Sem guarda-chuva

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— O que você acha que pode ser?

Riki ficou martelando o ocorrido com Sunoo e Jungwon, sentindo que poderia enlouquecer se não descobrisse o que eles escondiam, porque, seja lá o que fosse, envolvia seu nome e isso o preocupava, mesmo que não se lembrasse de ter feito algo ruim ou digno de uma fofoca.

Para evitar ficar realmente maluco, escolheu conversar sobre isso com Haku, que estava tão confuso quanto ele. 

— É o que você vai descobrir. — o canto de seus lábios se estica, formando um sorrisinho — Talvez seja por causa desse tal segredo que Sunoo te trate mal.

— Eu não faço ideia do que ele não pode me contar.

— Será que se você se aproximar dele, ele te conta?

Haku sugere sem olhar para a tela, estando mais ocupado com algo fora do alcance da câmera, que nem notou a expressão de Riki relaxar, e o mesmo se recusou a acreditar que, por um breve instante, pensou que essa era uma boa ideia.

— Você só pode estar brincando.

A entonação de Riki faz Haku finalmente olhar para a tela com um semblante que transpassava dúvida, e a primeira reação do mais novo é rir em descrença, passando a língua pelo interior da bochecha.

— Shota, eu não aguento o Sunoo.

— Sabe que odeio quando me chama assim. — suas sobrancelhas abaixam e ele se ajeita na cadeira — Não estou dizendo para virarem amigos, apenas conquiste a confiança dele.

— E como diabos eu farei isso?

O de cabelo vermelho do outro lado da tela apenas dá de ombros e volta a se ocupar com aquilo que suas mãos estavam revirando.

Riki suspira e descruza as pernas doloridas para esticá-las o quanto pode, trazendo o computador para seu colo e inclinando o corpo para trás até sentir as costas na cabeceira da cama.

— Shotaro continua ocupado, não é?

Sentia-se, de certa forma, culpado por sempre fazer chamadas de vídeo apenas com Haku, embora não fosse sua responsabilidade Shotaro estar tão atarefado nos últimos dias que mal tinha tempo para si. Ofereceria ajuda caso estivessem próximos, ainda que soubesse que ele não aceitaria ajuda e esse era seu pecado: recusar apoio mesmo quando necessita dele.

Chegava a ser um pouco deprimente ver que Shotaro ignorava sua dor para carregar a dos outros e curá-las como se fosse seu dever, independente de quantas vezes Haku e Riki o dissessem que isso não é saudável.

Antes de bom amigo, Shotaro era uma boa pessoa que não deveria se sobrecarregar demais com coisas que ultrapassam sua capacidade, e ele fazia falta.

— Também sinto saudade dele. — Haku respira fundo e inclina a cabeça para o lado, sem levantar o olhar para a câmera.

De repente, o clima se tornou melancólico e Riki sentiu que foi o responsável, sendo que sua intenção não era essa. Estava difícil viver todos os dias carregando uma série de culpas desnecessárias.

Os silêncios entre eles costumavam ser confortáveis, não sentiam que precisavam mencionar algo para criar uma atmosfera agradável, apenas aproveitavam a companhia um do outro — mesmo que naquele momento fosse através de uma tela — mas aquele silêncio foi desconsertante e fez Riki perceber que devia encerrar a ligação.

— Tchau, Haku. — sua voz soa tão baixa que chega a falhar.

E então, ele desliga a chamada e abaixa a tela do computador, o colocando ao seu lado antes de relaxar o corpo inteiro. Desejou que pudesse fazer o mesmo com a mente de uma maneira simplificada, como se bastasse um estalar de dedos para eliminar todas aquelas preocupações.

com amor, sem dor • sunkiOnde histórias criam vida. Descubra agora