com amor, sem dor • sunki

Sem desistir

— Era só isso?

Riki relatou o ocorrido com Sunoo e a tão aguardada revelação pelo tal segredo, mas Haku acabou se decepcionando tanto quanto ele após criar expectativas altas.

— Pensei que seria mais grave. — Shotaro se ajeita na cadeira.

Mesmo precisando resumir ao máximo os últimos acontecimentos que Shotaro perdeu, era bom tê-lo ali e Riki não poderia estar mais feliz em matar a saudade que sentia dele, por mais que estivessem separados, obrigados a se verem por uma tela de computador.

— Até entendo o lado dele. — Shotaro continua — Ele acha que a melhor solução é se isolar porque se considera um peso, talvez, e que pode não estar mais aqui em algum momento, então acha que será inútil criar memórias, até porque não passarão disso: memórias.

Haku e Riki ouvem atentamente as palavras precisas do mais velho sem contestar porque ele sempre sabia a coisa certa a se dizer, nunca fracassando em ajudar as pessoas a encontrar uma solução conveniente para suas dificuldades.

Eles não estavam na pele de Riki, vivenciando tudo aquilo de perto, sentindo exatamente o que ele sentia, porque situação de Sunoo era lamentável e o Nishimura queria encontrar algo que pudesse ajudá-lo, por mais minúsculo que fosse, se mudasse algo, já consideraria ótimo.

Não era obrigação de Shotaro comentar sobre a situação e encontrar conselhos úteis, ainda mais considerando sua vida agitada nos últimos dias, mas, mesmo assim, ele se dispôs a ajudar.

— Claro que tudo vira memórias. O que acabei de falar virou uma memória, porque ficou no passado, mas quero dizer que... — ele pensa um pouco antes de prosseguir — Sunoo se sente culpado por alimentar as expectativas das outras pessoas, consegue compreender?

Riki tenta acompanhar seu raciocínio e balança a cabeça para demonstrar isso, enquanto Haku permanece calado, sem opinar sobre o assunto.

Era relativamente interessante como eles poderiam seguir caminhos diferentes do que planejavam desde que iniciaram uma amizade. Se não fosse dançarino, Riki poderia considerar uma carreira como ator, talvez um estudante de moda ou de música.

Se não fosse dançarino, Shotaro, com certeza, poderia se tornar um grande psicólogo. Porque mesmo não sabendo disso, Shotaro já salvava duas vidas sem esforços.

Já Haku nasceu para estar nos palcos e revelar todas as matizes de seu talento na dança, surpreendendo todos com seu absurdo controle corporal. Não conseguiam imaginá-lo fazendo outra coisa a não ser isso.

— Mas isso tudo não justifica o tratamento que ele te ofereceu e vocês precisam conversar sobre isso quando as coisas se resolverem. — Shotaro conclui.

O silêncio se hospeda naquela chamada de vídeo onde os três japoneses não decidem se querem olhar para a câmera ou para qualquer outro canto, um pouco incomodados com a maneira que o clima pesou de repente.

Riki queria entender o lado de Sunoo e sua urgência em manter outras pessoas longe, mas não deixava de lamentar que foi praticamente humilhado após todo o esforço em criar uma amizade, embora sua intenção não fosse continuar com aquilo depois de descobrir o segredo.

— Ei, Nishi. — sua atenção foi tomada pelo apelido pelo qual não era chamado há um tempo — Você vem nos visitar no natal, não vem?

Ele gostaria de poder dar uma resposta concreta e afirmar com muita certeza que os veria daqui a uns meses para comemorarem juntos aquele feriado.

— Vou tentar, Saki.

É o que ele responde com um pequeno sorriso, mas suas sobrancelhas baixas denunciavam sua tristeza e Shotaro percebeu isso, apenas não refutou.