Desde a noite de natal em que Riki recebeu a notícia de que Sunoo havia falecido, ele não sorriu mais, nem comeu, tampouco bebeu água. Sem nenhum apelo, seu refúgio foi tomado e ele se via completamente perdido sem poder ver o sorriso de Sunoo, ou ouvi-lo cantarolar a música do comercial de lasanha que Jungwon não suportava, ou sentir os beijos delicados dele em suas bochechas, o fazendo rir.
Era estranho não tê-lo por perto falando sobre seus livros de romance e implorando aos céus para torná-lo um grande escritor quando fosse mais velho para que ele pudesse se livrar um pouco de sua mãe, respirar longe dela e fazer tudo que tinha vontade. Era estranho não acariciar aquele cabelo rosa e sentir o perfume adocicado, nem encontrá-lo naquela sala para saírem escondidos pelo buraco da parede.
Para completar a desgraça, estava longe de seus amigos outra vez e se despedir deles novamente foi algo que dilacerou tudo que restava dentro dele, se é que restava algo. Não queria mais sair do abraço de Haku e Shotaro, queria passar o resto dos dias ali para não precisar voltar para a Coreia e olhar nos olhos de Jungwon enquanto ele noticiava detalhadamente a tragédia.
Desde que voltou para a Coreia, o céu não abdicou do tom cinzento, parecia que lamentava a perda de Sunoo e ameaçava chorar tempestades impiedosas. O clima nunca esteve tão terrível. Riki se sentia sufocado naquele lugar onde tudo lhe remetia ao Kim, cada mínimo detalhe que poderia parecer medíocre possuía uma incrível história para ele.
Era ridículo o quanto ele estava abalado até mesmo para levantar da cama, como se seu corpo estivesse aprisionado ali para ser devorado pela dor perpétua. Caminhar também era difícil, parecia que seus pés estavam amarrados em dois sacos de cimento, o impossibilitando de encontrar Jungwon e obter uma explicação sobre tudo aquilo.
Eram coisas demais para um adolescente ansioso lidar e Riki não sabia se conseguiria escapar de tudo isso, não compreendia como sua vida teve uma reviravolta tão grande em tão pouco tempo. O silêncio letal em sua casa não o consolava nem o aterrorizava, apenas o lembrava de que, agora, era apenas uma carcaça vazia, um corpo dispensável. A casa ficou muda, mas os olhares de suas irmãs e sua mãe diziam muita coisa.
Com muito esforço, Riki atravessou a sala se sentindo um espectador invisível, o que o levou a não se preocupar com o cabelo preto desarrumado e as bolsas escuras abaixo dos olhos expondo suas más noites de sono. Passava a madrugada inteira acordado porque tinha medo de sonhar com Sunoo. Se odiaria quando acordasse e percebesse que nada era real, que ele não estava mais ali, que perdeu a chance de dizer mais vezes o quanto gostava dele.
Arrastou-se cabisbaixo pelas ruas quase vazias até identificar o rosto de Jungwon, com o cabelo desbotado para combinar com seus olhos e nariz vermelhos de tanto chorar. Ele parecia irreconhecível quando não estava com um sorriso no rosto que ajudava a realçar suas covinhas, seu maior charme.
Assim que o japonês se aproximou, Yang começou a guiá-lo até o parque e ambos se sentaram em um banco de madeira sob uma árvore e nada foi dito por um longo tempo. O vento forte carregando as folhas caídas ajudava na dramatização do clima, Riki não imaginou que viveria algo assim, não queria encarar o rosto de Jungwon novamente e ver nele um pouco de Sunoo, não queria sair do mundo imaginário que sua mente elabora quando ele ouve música.
— Eu devia ter sido mais cuidadoso. — Jungwon finalmente se manifesta — É minha culpa ele não estar mais aqui agora.
Riki permanece como está, em total silêncio e sem sequer mover os olhos, aguardando pela continuação.
— Estávamos andando pela calçada e ouvimos um barulho alto. — ele funga entre algumas palavras — Barulho de tiro.
Pela visão periférica, é possível perceber que Jungwon cobre os olhos com a mão e a arrasta até a boca, tentando ao máximo não se render ao choro de novo.
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com amor, sem dor • sunki
FanfictionRiki queria, a qualquer custo, descobrir qual era o segredo que Sunoo escondia.