CHRISTIAN
Mesmo se tratando de sangue humano, esse cheiro sempre me traz de volta para a floresta.
Costumávamos caçar de tudo, meu pai e eu. Codornas, faisões,cervos e alces. Mas os meus favoritos eram os patos. Eles apareciam em milhares de cores vívidas: marrom da cor da terra,um azul da cor de ovo de Robin, âmbar claro, todas salpicadas e listradas. Eles eram suntuosos como reis.O mais bonito de todos
era o merganso-grande de tom esmeralda,estoico e silencioso, cruzando retas em torno do lago e praticamente reluzente em meio ao orvalhado e lúgubre céu escocês.Patos davam bons troféus, meu pai sempre dizia – e cada centímetro deles pode ser útil se você for esperto o suficiente e não tiver medo de sujar suas mãos. Ele tinha uma receita de pato assado ao molho de cevada que vinha de gerações. Só de pensar na vovó jogando o caldo por cima na janela da cozinha americana da velha cabana, já me dava água na boca.
"Christian", Jack disse, passando uma mão pelo seu queixo com barba por fazer. Sua voz me puxava de volta para a realidade – de volta ao cheiro forte de sangue e o sabor de medo no ar. "Você tá perdendo ele, cara."
Eu aceno, examinando o garoto. Ele é magro – quase esquelético – com olhos fundos e cotovelos machucados na parte interna. Temos recebido muito essas crianças por aqui. Na maioria dos verões, na verdade. Mas esses aqui trazem o sofrimento de volta assim que a temporada acaba, e os turistas vão embora. Eles não têm onde se esconder, esses vagabundos. E em cada canto que você faz uma vistoria – lugares vazios, cabanas abandonadas na floresta ou quartos de longa permanência em hotéis distantes –eles saem correndo e se espalhando igual baratas.
"Acorda, garoto", eu disse, lhe dando alguns tapinhas leves na bochecha. Ele pisca, atordoado, como se estivesse tão drogado quanto estava quando nós o trouxemos para cá duas horas
atrás. "Já cansou?"O garoto balança a cabeça, inseguro e cauteloso. Na primeira hora pegamos leve com ele; na segunda, eu já estava impaciente. Agora eu só tô entediado. Este tipo de sacudida,retirada, costumava deixar minhas veias em fogo como se fossem fusíveis. Ficava inebriado com o poder, com a dor de juntas quebradas e com a doce liberação da vitória.
Mas agora me sinto velho, os ossos que o digam, e essas crianças não são exatamente os velhos rivais e chefões que eu costumava enfrentar. Estou nisso há muito tempo, talvez quase vinte
anos, e não sou mais uma criança. Minha paciência, meu interesse,minha sede –não são mais o que costumavam ser."Olha. Eu tenho o que fazer", digo ao garoto, estendendo a mão para pegar um pano. Jack compele, e eu começo a enxugar sangue parcialmente seco das minhas mãos e braços. O queixo do garoto balança. O sangue formava crostas em ambas as narinas e, com o lábio inferior inchado, metade do que ele diz é
ininteligível. "Então, vou te dar duas coisas: um lembrete e uma última chance."Os olhos do garoto vão para Jack por cima do meu ombro. Se ele acha que outra pessoa vai pegar mais leve com ele, então ele é mais estúpido do que parece – e isso significa muito.
"Primeiro, um lembrete." De pé, joguei o pano para longe no escritório mal iluminado. Ele bate na pia, junto de outra meia dúzia deles – foi uma semana agitada. "Quando eu era um homem mais... fácil de entreter, eu arrancava dedos e orelhas de ladrões. Você sabia disso?"
Seus ombros estreitos começam a tremer. Freneticamente, ele balança a cabeça, batendo a franja oleosa.
"Bem, agora você sabe. E a segunda, a última chance, porque sou um homem de palavra: quem te mandou?"
"N-ninguém, eu juro", ele engasga, o suor escorrendo pelo nariz. "Nós só queríamos dinheiro rápido. Ouvimos falar que a cidade estava lotada de turistas, sabe? Os ingleses, os ricos, todos vindo de férias, seriam roubos fáceis..."
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Possessão
FanfictionChristian Poder. É um vício. Do tipo que surge de forma tão natural quanto o oxigênio. Entre ele e as pernas de uma bela dama em volta do meu pescoço, Eu não sei qual me deixaria mais duro. Não faz parte da minha reputação me "aquietar", Mas foda-s...