Sem dor

811 90 159
                                    

— Seria legal se Sunoo tivesse vindo junto.

Riki havia finalmente reencontrado Shotaro e Haku, pois bastou apenas uma pequena conversa com seu pai e (algumas nuances de apelo) para ele arrumar um tempo para viajar de volta ao Japão com a família e comemorarem o natal.

— Só se ele viesse no porta-malas ou amarrado no teto do carro, né? — Haku contraria Shotaro e ri de si mesmo.

Era uma pena que Sunoo não pudesse ter ido por diversos fatores, mas seria divertido fazê-lo conhecer os melhores amigos de Riki. Tê-los no mesmo ambiente seria como uma fonte de renovação para sua alma.

Já faziam, aproximadamente, três meses que Sunoo e Riki estavam tendo um quase algo às escondidas, evitando ao máximo que isso chegasse ao conhecimento da mãe do mais velho, e estavam tendo sucesso nessa missão com a ajuda de Jungwon.

Ainda era complicado ter uma espécie de relacionamento secreto, onde eles apenas trocavam carícias e alguns beijos aqui e ali, às vezes onde costumavam passar os intervalos, na minúscula sala do zelador, dentro de uma cabine do banheiro, chegavam até a fugir da escola para terem mais privacidade na casa do japonês, por mais que Sunoo se distraísse com Bisco e deixasse Nishimura de lado.

 Riki se sentia estúpido por não ter coragem de fazer a pergunta decisiva a Sunoo. Há algum tempo que ele vinha ponderando pedi-lo em namoro, mas não juntava coragem suficiente, além de querer que fosse algo tão especial quanto o Kim, pois ele merecia.

— Quem sabe no próximo ano, não é? — Nishimura coça a nuca, imaginando como seria decorar um pinheiro natalino com o Kim.

— Senti falta da comida da tia. — Haku abre o botão da calça e amolece o corpo na cadeira.

Tanto ele quanto Shotaro estavam zonzos de tanto se empanturrar com tudo que preenchia a extensa mesa, parecendo que não tinham uma refeição há pelo menos três dias, o que preocupou um pouco a mãe de Riki. Sequer esperaram até meia-noite, porque às 21h o estômago de Sola começou a roncar e ela insistiu que adiantassem o jantar.

Riki vestia um suéter verde com listras vermelhas e uma pequena rena bordada ao centro, feito por sua mãe no ano passado. Ela também fez outros dois suéteres para Konon e Sola, assim, seus filhos comemorariam o feriado natalino com vestes semelhantes.

Porém, Konon vestiu pela primeira vez uma roupa que comprara recentemente e fez sua melhor maquiagem para passar metade da noite sentada no sofá, se concentrando na tela do celular e tirando algumas fotos.

Haku precisa do auxílio de Shotaro e Riki para ser levado até o quarto, pois sentia que sua barriga iria explodir após tanto enchê-la e resmungou a cada passo, jurando para si que nunca mais repetiria esse ato — alerta de spoiler: ele não cumpriu o juramento.

Ele deitou na cama e suspirou enquanto encarava o teto, Shotaro sentou ao lado de suas pernas e Riki sentou na cadeira de rodinhas que se familiarizava pelas chamadas de vídeo que fazia com Haku, onde ela estava sempre presente cobrindo os desenhos de alienígenas na parede logo atrás.

Um silêncio confortável se hospedou entre eles e Riki não foi capaz de descrever o quanto sentiu falta de apenas existir ao lado de seus amigos, sem precisar proferir alguma palavra, até porque já tinham conhecimento da vida inteira um do outro e sempre que algo novo ocorria, revelavam no mesmo instante.

As coisas corriam bem e Riki se sentia verdadeiramente satisfeito com o rumo que sua vida estava tomando, embora não fosse exatamente como planejava algum tempo atrás, quando ainda morava no Japão e Haku criou o "Plano ShotaOsaNishi."

Ainda morava na Coreia e estava no Japão apenas de passagem? Sim. Ainda era um adolescente ansioso? Sim. Ainda possuía um relacionamento secreto onde era frouxo demais para pedir o garoto em namoro? Sim. Mas não havia dor em nada disso, e poderia se sentir grato por ainda ter uma maneira de escapar de todas as desvantagens.

com amor, sem dor • sunkiOnde histórias criam vida. Descubra agora