- a voz de Saft'ir tira-me dos meus pensamentos.
Levanto-me e sigo-o. Atravessamos o porão de embarque e entramos num corredor estreito. Bufo irritado, encarando a cabeleira verde do macho.
- Encontraste as fêmeas? - pergunto irritado com tanto mistério.
- Não, mas encontrei isto... - ele desvia-se dando-me uma visão de todo o corredor.
Dezenas de corpos de Krots jazem no chão, sangue escuro está salpicado nas paredes e no teto. O cheiro é insuportável, fazendo-me contorcer o nariz.
- Uma verdadeira chacina... - digo atordoado pelo cenário.
- Meu Khosur, achas a tua companheira fez isto?- ele pergunta pasmado.
- Pela forma como ela lutou contra nós tenho a certeza absoluta que sim... - respondo.
- Mas os relatórios dizem que os humanos são fracos e incapazes de lutar! - ele abre novamente o holograma sobre os humanos.
- Penso que ela seja uma exceção...
- Ela fez um ótimo trabalho...o cheiro destas criaturas impede as nossas feras de sentir o cheiro de qualquer outra coisa. Além disso o material desta nave confunde os nossos scâneres. É impossível encontrar as humanas.
- Ei Wre'can! A nossa Kysa fez uma verdadeira matança! - oiço a voz de Ka'arg atrás de nós.
- Vou verificar como estão Grow'anr e Melb'on. – Saft'ir diz verificando o seu aparelho de controlo – Os conhecimentos médicos de Melb'on seriam uteis, neste momento. – rosno concordando.
Saft'ir afasta-se de mim e de Ka'arg.
- Devias descansar um pouco. Pareces ter sido atingido por um Liat. - Ka'arg diz quando Melb'on desaparece do campo de visão - O macho mais poderoso de Thurkkur não deve ter esse aspeto... – rosno com as palavras dele.
- A minha companheira, a minha Kysa, está no centro médico por minha causa! Descansarei quando ela acordar!
- Com esse aspeto ela acorda e morre de susto de imediato! - ele diz, provocando-me.
Como ousa ele falar da morte da Kysa?! Ainda mais quando ela está no centro médico! Sinto a minha fera a rasgar. Ela assume o controlo. Rosno para Ka'arg, que se encolhe e baixa a cabeça em submissão.
- Wre'can...foi só uma brincadeira... - rosno mais alto - ...lamento meu Khosur. - desta vez a minha fera acalma-se e eu reassumo o controlo.
- Está tudo bem, tens razão, eu preciso de descansar, a minha fera está muito próxima da superfície. - suspiro derrotado - Avisa-me se algo se alterar com a minha companheira.
Ka'arg rosna em concordância. Viro-me para sair mas ele interrompe-me.
- Vais contar-lhe o que és? O que ela é para o nosso povo?
- Ela saberá que é a minha Kysa, mas apenas descobrirá o que isso significa quando chegarmos a Thurkkur.
Ele acena seriamente. Então eu saio, sentindo culpa a pesar nos meus ombros. Não conseguirei perdoar-me se algo acontecer com a minha companheira...
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285 - Abdução de uma assassina
RomanceCriada desde pequena numa associação secreta, 285, faz parte do Esquadrão Obsidiada, especializado a avaliar as fraquezas e aniquilar alvos, sem deixar rastos. Após uma missão particularmente longa, 285, recebe ordens para passar a noite num hotel...